segunda-feira, 30 de junho de 2008

O CALOR...

Quando chega o Verão acontece-me sempre o mesmo, a felicidade em que o tempo quente me envolve, essa tal felicidade que não se traduz unicamente pela escrita, costumo até dizer que a felicidade é um estado de alma intraduzível e nada significante, o que não quer dizer insignificante... mas essa treta de sermos felizes com lágrimas ou declarações formais de amor é demasiado complexa e acaba sempre com umas lágrimas, como nas novelas.
Na verdade o calor é a quase exclusiva fonte da felicidade, traduzida por perspectivas apaixonadas, lúdicas e às vezes pouco lúcidas, leves como a roupa que transportamos, qual termómetro de gestos, jeitos, cheiros, gostos e superlativas relações, onde o facto de sonharmos em cada dia novas viagens nos transporta no vento que inventamos, qual beija-flôr em liberdade... é, o calor é o grande culpado, porque o sentimento de culpa de inspiração judaico-cristã que nos acompanha desde que o Adão foi julgado na Boa-Hora, ainda não foi apagado de vez da enciclopédia do nosso condicionamento.
E o calor é apenas o motivo, o rastilho de tudo o que de bom nos propomos realizar neste tempo quente em que desejamos, construímos e de algum modo reclamamos pelo tempo em que o frio nos impediu de ser quem somos.
A praia, a água morninha do Atlântico, de Fortaleza a Porto Seguro, com passagem pelos Açores, Canárias e alguns dias de Algarve, fazendo esquecer os arrepiantes mergulhos da Foz do Arelho, Nazaré ou S. Pedro de Muel são a justa compensação para disfrutarmos deste calor que adoramos, complementada com uns passeios na praia, uns jornais, uma cadeira de praia que não dispenso e mulheres bonitas que não tenho problemas em apreciar sempre, porque se não fosse para olhar, nem elas ousavam biquínis tão pequenos… muito embora, com este tempo de crise onde há necessidade de comer cada vez menos, e de moda, se privilegiem os corpos atléticos e delgados quanto baste, o que se não é o arquétipo idealizado pela totalidade, é felizmente o objectivo da maioria deles e delas. Na verdade aquela fase das mulheres gordas que Fernando Botero pintava no início do século XIX e que posteriormente deu origem ao ultrapassado ditado "gordura é formosura" foi chão que deu uvas.
É o calor que nos ilumina, disso não tenho dúvidas e dentre todas as linhas que nos prendem ao futuro é a perspectiva de usufruir de novos tempos quentes que abrevia o tempo frio que temos de passar em cada ano. Acho que o que nos liga à vida e à paixão que é viver, é quase exclusivamente o calor que a cada ano que passa nos vai encontrando de Junho a Setembro.
Outra das necessidades que o Verão nos provoca é também a necessidade das saladas, dos sumos dietéticos, do ginásio, por forma a conseguirmos entrar nos tamanhos que usámos no ano anterior, para além claro, da necessidade de mostrar a amigos e conhecidos que os 50 anos nunca nos meteram medo, embora eu ache que a idade nunca meteu medo a ninguém e continuamos a confundir idade com 15 ou 20 quilos de massa gorda em excesso.
No final da época de praia, depois de uns fins de tarde cheiinhos de espetadas, febras grelhadas, camarão cozido e muita cerveja, voltaremos a prometer um ano de sacrifício no ginásio para ficarmos de bem com a nossa consciência e darmos à cara-metade a ilusão de que no próximo Verão estaremos bem melhores que os vizinhos.

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