quinta-feira, 31 de maio de 2007

PENA SUSPENSA VERSUS ETERNA PENA!

O tribunal (escrevo em minúsculas, se não se importam) de Leiria condenou um jovem de 22 anos (com uma boa idade para ter juízo), por homicídio negligente. Ainda tenho de saber o que isso quer dizer aos pais do jovem que morreu...
- "E a pena é... 3 anos de prisão, com pena suspensa por 4 anos!"
Estou a ver Júlia Pinheiro com aquela voz esganiçada a gritar a pena deste jovem, a porta de entrada do estúdio a abrir-se e aqueles fumos fresquinhos a envolverem a "estrela" do programa "Mate agora e dê autógrafos depois!"
- Então como é que foi, pode contar-nos em pormenor?
- Olhe, tinha estado na discoteca com uns amigos e às tantas meti-me no carro e comecei a abrir, aquilo era uma recta espectacular e devo ter chegado aos 180... entretanto, vejo dois vultos a aproximarem-se da faixa de rodagem, pensei até que vinham para me assaltar, está a ver... dei um toque num e raspei no outro, pensei que não fosse nada, mas ía para parar, só que quando acabei de travar já estava aí a uns 400 metros do local do acidente... olhei para trás e vi um deles a esbracejar e o outro deitado, pensei que estivessem a discutir e achei melhor não me envolver na discussão...
- Mas parece que você ainda acusou álcool umas horas depois quando se apresentou no posto da polícia...
- Pois foi, mas não tem nada a ver... eu cheguei a casa e com a preocupação mandei uma garrafa de wisky abaixo, mais uns conhaques e só depois é que me apresentei no posto. Quando dei o toque no rapaz, parece que tinha 17 anos, quando dei o toque estava bem... eu só bebi água no bar, antes do acidente. Houve até um amigo que estranhou eu só beber água mineral, mas eu disse-lhe que ia conduzir e ao volante temos de ter o máximo de cuidado.
- Parece que o tribunal obrigou a companhia a pagar 180.000 euros às famílias das vítimas, mas parece que quando há alcool a mais no condutor, as companhias não pagam...
- Oh D. Júlia, se o tribunal mandou a companhia pagar, não tenho mais nada a dizer. Além disso eu só bebi depois do acidente... até tenho a garrafa de wisky vazia lá em casa para demonstrar que foi lá que eu bebi.
- Então e agora, o que é que pensa fazer?
- Agora vou ter algumas dificuldades, vou ter de ir para as discotecas a pé nos próximos 4 anos, mas depois disso tenho o cadastro limpo e posso voltar a conduzir. Eu depois aviso, porque é bom avisar toda a gente lá da terra, porque à noite, especialmente aos fins de semana, a malta acelera um pouco mais e se os peões não forem avisados, pode acontecer mais um toque e lá fico eu mais 4 anos sem poder acelerar...
- O nosso programa seleccionou-o de entre os arguidos que conseguiram matar e ficaram cá fora com pouca pena, ou melhor, com uma pena pequena, e tinhamos vários concorrentes de peso:
1 - o pai que bateu no filho que não queria ir à escola. Não foi preso, mas teve de pagar 1.300 euros. Você não pagou nada! (muitas palmas da assistência);
2 - o pai que deu 501 euros ao filho e que não foi preso, mas tem de pagar 10%. Você não pagou nada! (mais palmas da assistência);
3 - o "ganda nóia" que era presidente da universidade atlântica, que recebeu 12.000 euros de senhas de presença, em acumulação com um cargo bem pago no governo (isto foi em 2002, mas os tribunais também funcionam devagarinho). Não foi preso, mas como ainda não matou ninguém, não se compara consigo.
O estúdio irrompe em aplausos, confetis e fumos fresquinhos...
- Obrigado, obrigado, afinal eu não fiz nada de especial, acho que não merecia tanto...
- Também acho, 3 anos com 4 de pena suspensa é demais. Estes tribunais não sabem o que andam a fazer.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

VIAGENS



Num tempo rigorosamente vigiado
em qualquer palmo de terra trabalhada,
iniciámos o ritual da nossa estada
neste campeonato de enormes desafios
e fomos navegando em muitos rios,
dando vida ao futuro conquistado.

Encontrados em pontos tão distintos,
no meio da multidão ou face a face,
procurando a razão deste disfarce,
achámos o momento definido
de estar até de bem comigo
e espalhar por aí os meus instintos

Ultrapassar o valor base da palavra
é condição de me sentir feliz,
imaginar escrever tudo o que quis
e dar a conhecer o que cá dentro
estava adormecido e, num momento,
saiu em cada folha, de enxurrada.

terça-feira, 29 de maio de 2007

COM QUE ENTÃO 500 EUROS...

- Bom dia!
- Hgjdgs khfhgxzxzx (cumprimento imperceptível do funcionário)...
- Sabe, eu ouvi as notícias do telejornal e vim cá para preencher uma declaração de donativo ao meu filho... dei-lhe 500 euros...
- Então preencha este modelo, juntamente com as fotocópias dos recibos dos 10 últimos vencimentos e a declaração do IRS... a sua e a dele.
- Obrigado, é que o rapaz deu-me uma ajuda enorme, sabe... foi de tal ordem que até decidi devolver o rendimento mínimo garantido que estava a receber...
No dia seguinte, o nosso amigo volta à repartição.
- Bom dia, aqui estão os documentos todos, mas... eu queria dar mais 500 euros ao meu filho. Como é? preencho em duplicado ou junto tudo num só modelo?
- É melhor um modelo para cada donativo. Você já quer simplificar, não? deixe-se dessas coisas... tá com medo que não haja modelos, é? bem, sempre que o governo decide oferecer o modelo aos contribuintes é sempre a mesma coisa, nunca chegam... mas o problema não é seu, ponto final. (na verdade, já há um monte de modelos preenchidos na secretária do chefe da repartição...).
- Olhe, o melhor é dar-me já uns 30 ou 40 modelos... eu adoro o meu filho e se não fosse ele, eu ainda estava lá no bairro social, cheio de ratos e sem pagar renda há mais de 3 anos...
- Oh homem, mas você tem assim tanto dinheiro para dar ao seu filho? o que é que ele faz?
- Ainda não faz nada, mas não tem mal, eu é que quero arranjar um pé-de-meia para o rapaz, sabe... e ele merece. Além do mais, isto antigamente só andava com os filhos a dar algum aos pais e agora só lá vai com os pais a dar algum aos filhos. Amanhã cá estarei... mais 500!
- Mas olhe que se os donativos são muitos, o chefe começa a cobrar-lhe os tais 10% de imposto. "Dura lex, sed lex"!
- Dura quê? eu espero que dure o suficiente...
- Não é nada disso, mas estou a ficar intrigado com tantos donativos... o seu filho não faz nada e o senhor sempre a dar-lhe dinheiro, dá para desconfiar.
- Sabe, o meu filho foi o tal que deu o palpite dos números do totoloto que me deram um balúrdio e acho que devo dar-lhe uma parte considerável do prémio, sei lá, talvez metade... 7.500.000 euros e 500 euros por dia e por modelo, eu não sou muito bom de contas, mas já me disseram que 15.000 modelos devem chegar. Diga aí ao chefe que amanhã eu volto.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

TUDO?



A incerteza de tudo é coisa morta...
a velocidades ultrasónicas, digitais,
transmitem-nos apelos triunfais
de que nada ficará como antes,
teremos a felicidade em breves instantes
e quem vier atrás que feche a porta.

Tudo é fácil nesta romaria,
onde sem saber porquê, quisemos embarcar,
dando a entender a vontade de estar,
talvez para não sofrer a humilhação
de permanecer no meio da multidão,
retirando a essa vida a suprema fantasia.

Cantaremos uma melodia banal,
até um dia bem preciso,
com essa loucura dando lugar ao juízo,
iremos justificar em cada rosto
as causas de tamanho desgosto,
que reconhecemos no final.

domingo, 27 de maio de 2007

GOSTO DELA, SIM SENHOR!

Gosto da Clara Ferreira Alves, sim senhor. Ela tem um corte de cabelo muito giro, aquele amarelo quase branco que tapa cada vez menos o preto natural que vai crescendo por baixo, dá-lhe um ar de teen-ager, que nos faz esquecer os quase 50 que tem no BI... tudo por fora é século XXI, é "fashion", é cabedal, é cremes leves, é "eau de toillete", é... eu gosto dela, dessa imagem de intelectual distante naquele programa de tv onde juntamente com mais 3 maduros debita as mais profundas certezas no "eixo do mal", sabendo de tudo, qual enciclopédia Verbo de 23 volumes, mais anexos...
É por isso que eu sou contra a paridade entre géneros... então esta mulher vale tanto como o deputado Morgado que há uns anos atrás levou a Natália Correia a escrever a poesia do "truca-truca"? não, esta Clara vale por 5, no mínimo, tantos sãos os temas que aborda sem complexos nos folhetins do "eixo", ela sempre pronta a sair dos eixos...
Pois, eu gosto dela sim, mas do que está lá dentro, ou muito me engano ou perdeu a validade. Então não é que o culpado deste conflito entre palestinianos (hamas e fatah, em minúsculas para não lhes dar grande importância) é o "poderoso", diz ela, vizinho israelita, que tem sido governado pelo "vegetal" Sharon, pelo "fraco" Olmert e pelo "velho" Shimon Perez (para o Netanyahu não encontrou adjectivos). É obra, um país "poderoso" a ser governado por indivíduos tão fracos, ao contrário de uma Palestina tão fraquinha governada por palestinianos tão fortes... é assim, não é oh Clara?
Ainda por cima, agora que os palestinianos iam começar a fazer um país independente e já se começavam a habituar a um governo deles... os poderosos USA e UE viraram-lhes as costas, malandros.
Eu pensava que já eram horas de os palestinianos começarem a governar-se a si próprios, como têm feito os israelitas desde 1948, mas com a ajuda da Clara Ferreira Alves e dos amigos jornalistas, ainda vão continuar a cair de mão beijada, como tem sido desde o final da 2ª guerra mundial, biliões de dólares de subsídios para os refugiados palestinianos, pagos pelos países ocidentais (agora até oferecemos um estádio de futebol para se entreterem no intervalo do "lançamento da pedra"), sem que ao menos alcatroem as estradas da Palestina (uma boa maneira de acabar com a "intifada" por falta de pedras nas ruas). Ao menos fossem para casa dormir a sesta, para não dar a sensação a quem os sustenta que são milhões na rua sem fazer nada, como mostra na tv...
Clara amiga, se diziam há séculos que os portugueses eram um povo que não se governa nem se deixa governar, o que acha destes nossos antepassados palestinianos? Sabe o que lhe digo? O azar de tudo isto é que em 1948, Salazar deveria ter oferecido o Alentejo a Israel, o que nos daria a honra de ter vizinhos com vontade de trabalhar e acabaríamos com um conflito... eterno.
Um povo que consegue plantar laranjais no deserto tem sempre o meu apreço, mas também lhe digo, não gosto de ver aqueles fundamentalistas com aquele penteado estrambólico, anémicos, vestidos de preto, a abanar a cabeça junto das paredes sagradas.
A propósito, a Clara ouviu falar numa conta de milhões de euros que o camarada Arafat deixou na Suiça para a viúva loira e os filhos ficarem com um democrático pé-de-meia? ainda não li nada disso sobre os "vegetais", "fracos" e "velhos" dirigentes israelitas.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

DO NADA...


Vamos ao sabor de novas marés,
juntamos o sol e o mar no horizonte,
a planície verde com o branco monte...
cremos poder estar em todo o lado,
julgamo-nos um Deus reciclado
e temos muito menos que Moisés!

O ser e o ter confrontam cada segundo
os sentimentos de cada um de nós,
como correntes incertas junto à foz
do rio de pensamentos coloridos,
que nos ajudam a saltar todos os perigos,
encontrados neste e noutro mundo.

Temos um universo sem medida
mesmo aqui à nossa beira,
com gente vagueando sem eira,
despojada de tudo o que precisa,
consequência lógica da cobiça
de quem tem mais olhos que barriga.

Mas iremos mudar tudo, assim o espero,
o conflito que parece estar no peito
de quem manda, sem respeito
pelo seu par e seu vizinho,
destruindo cada dia o caminho,
será outro, mais humano e mais sincero!

REGRA DOS 40%

Pois então... 40%. Caramba, como é possível? Os jornais dão conta de um aumento de 40% de leitores em Portugal nos últimos 10 anos, o que, se não é recorde mundial, para lá caminha... e depois vêm dizer-nos que a malta não lê, não sabe escrever, não estuda, limita-se a olhar para a televisão, vai às discotecas. Pois vai, mas entretanto lê porque se não o fizesse, como se justificava este aumento de 40%? É obra! A propósito, a leitura das legendas na televisão também entrou nos cálculos dos 40%? é que, não é por nada, mas estou a desconfiar destes números...
É que ainda há uma coisinha importante nestes números, a população escolar da minha escola desceu nos últimos 10 anos... 40%, o que não sendo um dado rigoroso a nível nacional reflecte uma tendência interessante se não fosse assustadora. A população escolar está a diminuir e os leitores a crescer desmesuradamente, o que me leva a pensar que não dá a bota com a perdigota.
Mas será que este aumento de 40% de leitores foi apurado em função do número de livros vendidos? se foi assim, dá para perguntar se as estantes dos novos apartamentos já vêm com os livros incluídos...
Mas para todos aqueles que compravam livros todas as semanas e que, face à crise instalada, tiveram de começar a comprar um livro quando "o rei faz anos", como é o meu caso, ainda vão encontrar um dia destes uma notícia parecida com "aumentou 40% o número de leitores entre 1640 e 2007", o que não deixa de ser um aumento e... bastante significativo.
Já agora, também vem na notícia que a Câmara Municipal de Lisboa, aquela entidade que todos os entendidos dizem estar falida, vai subsidiar a Feira do Livro com 40 mil contos (eu ía escrever 200.000 euros, mas o número 40 não me sai da cabeça) e se a verba for entregue para comprar livros para as bibliotecas municipais até acho muito bem e começo a acreditar nesses 40% de aumento de leitores, mas... acho que não é bem para isso.
E os 40% não me saem da cabeça... então não é que as acções do Benfica caíram 40% em 3 dias? bolas, isto é pior que aquela goleada dos 7-0 em Vigo há uns anos atrás. Mas não há problema, nestas coisas de números é mais fácil chegar ao fim da época com saldo positivo que arranjar maneira de marcar golos, pelo que já vem a caminho um contabilista criativo para dizer que no futebol "elas contam é lá dentro". O quê, cairam 40%? então ainda há 60% para comprar um "ponta de lança"...
Nunca joguei na bolsa, entendo melhor que uma batata cortada em quartos, plantada e regada possa dar 10 ou 15 batatas novas, o que na bolsa pressuporia um aumento das acções de cerca de 1500%, mas ver uma empresa todos os dias a valorizar e a desvalorizar um bem, cheira-me a jogos de monopólio, com compras, vendas, telefonemas, sondagens, boatos, off-shores e jorges figueiredos pelo meio... um jogo que só tem uma vantagem: quando alguém ganha faz uma festa e quando milhares perdem calam-se para ninguém saber de nada, o que traz um apaziguamento social que é de louvar, até que um qualquer primeiro ministro diga que "essa coisa da bolsa tem lá muito gato por lebre". Aí é o caos e normalmente acontece de 10 em 10 anos.
Pode ser, como dizia um amigo meu, que valorizem... 40%?

terça-feira, 22 de maio de 2007

TEMPO

Acerto a minha voz
pelo calor da ternura...

Acerto o meu coração
pela pulsão que perdura.

Acerto o teu olhar
por uma lágrima de vida...

que me marca a hora certa
de uma paixão aberta,
sem entrada e sem saída.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O MIGUEL É ASSIM MESMO...

"O Miguel é assim mesmo...", não quer dizer "Oh Miguel, é assim mesmo!" e nesta época em que quase todos escrevemos os sms sem acentos, pontos e vírgulas, é bom esclarecer, para que alguém mais distraído não pense que estamos a concordar com o Miguel, quando apenas queremos dizer que o Miguel não tem emenda... e não tem emenda porquê? não sei, mas ele deve ter uma pedrinha no sapato...
Mas antes de mais quero aqui referir aos poucos mas bons, que me lêem, que o Miguel tem escrito muito sobre muita coisa e quase sempre reflecte a minha opinião. Esta última crónica do "Expresso" de 19 de Maio, onde me revejo na quase totalidade, vem novamente colocar um pouquinho de veneno sobre a classe docente a que pertenço há 35 anos, o que não sendo novidade, vem reforçar alguma animosidade em relação a uma classe profissional constituída, na generalidade, por pessoas competentes, idóneas e com a média de instrução mais elevada do país.
Costumo dizer que as portas das igrejas e das escolas estão sempre abertas, sendo certo que, quase sou levado a pensar que só não estuda quem não quer. No ensino publico, em Portugal foi norma os professores serem escolhidos por concurso publico, o que não aconteceu nem acontece em empresas publicas ou privadas, jornais, tvs e outras que me dispenso de enunciar...
Ora, o princípio da ocupação dos lugares por concurso foi sempre com a intenção de escolher os melhores e não haver lugar a cunhas, sempre necessárias em quase todas as outras actividades em Portugal, como fazer crónicas nos jornais. Agora, com a descoberta dos blogs tenho chegado à conclusão de que há bons cronistas sem jornal, mas a vida é mesmo assim e não é fácil ser filho de quem se foi...
É interessante classificar a ministra da educação como a melhor ministra do actual governo, dizendo-se que pôs os professores a trabalhar mais e a ganhar menos (a redução do deficit foi feita na quase totalidade à custa dos funcionários do Estado) e os alunos mais tempo na escola.
Mas eu aceito o Miguel assim mesmo, porque ele escreve sobre tudo, qual Marcelo Rebelo de Sousa, raramente tem dúvidas e nunca se engana, tal qual Cavaco Silva... continuo a lê-lo com interesse todas as semanas mas às vezes não estou de acordo e como a democracia é isso mesmo...
Já agora, passe pelos parques de estacionamento das escolas e verifique os carros dos professores, as marcas, os modelos e o ano de matrícula. Vai reparar que há lá um ou dois mercedes, um ou dois bmw e o resto é lata. Depois pergunte o que fazem os maridos ou esposas dos donos dessas máquinas. Quase lhe garanto que todos os conjuges são empresários...
As latas são dos trabalhadores por conta de outrem, sejam ou não professores.
Acho que o Miguel vai ficar na história como o filho de Sophia de Melo Breyner Andressen. Só isso.

sábado, 19 de maio de 2007

TERAPIA DE GRUPO


A graça e a melodia de um conjunto
de corpos belos, jovens, ideais,
trocam entre si gestos, sinais
capazes de vencer outras barreiras,
tecem rendas de todas as maneiras
e alcançam vitórias de um amor profundo.

A cada dia procuram o esplendor
de uma utopia que os une,
fazem do jogo o seu melhor perfume
e sentem que são jovens fora e dentro,
construindo a cada momento
a vitória da razão e do amor.

Vão por aí, em caminho pleniluno,
feito de derrotas e vitórias
arquivadas em arco-iris de memórias.
Tentam atingir na terra o paraíso,
colocando em cada gesto o seu sorriso
e farão desta poesia quase tudo.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

A ÉPOCA DOS RABOS DE PALHA

Na verdade hoje é muito mais fácil escrever umas crónicas do que há uns anos atrás, uma vez que todos os dias aparecem novos assuntos e cada vez mais interessantes, capazes de nos dar a inspiração que nos falta (quem escreve também tem momentos desinspirados, não é?). E agora lembrei uma análise interessante, que dá que pensar... então não é que quando alguém tem um blogzinho e não comete aquelas barbaridades ortográficas é logo apelidado de jornalista? não, não é assim, ainda há quem escreva sem erros e não seja jornalista nem tenha familiares demasiado cultos. Na verdade, eu sempre gostei de ler desde pequeno, hoje tenho orgulho na minha biblioteca, sou curioso ao ponto de abrir a enciclopédia quando tenho dúvidas, fiz um curso industrial, daqueles que encheram as OGMA de técnicos especializados e a Força Aérea de pilotos aviadores (não foi Antero, Firmino e outros mais?), virei-me para a Educação Física e voltei aos estudos com 30 anos, fiz a licenciatura que gostava, tive a sorte de ter os melhores professores e destaco Noronha Feio, Armando Moreno, Manuel Sérgio, Gomes Pereira, Carlos Queirós, Sobral Leal, Gustavo Pires, Melo Barreiros...
Já esquecia que o meu avô Manuel e o meu pai eram sapateiros e liam o "diário de notícias", o que me leva a pensar (só às vezes) que a ditadura era a dita, mas não tão dura que me obrigasse a ser sapateiro ou manufactor de calçado...
Mas a monarquia continua e com a agravante de não sabermos quem são os marqueses, condes e viscondes que se enfartam com o banquete das "assessorias, consultorias e outras mordomias" do sistema, levando-nos a pensar que só estavam contra o "a bem da nação" porque não podiam sacar tanto quanto desejariam...
Então não é que o vereador do BE, Sá Fernandes, tem 11 (onze) assessores a sacar no seu conjunto 20.800 euros por mês na Câmara de Lisboa? o tal entendido de túneis e outras mariquices que mandou parar a obra do Marquês, porque aquilo caía um dia destes e que agora já não cai, porque ele é que disse como é que se havia de corrigir aquilo?
E os 11 "assessores" serão todos do BE? pelo menos o fotogénico ex-candidato à Presidência da República, Carlos Marques está na lista com 1.500 bojardas para um horário a meio tempo. E eu, professor, proscrito do governo, com 35 anos de serviço, com horário "mais que completo" para ganhar o mesmo, oh Carlinhos...
Só de me lembrar destes BEs, do "amigos dos animais", da "quercus" com os meninos a sacar uns cobres do Ministério do Ambiente" e a dizer que os flamingos da ponte Vasco da Gama morriam por causa da agressão ambiental, com o Nabais a advogar toda a marginalidade que por aí há,sempre que há umas droguinhas a caminho da Holanda, com o Francês de cabelo empastado a aparecer na tv sempre que há bombistas para defender, com as Fundações a mamar do orçamento do estado a que isto chegou... para que lado vou ter de me virar?
Convoquem os bombeiros porque os rabos de palha já ardem antes da época do fogos!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O JOÃO DE DEUS TINHA RAZÃO...

DIA DE ANOS...

Com que então caiu na asneira
De fazer na Quarta-Feira
Cinquenta e Três anos,
que tolo!
Ainda se os desfizesse,
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo. Coitado!

Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que, em suma,
Não fazer coisa nenhuma,
Também não lhe aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!

(Adaptação de poema de João de Deus)

ESTRADA

Sobre brasas caminhamos
na estrada em que parecemos voar,
imagens de cinzento a destoar
passam por nós em sentido contrário,
arrefecendo, como corolário,
o calor dos pensamentos que criamos.

Mas nada morrerá, tudo se alcança,
a chama que perdura em cada hora,
forte ou fraca, mas viva embora,
ver-se-á a olho nú, será mais bela,
iluminura de corpos numa tela,
quadro de Matisse onde se dança.

Sentimento é ponto vermelho,
construção de um mundo bem diverso,
arranha-céus dos meus sonhos, universo,
onde se tocam o fantástico e o real
e emerge de um encontro casual,
o único reflexo do meu espelho.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

HOJE É UM DIA MUITO ESPECIAL!!!

Obrigado, obrigado, obrigado!
Foram imensos os emails que me enviaram hoje, 16 de Maio, de tal modo que ainda estou muito sensibilizado com esta onda efusiva de parabéns. É certo que prendas... nada, mas isso foi um compromisso que fiz já lá vão perto de 30 anos, com as pessoas mais próximas, em que ninguém era obrigado a oferecer o que quer que seja no dia em que as pessoas ficavam mais velhas. Achava eu e continuo a achar, que comemorar o facto de uma pessoas ficar mais perto do fim é uma afronta, o sorriso de nos verem mais velhos.
Até aos 15, 20 anos a coisa até parece razoável, mas aos 40? aos 50? aos 60? há lá festa mais palerma? e então aos 100, com o babete no peito e a fralda descartável, com os netos, bisnetos e trinetos a fazerem uma algazarra do caneco, vocês acham piada? o que vale é que nessa altura a audição já quase não existe e o barulho pouco incomoda.
Sabem, eu gosto de comemorar aniversários, mas não é nada do que temos vindo a falar... normalmente lembro-me e comemoro o 5 de janeiro, quando estava à espera de uma miúda e a enfermeira me disse que era um miúdo, o 11 de fevereiro, quando estreei o meu primeiro fato completo, o 16 de fevereiro quando fiquei sem dinheiro e tive de passar 12 dias em lisboa sem um tostão (o alojamento e a comida estavam pagos), a 3ª feira de carnaval (é melhor não dizer porquê), o 11 de julho porque levei a minha filha à primeira consulta médica (ela tinha nascido nessa manhã),o 31 de julho, porque a minha esposa paga sempre o almoço, o 5 de outubro (onde dormi pela primeira vez na casa que construí)...
Ah, mas ia falar dos emails que me mandaram... foi o wayn.com, o hi5.com, o voip.com, a pt.pt, a cgd.pt, o santander.pt, a markteste.pt, a antf.pt, o free-stay.com, a marketscore.com, osamigoseconhecidosonline.pt, etc, etc, etc...
É um fartar vilanagem, que de ano para ano nos enche de orgulho pelo facto de termos nascido, mas... prendas, não! eu sei que assim, não contribuo para o crescimento, assim não passamos dos 2%, assim ninguém realmente se lembra de mim, mas... prendas, não!
Mas para comemorar cada dia, cada semana, cada mês, cada ano que vou vivendo, procurando manter a minha saúde física e mental (eu sei que às vezes os "platinados" já começam a falhar...), fazendo o que me dá prazer (também o trabalho, embora às vezes pareça que não) sim, podem contar comigo, mas prendas... não!

terça-feira, 15 de maio de 2007

CRESCER, CRESCER, CRESCER...

Estou um pouquinho baralhado, nunca fui bom em economia e sempre tive a mania das dúvidas, não daquela metódica que se estuda na filosofia, mas daquela duvidazinha... talvez até por causa das "dúvidas" ou "por via das ditas" como dizia o meu avô...
E tudo porque estes governos, esta malta que andou por aí a dar "vivas à cristina" (ela até era boa, mas não precisava de tanto) e hoje se estabeleceu por nossa conta no poder que abominavam, entende que a sociedade actual é unicamente uma "unidade de produção global" que tem efectivamente de crescer, crescer, crescer... 1%?, 2%?, 5%??? seja o que fôr o crescimento, é fundamental para a felicidade do povo. Ora, eu... duvido. E coloco uma questão simples: quanto é necessário, por quanto tempo e de que maneira a felicidade se alcança em função do crescimento. Tão simples como isto.
Será um jovem "amish" (membro de uma comunidade fundamentalista hebraica) menos feliz, só porque anda de carroça, não tem televisão, telemóvel, computador, bebidas alcoólicas, bares, discotecas, queimas das fitas, máquinas digitais, etc, que poderia possuir, caso a sociedade em que vive tivesse o tal crescimento económico como objectivo quase exclusivo?
Supondo que existem 3 milhões de carros em Portugal e que a população adulta é de cerca de 8 milhões, facilmente chegaremos à conclusão que ainda há mercado para o crescimento de 5 milhões de automóveis. Será que este crescimento, que provavelmente bloquearia todas as estradas deste país, levaria os portugueses a outra e melhor qualidade de vida? ou esse crescimento tem limites e as classes C e D (classes económicamente desfavorecidas) serão obrigadas a andar na Rodoviária Nacional?
Enquanto tivermos esta classe dirigente a olhar a sociedade através de sucessivos crescimentos económicos, a afirmar que tudo está bem porque crescemos 0,01% e a dizer o contrário porque decrescemos 0,01%, não conseguiremos encontrar as coisas boas e, às vezes, baratas que muitas vezes estão à mão de semear, capazes de nos proporcionar uma troca de ideias entre amigos, uma caminhada, uma leitura, uma bricolage lá por casa, enfim, o preenchimento agradável de um tempo que, quer queiram quer não, é igual em todo o mundo e do mesmo tamanho, com crescimento ou sem ele.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

UMA MEMÓRIA DE LUZ...

Uma memória de luz ou pequena dissertação sobre a Primavera



Uma tarde estava eu na Ilha de Murano
A ver o esplendor do fogo das forjas
De onde saem peixes, relógios e cavalos
Quando me lembrei da força da terra
Não da terra propriamente dita, o planeta
Mas a terra de onde viemos e nos espera

Terá sido porque tinha estado em Burano
E no caminho vi o cemitério de Veneza
Cruzando a força das rendas das mulheres
E das redes dos pescadores dessa laguna
Com a fragilidade das flores mais secas
Sobre as pedras com as datas e os nomes

Lembrei-me mais da Primavera nesse lugar
Onde a terra era tão escassa e o mar imenso
No sono dos pequenos barcos no nevoeiro
No sossego interrompido pelos navios de luxo
Que descem o Adriático ao som da música
Mais fria, pobre e triste que se pode imaginar

Lembrei-me mais do cortejo do trem do cuco
Quando as coisas mais velhas e mais feias
Enchiam todos os carros de bois em desfile
Por entre os risos dos homens de barrete
E a desaprovação das mulheres velhas à porta
Porque havia ali coisas ainda boas de servir

Lembrei-me mais das fogueiras antigas
Nessas noites de cortejo no nosso Largo
Onde o Pelourinho é memória de justiça
E os rapazes mais velhos não deixavam
Que os pequenos saltassem a fogueira
Porque tudo tem o seu tempo na vida

Lembrei-me mais da nossa primeira festa
Que era sempre no Domingo de Pascoela
No Lugar da Granja Nova onde eu ia a pé
E o primeiro arroz de ervilhas da minha avó
Com o coelho do meu avô e dos meus tios
Era comido pelos músicos à beira do rio

Lembrei-me das nossas procissões à tarde
Quando eu segurava a naveta do incenso
E o turíbulo tinha brasas da nossa lareira
Que o meu tio ia buscar sempre a correr
Porque tinha o casaco de músico para vestir
Tocava trompete e fazia falta na filarmónica

Lembrei-me mais das festas de arraial
As gasosas a subirem do poço num cesto
A frescura nada tem a ver com frigorífico
Quando o vinho tinto amolecia as cavacas
E só assim o menino que era eu as comia
A olhar o coreto rodeado de sol e de pó

Lembrei-me mais de eu ser tão pequeno
E toda a gente na família me dizia
Para me levantar cedo e eu falhava
Não sejas lapão não deixes entrar o Maio
Repreendia a minha avó todos os anos
Sem nunca me explicar esta sua fala

Lembrei-me mais de ir ao Vale de Água
Para trazer os vários ramos da Primavera
Para nós, para a Tia Velha, para a Ti Zabel
Será por isso que ainda hoje no Chiado
Há quem venda estes ramos a alto preço
E um vai logo para o meu neto em Londres

Será isso hoje a Primavera possível
Um ramo num envelope almofadado
Ingénua maneira de prolongar o tempo
Que flutua numa memória qualificada
Mas não existe na verdade no campo
Onde se vive o esplendor dos pesticidas

Afinal nem tudo se perdeu, nem tudo caiu
Como eu não percebia as falas da minha avó
O meu neto vai demorar a perceber o ramo
Que ele possa chegar ao Outono como eu
Com o fogo da Primavera no seu olhar
E uma memória de luz onde tudo continua

José do Carmo Francisco

(O José do Carmo Francisco é um conterrâneo meu, amigo, cronista, jornalista, escritor, poeta - com um Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores, que homenageio no meu blog. A Granja Nova, a terra da minha mãe, continua a fazer parte do nosso imaginário comum. Obrigado José do Carmo!)

RECONSTRUÇÃO


Procuro recuperar a todo o custo,
por troca de mal passados tempos,
onde o que dizia eram apenas lamentos
de não ter, enfim, todos os meios,
a certeza de não ter receios
porque ser jovem é sentir que se é justo.

Pensando liso como uma bola, o universo,
sem altos nem baixos, nem tornados,
construí meu sonhado jogo de dados,
onde algumas peças sobraram por defeito,
originando um fino túnel no meu peito,
no puzzle que juntei e vi disperso.

Tento voltar a mim, queira ou não queira,
a estrada que percorri em passo certo
indicava apenas o deserto,
deixando nas várias margens do meu rio,
destroços de um tempo ainda frio
ao qual faltou a chama da fogueira.

Mas nada é tão frágil e emotivo
como o tempo que em cada dia se renova,
colocando aos sentimentos a dura prova
de saber testar a eterna confusão,
salpicada do que é bom, ou do que não,
mantendo esse momento sempre vivo.

Contrariando a norma, o que deve ser,
tentaremos a felicidade bem desperta,
longe ou perto, iremos na via certa
e juntos construiremos nosso bem,
com mil à nossa volta, ou sem ninguém,
sorriremos até no escuro, sem temer.

domingo, 13 de maio de 2007

O MAIS DIFÍCIL É O TÍTULO!


Não, não estou a referir-me ao título, áquele que muita gente está a seguir na tv, porto, sporting ou benfica, nesta tarde fresquinha de Domingo, mas apenas à dificuldade que encontrei para dar um título a esta crónica. Mais difícil ainda, centrar-me num emaranhado de temas que tenho focado durante estas horas de folga. Nem queiram saber os tópicos, ele era o 13 de maio, o futebol nos seus aspectos mais caricatos (e os jornalistas a ajudar à festa, com não-notícias), a senhora de 70 anos que vai ser julgada por se apoderar de um creme facial num hipermercado, no valor de 3,99€ (devia estar em promoção), a madeleine que estava no local errado, na hora errada (não me lembro de deixar os meus filhos sozinhos para ir fosse onde fosse...), enfim... temas interessantes não me faltavam, mas surgiu-me um email de última hora, enviado pelo meu amigo Miguel e tudo se alterou. A crónica tem outra titular, uma jovem de 20 anos, de seu nome Cláudia Miranda, que ainda não tem idade para ter um qualquer curso (talvez só nadadora-salvadora e acho que são só 4 semanas de curso), mas que conseguiu apresentar um currículum tal, que foi nomeada administradora do Centro Hospitalar de Bragança, com um vencimento de 3.000,00€ mensais.
Dizem as más línguas que à Cláudia (eu até já a estou a ver, loira, de olhos azuis, 1,75m de altura e 63 kgs de peso, 90-86-90 e charmosa, claro... ) também disponibilizaram automóvel, despesas de representação e telemóvel. O email ainda refere que a jovem namora o presidente da JS de Bragança, o que lhe augura uma vidinha de sucesso e bem estar, pelo menos de 4 em 4 anos, porque o colega da JSD também namora e está à espera que isto mude.
Não sei porquê recordei-me agora do Carlos Queirós se não tivesse tirado o curso, ou da Fátima Campos Ferreira sem estudos... mas este publicitários sempre foram uns exagerados! Perfeita, perfeita é a Cláudia Miranda sem estudos!
Não deixo de pensar que estava aqui agora uma miúda de 26 anos, ao meu lado, muito gira, a fazer as malas para ir para Lisboa, que acabou os seus estudos, entra de manhã cedo na empresa e não sabe quando sai ao fim do dia, tem de se orientar com 800,00€ de recibos verdes e, teimosa, não se quer inscrever na JS ou na JSD...
Afinal Cláudia Miranda, tu és a luz dos nossos jovens, qual Virgem Maria que nos abres os horizontes de esperança, tal qual também a nossa "Cristiana Ronalda" dos Centros Hospitalares, tal qualmente a imagem do sucesso por que anseiam as milhares de caixas dos hipermercados... com estudos.
E eu que podia ter começado a colar uns cartazes do "bloco central"a seguir ao 25 de Abril, tive a peregrina ideia de querer ser professor...
Na verdade, o "anónimo" do comentário parece estar dentro do assunto, a jovem tem mais de 20 anos (eu também desconfiava... 25, 30, 35? pouco importa) e com um quase doutoramento, o que lhe dá legitimidade para ser nomeada. E foi nomeada por isso? aí... o nosso amigo "anónimo" não esclarece. Namora o presidente da JS de Bragança? também não esclarece. Já trabalhou anteriormente e desenvolveu trabalho que suporte 3.000 mocas por mês, carro, telemóvel e outras mordomias? não esclarece.Infelizmente, temos no PS casos brilhantes de Antónios Seguros, Apolinários e outros tais que fora da JS e do PS nunca tinham feito nada e hoje são brilhantes profissionais da "coisa"... e os pseudo-jornalistas invejosos é que são os maus da fita.

sábado, 12 de maio de 2007

FLASH


Numa sexta-feira de sol e de memória,
na nostalgia de momentos de criança,
veio até mim aquela lembrança...
aquele jogo... os craques de costas voltadas,
esperando o toque delicado das palmadas,
sorrindo, olhos nos olhos, em caso de vitória.

Eram combates cheios de encanto
com os meninos, que hoje eram de rua,
mas que não conheciam a lua...
tinham de se deitar ainda cedo
por causa do velho que metia medo,
como dizia a mãe, no entretanto.

Depois foram procurar o mundo "novo",
lutando por um dia de sucesso,
esquecendo o bem imenso
do amor e da paixão plena,
fazendo de tudo isso uma faena,
matando, se necessário, o nosso jogo!

sexta-feira, 11 de maio de 2007

INCOMPATIBILIDADES...


Ao longo de 35 anos, que são os que levo de trabalho mais ou menos pedagógico com os jovens, tenho tido o cuidado de olhar toda essa dinâmica que envolve o processo ensino-aprendizagem e o desenvolvimento social, desportivo e cultural desta malta, a quem vamos transmitindo conhecimentos e referências que, penso, os ajudarão a construir a sua própria "casa".

Costumo dizer aos meus alunos que não espero deles, como professor de educação física, atletas de alta competição, porque isso é privilégio de uma minoria que na idade deles já tem vários anos de uma prática intensa, numa qualquer modalidade, mas espero sim que saiam da escola com uma gama de atitudes e comportamentos que os distinga dos marginais que encontramos nesses estádios e pavilhões insultando tudo e todos, organizando-se em gangs com objectivos distintos do normal adepto ou praticante desportivo.

Alguns tomam durante as aulas comportamentos nada adequados e, porque sabem que também fui jogador e treinador de futebol, ficam admirados quando lhes digo alto e bom som que "não quero atitudes do coice-bol" nas aulas de educação física.

- atitudes do "coice-bol", professor?

- sim, aquelas atitudes que vocês costumam ver dentro e fora dos estádios, quando ligam a TV para ver um jogo de futebol, com jogadores batoteiros a rebolar no chão sem que ninguém lhes toque e claques de matarruanos a gritar "filho da puta" quando o guarda-redes bate um pontapé de baliza.

O grave da questão é que a generalidade destes meninos das claques andaram na escola e muitos deles frequentam universidades, da mais "católica" à mais "independente". Alguns deles serão deputados, ministros e presidentes.

Afinal, eu hoje só queria tentar perceber a incompatibilidade entre a proximidade do portão de entrada da minha escola e os canteiros de árvores vazios que a ladeiam... é que quanto mais nos afastamos da entrada da escola, maiores e mais bonitos estão os plátanos que dão sombra ao espaço envolvente. Mas nos quatro canteiros da entrada, onde se juntam os futuros membros das claques do "coice-bol", a fumar e a dizer baboseiras, nem uma árvore de betão lá cresce.

Um dia vou fazer um mestrado sobre tudo isso...

quinta-feira, 10 de maio de 2007

DIMENSÃO

Brotando do nada que me serve,
cresço pr`a tamanhos desmedidos,
assumindo contornos coloridos
num arco-íris de sete tons,
onde junto à cor dos teus batons
a água que em meu coração ferve.

Depois volto à razoável medida
da paixão de vários sons,
guiando por caminhos muito bons,
construindo a pedra, pó e algum suor,
vestido por belas marés de amor
e achado no limiar de nova vida.

A meio desta trajectória
encontro quem sempre desejei
num acaso entre a terra e o astro rei,
onde a noite cai e o dia vem,
abraçarei teu corpo como ninguém
e seremos a essência desta história.

Achados no núcleo de um novo mundo,
próprio de quem quer navegar
nas vagas alterosas deste mar,
desfraldamos grandes e brancas velas,
onde pintaremos como em telas,
um amor, de azul profundo!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

A ARTE DA FUGA


- Transportes, como foi?
- Sim, arranjámos duas carrinhas, para o dia a dia, o autocarro para os ir buscar, levar, e fazer aquelas visitas que sempre se fazem... também a camioneta de caixa aberta (o BTT no meio da floresta é sempre agradável e o transporte das bicicletas...)
- Ok. E comida?
- Sim, pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar...
- Mas parece que houve um jantar que foi um fracasso, dizem. Mal organizado e não soubeste planear as coisas.
- Na verdade foi... mas sabes, eu realizei uma reunião para os pais e... só foram 6 ou 7.
- Claro, mal organizado, não soubeste planear as coisas...
- Oh pá, mas houve 4 pequenos almoços, 4 almoços, 4 lanches e 3 jantares...
- Pois, mas esse em que falhaste foi muito importante e os colegas estrangeiros ficaram muito desiludidos. Foi mal organizado e não soubeste planear as coisas...
- Mas olha que na actividade desportiva tudo decorreu muito bem, sem atrasos e com todas as modalidades. Eu nunca disse nada, para não ser antipático, mas lá, a competição programada de ténis de mesa não se realizou e apanhámos uma estopada numa manhã de sábado... mas quando me perguntaram eu até fui simpático e disse que não havia problema nenhum...
- Pois, mas houve uma outra falha imperdoável. Num tempo livre de duas horas, metade dos teus alunos deveriam ter acompanhado os colegas num passeio pela vila e não o fizeram...
- Pediram-me para ir estudar um pouco nessa tarde e... não fui capaz de dizer que não fossem... afinal eram só duas horas...
- Mas isso é grave, foram 16 jovens estrangeiros passear na vila acompanhados apenas por 7 dos teus alunos. Foi mal organizado e não soubeste planear as coisas.
- Pois... mas já reparaste que em 15 refeições só houve uma falha de organização, relativa ao apoio de pais/alunos?
- Mas isso é grave, deu uma má imagem da escola e até do País. Foi mal organizado e não soubeste planear as coisas.
- Sabes, estivemos 100 horas num máximo de 120 (5 dias), de sexta a terça, fim de semana incluído, a trabalhar que nem uns galegos, sem receber um euro a mais no vencimento, gastando largas dezenas de euros dos nossos bolsos e ainda corro o risco de perder amigos e alunos...
-É esse o fim de quem foi mal organizado e não soube planear as coisas. Temos de preparar outro intercâmbio...
- ...
- É pá, não te vás embora... eh, anda cá, não corras... que raio de bicho lhe terá mordido...


quinta-feira, 3 de maio de 2007

OCEANOS



Ondas revoltas de um mar imenso,
observo na praia rodeada de floresta...
mesmo olhando o nosso mundo por uma fresta
tenho imagem completa em pensamento.

Sinto em cada instante a solidão
olhando, sem ver, tudo o que me rodeia,
pisando incógnito a quente areia
onde corpos esculturais beijam o chão.

Contemplo tudo isso em tons azuis
e tento chegar mais perto do que é meu,
trazer perto de mim o mar, o céu,
as ondas alterosas onde fluis.

O mar, o céu, a terra em proporção
vão criando o amor que brota dia a dia,
despertando numa pedra a poesia,
onde esculpirei o amor e a paixão.

Musa que toco com prazer
e acaricio em cada gesto,
faz-me gritar ao mar, como protesto,
pelo tempo que passo sem te ver!

quarta-feira, 2 de maio de 2007

CONFESSO!

Confesso, sim! Eu leio a "Dica da Semana"!
Ela está para mim como um interlúdio literário dos livros que vou mantendo em cima da mesinha da sala. E que livros!!! são 616 intermináveis páginas do (perdoe-me a familiaridade) Lobo Antunes, são as 595 quase termináveis páginas do Pedro Canais, mais as 536 do Dan Brown e as terminadas 65 do Luis Veríssimo, 178 do Vasco Graça Moura, 239 sobre o "louco" Dalí, 246 do "meio maluco" Carvalho Rodrigues, 163 do "erótico" Ubaldo Ribeiro, 179 de Clarice Lispector (repararam que já não é "da", mas "de", não? leiam e um dia saberão porque Eduardo Prado Coelho disse que na literatura portuguesa só Clarice poderia voltar a dar-nos um Nobel da Literatura). Mas eu apenas queria confessar que... leio a "Dica da Semana", não quero saber nada das promoções da entremeada de porco, ou da couve lombarda a 0,50€ o quilo, não... eu leio a "Dica" às escondidas, espreito todas as portas e salas antes de lhe pegar, certifico-me que os meus filhos estão ausentes e aí... leio. Eu nem posso dizer que leio, eu devoro a "Dica", pronto! ou é a Maria Duval, ou aquela jovem que perde 45 quilos em 3 dias, ou é o Miguel de Sousa, que eu confundo vezes sem conta com o afamado "Manuel de Sousa". Esta semana é o Miguel de Sousa, com "20 anos de carreira" que me dá conta que de amores eu estou nas lonas (eu já tinha reparado...), o dinheiro tem só uma bolinha, o que quer dizer que estou quase teso, incapaz de gastar umas coroas para melhorar o parâmetro amoroso, com umas prendas persuasivas... uma desgraça, é o que é.
Se por outro lado me diz que o trabalho está bom, não fico sossegado... será que está bom, no sentido de ter muito trabalho? assim vai ser o bom e o bonito, como dizia o meu avô...
Na saúde é que não há dúvidas, estarei muito bem, diz o Miguel de Sousa. Não vou dizer que não, porque afinal só tenho um pouco de asma a chatear, umas dezenas de espirros por dia (a minha esposa já colocou a hipótese de ser alergia, mas eu nos últimos tempos tenho andado sempre com ela...) e as inoportunas dores de joelho. Acho que o homem acerta sempre comigo e eu agradeço. Afinal é informação gratuita trazida à caixa do correio e... muito fiável. Obrigadinho, Miguel de Sousa, mas não sei porquê, não tenho coragem de ler a "Dica da Semana" à frente dos meus filhos... acho que eles não podem saber que sem o teu horóscopo a minha vida era um fracasso.

terça-feira, 1 de maio de 2007

QUADRO

Um silêncio de mil cores
corta cerce o ar que respiro
e dá-me o momento certo, vivo,
do quadro em que pinto meus amores.

A trincha que desliza sobre a tela
em círculos amarelos tão perfeitos,
nem precisa de retoques, de efeitos,
para descobrir face tão bela.

Não tens idade, és sempre igual,
o teu sorriso tão cúmplice e tão calmo,
é dado sem esperar, como num salmo,
a causa de amor tão natural.

Mas depois descobrimos tudo isso
e achamo-nos, um e outro bem diferentes,
trocando nosso amor por mil sementes,
selando na noite clara o compromisso.

No jardim, antes com ervas banais,
florirão cravos, rosas belas,
e pintaremos ainda novas telas
de amor, diferentes, mas iguais!