sexta-feira, 13 de junho de 2008

PELAS 5 DA TARDE...



Acabei de ler o Jornal Torrejano e não resisti, a crónica do José Ricardo Costa avivou-me lembranças da infância que me marcaram tão positivamente que não hesitei em martelar as teclas deste sofrido computador, incapaz de me mandar bugiar quando o teclo em demasia ou até mesmo quando a imaginação não está de acordo com a vontade de cronicar.
É a tourada, sim, a festa ou melhor a "fiesta", aquela mesmo que o Jose Ricardo afirma "a las 5 en punto de la tarde", como escreveu e muito bem Garcia Lorca, o generoso e republicano poeta Frederico Garcia Lorca...
"eran las 5 en punto de la tarde
un niño trajo la blanca sábana
a las 5 de la tarde.
una espuerta de cal ya prevenida
a las 5 de la tarde.
lo demas era muerte y solo muerte
a las 5 de la tarde."
Foi Garcia Lorca que melhor pôde retratar a superação da condição humana numa simbólica luta entre o ser inteligente e o ser poderoso, dando-lhe uma quase igualdade de condições em campo aberto, redondo e solitário, onde só os melhores dos melhores têm acesso, homens e animais.
Ali não dá para ver alguém em cima de uma cadeira a gritar que "há um rato na cozinha", nem amigos dos animais com cães na varanda do 7º andar, presos 23 horas por dia, com uma hora para "passearem o dono" no jardim municipal onde aproveitam para deixar a higiénica bosta diária, onde naturalmente as crianças vão jogar...
Não, este espectáculo que fez parte da nossa infância e juventude passou para as "23 en punto de la noche" para não influenciar negativamente as nossas crianças e jovens, traumatizados com a violência das pegas, chinquelinas, verónicas e pares de bandarilhas por proposta dos "amigos dos animais" e ordem de um juíz que talvez nunca tivesse lido Hemingway, visto um quadro de Picasso ou sabido da existência de Frederico Garcia Lorca. Concerteza nunca souberam que antes de Cristiano Ronaldo, houve Manuel dos Santos, Chibanga, Mário Coelho, Diamantino Viseu, para só falar de portugueses, que qualquer deles levava multidões atrás de si em Espanha, Argentina, ou México.
Hoje, no século XXI, temos é que proteger os flamingos, dar ração dietética a cães e gatos amaricados, descurando a análise histórica de perpetuação animal, onde os mais fortes e mais inteligentes vão devorando os mais fracos, ou seja, os cães têm de passar fome para comer os gatos, os gatos têm de passar fome para comer os ratos e os ratos têm de se safar com outros mais pequenos que eles, para que não haja ninguém aos gritos em cima da cadeira da cozinha.
Sim, eu confesso, sou um bárbaro, ía à tourada com o meu pai, no 15 de Agosto nas Caldas da Rainha, adorava aquela festa, a banda a tocar, o inteligente a mandar os forcados lá para dentro, confesso que gostava de os ver levar uma "sopinha de corno" sem que ninguém se aleijasse e só me chateava quando o touro não queria voltar aos curros...
Sim, confesso que sou um cinquentão "traumatizado" com toda aquela selvajaria, de tal maneira que continuo a adorar umas febras na brasa, uns coiratos ou até mesmo umas costeletas de boi, mas parece que é dos poucos animais criados em terreno livre, com pasto natural, ao sol, ao contrário de frangos, porcos e coelhos, circunscritos a instalações onde nascem e morrem sem ver o sol.
Preocupados com o touro porque levou com uns pares de bandarilhas e deitou sangue? preocupam-me mais os milhares de empregados e desempregados que passam a vida a "levar nos cornos" para poderem comer uma bifana.

Um comentário:

virginia disse...

AH! Valente!Como diria o pai... as emoções devem prevalecer... como seria a nossa vidinha sem elas? Sinceramente, é mesmo bom andar nos cornos do touro. Valha-nos isso!