domingo, 27 de julho de 2008

ANDA PACHECO!

É Domingo... "o que é que você vai fazer, Domingo à tarde"?, vejam lá o que me deu, veio-me à memória aquela canção do Nelson Ned e que há trinta e tal anos fazia parte daquelas máquinas de discos, as "Jungle Box", onde quem podia metia uma moeda de cinco coroas para o pessoal da esplanada disfrutar, acompanhados de uma CanadaDry ou uma Schweppes, que por não haver Coca-Colas e porque tinham uma denominação internacionalisada eram as bebidas preferidas da malta nova...
Almocei em casa de um amigo, comi um "ensopado de bacalhau" estupendo, misturado numas batatas cortadas em fatias e acompanhado de uns ovos de galinha pequenos, tão pequenos quanto aqueles que faziam parte das canjas de galinha da minha meninice, especialmente em dias de festa, pareceu-me até que comi hoje esses descalibrados e ilegais ovos porque a galinha era de campo e alguém lhe cortou o pescoço antes que viessem os inspectores da ASAE. De seguida atacámos a "galinha de cabidela", que estava deliciosa, bem como o vinho, a sobremesa, o café e o wisky.
O som ambiente ía aumentando a cada etapa da refeição e já foi com dificuldade que escutei os meus amigos e as suas experiências de vida... o António que se emocionou com as vítimas das minas anti-pessoais em Angola e que encontrou em recuperação nos hospitais de Coimbra, vindos da aldeia em que viveu e trabalhou até 74, o seu trabalho voluntário no Banco Alimentar contra a Fome e...
- Então quando é que te reformas?
- Quando é que me reformo? estás a brincar comigo... eu reformei-me aos 50 anos, pá!
- Aos 50 anos?
- Claro, cheguei aos cinquenta, tinha um amigo na Caixa que me disse como é que eu havia de fazer, pedi uma carta de despedimento ao patrão, declarei por minha honra que não conseguia acartar às costas os sacos de ração de 50 kgs, embora a empresa já utilizasse meios mecânicos, e fui dois anos para o desemprego... depois chamaram-me e disseram-me que me podia reformar, que já era velho para voltar a trabalhar, que já ninguém me dava emprego e que se me reformasse ainda ficava a receber mais que no desemprego... e aceitei. Já tinha 14 anos de descontos, mais uns poucos em Angola, mais o tempo militar, disseram logo que já chegava para uma reformazinha razoável. Claro que depois de reformado ainda voltei a trabalhar lá na empresa, mas o cacau era sem descontos, para não haver chatices e já ando nisto há quase vinte anos, mas agora deixei mesmo de bulir... é só uns porcos para criar e o tal trabalho voluntário no "banco alimentar", para além de ir à natação dos idosos, aos passeios dos idosos e às semanas de férias do INATEL, quase tudo de borla ou com subsídios do Estado, como convém... e tu, ainda não estás reformado?
- Eu...
- Ahhhh já deves estar, olha, aproveita enquanto tens possibilidade, porque qualquer dia estamos velhos e não nos apetece ir a lado nenhum...
- Eu ainda não estou reformado... só tenho trinta e seis anos de desconto... se fosse com a lei antiga já estava, mas agora não pode ser... para me reformar sem cortes na reforma tenho de trabalhar quarenta e cinco anos!!!!
- Estás lixado, pá! e qualquer dia ainda dizem que só nos podemos reformar aos 75 anos... estes gajos do governo são uns incompetentes, andaram a dar reformas a toda a gente e agora dizem que não chega, mas para eles chega sempre... malandros...
- Pois...
- É o que eu te digo, ainda hoje li no Diário de Notícias uma entrevista do Pacheco Pereira, que começou no PCP, foi preso pela PIDE diz ele, era clandestino e tinha pseudónimos (ou heterónimos?) como o Fernando Pessoa, depois veio o 25 de Abril e foi para o PCP-ML do camarada Eduíno Vilar com outro pseudónimo, andou por aí de barba e bigode nas "manifs" e caíu no PSD onde veio a encontrar a Zita Seabra, com quem tinha deixado de falar durante 30 anos. O homem até diz que não consegue entender essa coisa de ser de direita ou de esquerda... eles querem todos o mesmo, pouco trabalho e reforma ao fim de uns anos... malandragem...
- Pois...
- Mas não te preocupes, são só mais nove anos de trabalho... e isso passa num instante.
- Pois...

sábado, 26 de julho de 2008

O PRÉMIO CAMÕES 2008


Há coisas interessantes na vida de cada um de nós e de alguma forma vamo-nos construindo com detalhes, o que nos dá uma enorme margem de manobra... é que são anos e anos de vida preenchidos de uma forma aleatória, ou nem por isso, que vão servindo para balizar um certo sentido de vida. Porque fazemos isto e não aquilo, porque gostamos destes e não daqueles, porque damos a uns e não damos a outros e porque alinhamos quase sempre com os mesmos e nem por isso com os demais, é naturalmente uma construção de personalidade que dificilmente mudamos... e ainda bem, acho eu.
Na escrita, na profissão, nas amizades, na família e até na política, é do senso comum que as coisas podem mudar, mas não convém que mudem muito e não convém nada que mudem muitas vezes, até pela confusão que isso provoca, o que não quer dizer que não se pode mudar pois até nós vamos mudando ou não seja eu um jovem de cabelo grisalho, quando há uns anos eles eram escuros e em maior número. Há sempre um amigo que me lembra que "só os burros não mudam", mas acredito que o tal substrato psicológico se mantém por quase toda a vida.
Tudo isto a propósito da notícia que ouvi hoje no rádio do carro, anunciando a atribuição do Prémio Camões 2008, o "Nobel da Literatura Portuguesa", ao escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, uma figura que tive o prazer de descobrir através dos seus livros numa livraria de São Paulo em 1999, ou seja, já no século passado. Passei as mãos pela "Casa dos Budas Ditosos" e percebi como um escritor pode descrever uma crónica com o dia e a noite de cada personagem... adorei.
Em Portugal quis repetir o cronista e escritor Ubaldo Ribeiro e nem sombra dele nas muitas livrarias que frequentei... até que fui dar um passeio com a minha filha à "Feira do Livro" de Lisboa, no passado mês de Maio e por lá andámos no meio da multidão olhando, mirando e remirando livros, procurando alguns autores conhecidos, até que na "Dom Quixote" demos com ele, sim, lá estava o nosso Ubaldo Ribeiro na prateleira a olhar para nós através do livro "Já Podeis da Pátria Filhos (e outras histórias)". Só pelo título de capa podem fazer uma pequena ideia do que está lá dentro, mas o nosso Ubaldo Ribeiro é mesmo assim, um escritor sem limites que eu gostaria ver reconhecido pelos leitores portugueses, até porque se conseguem ler o António Lobo Antunes até ao fim, concerteza vão gostar de ler o Ubaldo.
Achei estranho que há uns anos atrás o seu livro "Casa dos budas ditosos" fosse boicotado pelos hipermercados, em Portugal, com o argumento de que seria um livro pornográfico, talvez porque essa gente pensasse que o que faz em casa é erótico e sensual e o que se faz na casa do vizinho é pornográfico e marginal, mas adiante...
Acredito que talvez a vida fosse melhor vivida se João Ubaldo Ribeiro fosse porta-voz do governo socrático entre as publicações dos seus livros, porque tudo seria declarado e justificado com um sorriso irónico... até mesmo o aumento dos combustíveis.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O PREÇO CERTO!

- Oh RTP (usamos siglas só para manter o anonimato dos envolvidos), então de onde é que você vem?
- Eu não venho senhor Fernando Mentes, eu vou... vou a todas as casas deste país e como deve saber, saco-lhes umas dezenas de milhões de euros todos os anos, mas ainda não chega...
- Queres mais RTP?
- Claro que quero, eu vim aqui ao seu "Preço Certo" para ganhar...
- Então vamos ver a montra de prémios, que hoje é bastante boa, eu diria que "vale ouro"... constituída por meia dúzia de claques a chamar nomes ao adversário, um jogo da bola por semana, durante dois anos e com muitos jogos do Trofense, Paços de Ferreira, Académica e Setubal, que são sempre audiências garantidas, entrevistas "flash interview" com insultos ao árbitro e análises dos comentadores que sabem da poda como ninguém...
Entretanto o outro concorrente, TVI de seu nome, começa a falar um pouco mais alto e diz que nem o deixaram dar força na tômbola, que só não ofereceu mais porque aquilo só marca até 18 milhões...
- 18 milhões??? ena pá, que eu sou avantajado mas isto é ouro a mais... oh RTP o que é que tens a dizer, tu que estás todos os anos a dar prejuízos, meteste alguma cunha ao Teixeira das Finanças? bem, isto de dar prejuízo de 9 milhões ou 18 milhões é prejuízo na mesma e se ficarem mal dispostos aumenta-se a taxa ao povo...
- Senhor Fernando Mentes, nós estamos aqui apenas para equilibrar o panorama televisivo português e como sabe, o ano passado não tivemos jogos de futebol na RTP, com excepção de uns joguitos da selecção com o Azerbeijão, o Casaquistão e o Kwait, o que não deu para equilibrarmos as audiências e até tivemos de transmitir há dias o jogo das reservas das reservas do Benfica com... com... com o Estoril, estava a ver que não me lembrava. Por isso mesmo tivemos de atacar a TVI, apresentando uma proposta de 18 milhões de euros para transmitirmos os jogos mais importantes do Benfica com... com... com as outras equipas, claro.
- TVI, diga-nos quanto vale a "montra de prémios"? eu já disse que hoje "vale ouro", mas você só tem uma margem de 12,50€, o que é muito pouco e além disso estão ali na claque a gritar que nem uns malucos... mas não ligue ao que eles dizem, porque isto não está nada combinado para a RTP ganhar...
- Senhor Fernando Mentes, nós na TVI já fizemos uma proposta superior a 18 milhões, mas nem resposta nos deram... então nós pagávamos a verba na hora, o Estado recebia o IVA que eram nada mais, nada menos que 3,6 milhões de euros, poupávamos a RTP a um aumento dos prejuízos que o Orçamento do Estado tem de cobrir todos os anos e...
- Está bem, está bem, você não compreende o superior interesse nacional que é dar bola ao povo, ainda por cima em ano de eleições, a possibilidade de mandar uns comunicados do governo antes de um Benfica-Sporting... quanto vai apostar? vá lá que a seguir temos o telejornal...
- 18 milhões! - diz a TVI.
- 18 milhões! - diz a RTP.
- Adjudicado à RTP! - diz o socrático governo.
- Roubam-nos a toda a hora! - diz a plateia

sábado, 12 de julho de 2008

O TERRITÓRIO DA APELAÇÃO

Os territórios ocupados da Palestina vieram-me à memória quando fui ontem surpreendido com o início da guerra afro-romani da Quinta da Fonte, no concelho de Loures, em Portugal, um dos vinte sete membros da primo-mundista comunidade europeia, onde se vive bastante melhor que no resto do globo, de Marrocos ao Zimbabué, do Azerbeijão ao Nepal, da Bolívia às Honduras... e da Quinta do Mocho à Quinta da Fonte.
Então não é que a TV me mostrou os trabalhadores africanos e os empresários romanis aos tiros no meio da rua, imagens tão iguais às que costumo ver nos telejornais, com enviados especiais ao Iraque, Zimbabué, Palestina e Israel? ali mesmo, no meio da rua alcatroada e ajardinada de um bairro social onde, quase acredito, não se paga a ponta de um chavo pela renda de casa que o Estado mandou construir com o dinheiro dos poucos que contribuem.
Alguns simpáticos construtores da sociedade sem clivagens sociais, organizações não governamentais, dos amigos dos animais, do SOS Sadismo, dos grupos arco-íris, do green peace, do "make love not war", acham que o problema é devido à sociedade injusta em que vivemos, que tudo começou quando o Bush nasceu, quando os colonizadores colonizaram, quando o desemprego desemprega sempre os mesmos, normalmente os que não têm muita apetência para a coisa, ahhh já me esquecia do G8, essa tenebrosa organização que tem sempre atrás dela uns jovens que têm sempre dinheiro para ir fazer barulho na porta do hotel, seja no Japão ou na Cochichina... mas eu continuo a gostar de ouvir o Sarkozy chamar-lhes "escumalha", o que é que querem, cada um é como cada qual.
As imagens da TV esclareceram-me quanto à necessidade de andarem aos tiros, na medida em que os parvos que nos governam alcatroaram as ruas todas... se tivessem deixado as ruas sem alcatrão, sempre havia pedra com fartura para arremessar e não havia necessidade de armas, tal qual a Palestina que mantém as intifadas com muita pedra em ruas esburacadas e sem necessidade de andar a fornecer armas ao pessoal.
Outra coisa que me intriga é haver tantos técnicos sociais e não saberem que a integração cultural destas comunidades não se promove com casas de alvenaria. Com prédios de 4 andares, com jardins na frente e parque de estacionamento? é claro que depois é vê-los com tenda montada em frente do prédio, como tive o prazer de ver ontem na TV, em animada festa de aniversário, onde se faz barulho durante três dias e o vizinho que se lixe. Parece que esta malta andou por toda a Europa, desde Noruega, Suécia, Holanda, França e só se fixou em Espanha e Portugal... podem explicar-me porquê? parece que nesses países não podiam fazer barulho quando lhes apetecia.
Por último, li no Diário de Notícias de hoje que 90% (noventa por cento) das famílias da Quinta da Fonte recebe do estado o RMG (rendimento mínimo garantido)... deve ser tão bom que até dá para comprar armas.
Outra coisa interessante que reparei na reportagem televisiva foram os carros, alguns de gama alta, que enchiam os passeios da "Quinta da Fonte" (já repararam que não é "bairro" como antigamente? "quinta" é que é, para elevar o estatuto social)... pertencem todos aos 10% que não recebe o "rendimento mínimo garantido"? é capaz de dar dez carritos a cada um...
Os "nossos" amigos americanos parece que resolveram uns problemas com uns artistas nascidos nos Estados Unidos, filhos e netos de açorianos, que se meteram na marginalidade, de tal maneira que todos os outros entraram nos eixos e quase acabaram as deportações para os Açores... será que ainda há hipóteses de contratar uns "sherifs" nos Estados Unidos para fazer da Quinta da Fonte um lugar onde se possa viver?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

MARINHO?

Estou estupefacto! Na verdade estou muito mais que isso, mas esta foi a mais elaborada palavra que encontrei depois de ouvir a entrevista do bastonário da Ordem dos Advogados, nem sei até se essa de lhe chamarem bastonário tem alguma ligação semiótica com bastonadas, mas que ele as deu, não tenho qualquer dúvida.
Ao ouvir Marinho Pinto senti que estava ali alguém que não se verga, que diz aquilo que pensa com a convicção de que está ali a verdade, mesmo que a experiência me diga que a verdade é relativa e que ninguém sabe tudo de tudo.
Há uns tempos li uma crónica onde a certa altura alguém escreveu que quando lia um jornalista, sobre um assunto que não dominava, achava-o excelente, mas quando o mesmo jornalista escrevia sobre um assunto que esse alguém dominava, não o achava suficientemente profundo e conhecedor... será que acho Marinho Pinto tão esclarecedor só porque não percebo nada de direito? Mas há coisas que a minha pouca experiência de advogados, juízes e tribunais me leva, quase por reacção pavloviana a concordar com o bastonário da Ordem dos Advogados.
Tem muita força moral quem detém o cargo e fala da maneira que fala, pelo menos demonstra não ter rabos de palha, daqueles que o levariam a falar baixinho e sempre a um canto do salão da Ordem, mas já ouvi falar de uns meros seis mil euritos por mês que Marinho Pinto embolsa pelo cargo que desempenha, ao contrário dos outros que não recebiam nada, mas também compreendemos que ele tenha de receber para manter a sua independência em relação ao sistema... já viram o que seria Marinho Pinto enquanto advogado defensor de um qualquer cliente num qualquer tribunal deste país, com um qualquer juíz pela frente?
O que o bastonário disse é verdade? que 95% dos reformados mais bem pagos deste país são juízes? não é que ache que os juízes devem receber pouco, mas existe por aí uma lei que não permite que se ganhe mais que o Presidente da República. Que marcam inquéritos e audiências para a mesma hora, obrigando dezenas de pessoas a esperar horas ou um dia inteiro para serem ouvidas? que não se resguardam e recatam o suficiente em função da actividade que exercem, fazendo-me lembrar o caso da juíza que mandada soprar no balão às tantas da manhã, à porta de uma discoteca da capital, se recusou e deu voz de prisão ao polícia? que recebem subvenções que são autenticas fraudes aos cofres do Estado, como essa do subsídio para alojamento sem que paguem, como qualquer contribuinte os impostos respectivos? que têm um sindicato, quando fazem parte de um orgão de soberania, sem sujeição a condições de trabalho de um qualquer patrão? Que acumulam processos atrás de processos porque não decidem atempadamente? Que durante três meses não marcam audiências na maior parte das comarcas deste país, ou as que marcam são adiadas até vir a mulher da fava rica?
Pois senhor bastonário Marinho Pinto, se quer saber a minha opinião, posso dizer-lhe que a partir de agora não vou mais chamá-lo pelo nome porque acho que merece mais... o seu verdadeiro nome é, sem margem para dúvidas, MÁRIO GALO!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

ESTOU? ESTOU?

Na sociedade dos serviços, das novas tecnologias, dos tempos livres, viagens, praias, hotéis, dvd`s, cd`s, HD`s, Hi-Fi`s, MP3`s, MP4`s, e tudo o mais que está na montra de qualquer shoping, é mesmo preciso ter uma estrutura física e psicológica hercúlea para conseguir andar em frente sem que as sociedades de cobranças difíceis nos batam à porta.
Isto para não falar das milhentas coisas que é preciso ir comprando todos os meses sem que haja qualquer hipótese de dizer que "não, obrigado!", porque aí não se pode fugir, muito embora eu seja um dos milhões que não quer saber da marca para nada e olha implacavelmente para os papéis onde estão afixados os preços, com a atenção de um maníaco-depressivo que além do preço faz contas de cabeça para saber qual o produto que sai mais barato ao quilo ou à peça. Acho até que a minha aritmética mental me vai ajudando e em algumas ocasiões até as meninas da caixa registadora ficam a olhar para mim quando lhes digo o preço final ou o troco antes da máquina registadora. Se querem saber, dá-me gozo saber a como fica cada cerveja, ou se a de litro e meio é proporcionalmente mais barata que a tradicional de 0,33 litros, em princípio deveria ser, mas às vezes é mais barato comprar de lata, o que a ser verdade me diz que estes gerentes de hipermercado também têm uma grande lata...
E aquele desodorizante de marca que custa 4,00€, ao lado do desodorizante de linha branca a 0,89€? já viram qual é o meu preferido, não?
Bem, mas eu comecei esta crónica com um foco diferente...
TRRIMMMMMMM... TRRIMMMMMMM...
- Sim...
- Estou?
- Sim...
- Posso falar com o sr. Alberto Santos Carreira?
- É o próprio.
- Sr. Alberto Santos Carreira, já ouviu falar da Revista Pró-teste, da DECO?
- Já, sim, fui assinante, mas resolvi cortar nas despesas e agora não estou interessado.
- Mas, sr. Alberto Santos Carreira, agora tem 50% de desconto...
- Desculpe, mas sabe como é, a crise toca a todos. Boa tarde!
TRRIMMMMMM... TRRIMMMMMMM...
- Sim...
- Sr. Alberto Santos Carreira?
- Sim...
- Boa tarde, fala do Banco Toma Lá Pouco, Dá Cá Muito e queríamos oferecer-lhe um crédito de 100.000,00€ a pagar em 400 anos...
- 400 anos?
- Sim, desde que os seus filhos, netos e bisnetos estejam de acordo...
- Obrigado mas não posso aceitar mais créditos... ainda hoje vou telefonar ao Vale e Azevedo para ele me dizer como é que se safou dos créditos...
TRRIMMMMMMM.... TRRIMMMMMM...
- Sim...
- Boa tarde, sr. Alberto Santos Carreira, tomo a liberdade de lhe oferecer os nossos serviços, com televisão por cabo, internet de banda larga e telefone grátis através da nossa empresa "boaZONa"... está interessado?
- Obrigado, mas devido à crise mandei cancelar isso tudo e teve sorte em fazer a ligação porque eu até pensava que já não tinha telefone em casa...
- Mas olhe que por apenas 50,00€ por mês...
- 600,00€ por ano? sabe que eu posso ver quatro (4) canais de borla, grátis mesmo? Não obrigado, não vale a pena insistir, boa tarde!
Só espero que me cortem o telefone antes da próxima chamada.

domingo, 6 de julho de 2008

O EIXO DO MAL

Às vezes encontro programas na TV, ou melhor, alguns programas de TV encontram-me, sem que eu tenha feito qualquer esforço para os ter na minha frente, uns poucos bastante agradáveis e outros bastante desagradáveis. Claro que esse verdadeiro utensílio doméstico denominado "zap-comando à distância" ajuda imenso na busca do que nem sabemos vir a tele-apreciar... depois de andarmos atrás e à frente, à frente e atrás, fugindo das novelas e dos programas que teorizam as fintas do Ronaldo ou o novo contrato do mister Scolari, não é fácil encontrar um momento de boa televisão, porque quando isso acontece com algum entrevistado, há sempre um bom jornalista a interromper cada uma das vinte cinco respostas incompletas, porque bom jornalista é o que cria polémica, não é o que deixa as pessoas responder por inteiro às questões. Então, no meio desta luta tremenda com o comando acabei por sintonizar o magnífico "Eixo do mal", aquele programa onde quatro indivíduos vão debitando, eu ia dizer vomitando mas acho que não devo, pois vão debitando certezas atrás de certezas, ódios de estimação, prazeres mórbidos sobre tudo o que lhes caia na rede, de preferência presidentes, ministros, empresários e mais uns quantos do "jet-set"... é fartar vilanagem, não que eu tenha todo este pessoal em boa conta, mas esta rapaziada tem veneno até dizer chega.
Neste último "Eixo do mal" calhou na rifa ao ilustre bloquista e amigo dos animais, perdão, dos homossexuais, sejam eles de que género forem, Daniel Oliveira de seu nome, o presidente da França Sarkozy, que se outro defeito não tivesse bastar-lhe-ia ter casado com a elegantíssima Carla Bruni, para não ter os favores do amigo Daniel... caramba, o Sarkozy devia ter arranjado um amigo de fato de cabedal para viver com ele e nunca mais ouviria do simpático Oliveira uma crítica que fosse, mas assim será o eterno inimigo do "Eixo", até que alguém os ponha nos eixos e acabe com essa mesa redonda para críticos redondos.
Então não é que o Sarkozy chamou "escumalha" áqueles vândalos que incendiaram carros nos arredores de Paris? que não fazem nada, vivem dos subsídios de quem trabalha, vendem e compram droga e dizem que trabalhar faz calos? malandro do Sarkozy... ainda por cima ganhou as eleições democráticas a chamar escumalha aos meninos...
Agora vem o Sarkozy tirar dividendos da libertação de Ingrid Betencourt, tirando fotos com a senhora para daqui a uns tempos ganhar outra vez as eleições, sem ao menos dizer que a Colômbia é um estado fascista e só por causa disso é que existem as FARC que durante 6 anos acorrentaram 24 horas por dia Ingrid Betancourt e que segundo as suas palavras, os guerrilheiros sempre demonstraram desprezo pela vida das centenas de sequestrados que ainda mantém na selva da Colômbia... morte ao Sarkozy, dizia o Daniel Oliveira... se pudesse. Vá lá que ainda existem alguns no Bloco de Esquerda que prezam a liberdade e dispensam bem as parvoíces do Daniel Oliveira.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

SALVÉ SÓCRATES!

Por ele...

Salvé água mater de vida,
incomensurável estrela do universo,
capitólio, alvo submerso
de glórias e salmos prisioneiro,
títulos, honrarias e dinheiro,
até mesmo o ar que se respira.

Com ele...

Balão que a brincar se enche
de ilusão, sabor e certo jeito,
fazendo-nos levar a peito
um valor que não é tanto,
criando um natural ar de espanto
quando a festa tiver de acabar.

Sem ele...

Sentir que somos tão iguais
na arte de viver o nosso tempo
sem heróis e sem lamento...
iremos construir a nova casa,
dar sorrisos ao tempo que passa,
nem melhores, nem piores que os demais.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A MINHA VIDA LEVOU UMA VOLTA DE 360º...



"A minha vida levou uma volta de 360º..."
De quando em vez ouvimos essa frase, que dá a sensação a quem a diz que tudo mudou radicalmente e que normalmente expressa uma mudança positiva, porque quando a mudança é negativa e é real temos o necessário pudor de não a dar a conhecer aos outros e sabemos bem porquê, o afastamento é gradual, os convites para umas viagens, lanches ou festas começam a rarear e as dificuldades também nos fazem refrear a aceitação. Afinal deveria ser ao contrário, "amigo não empata amigo" quando tudo está bem e "os amigos são para as ocasiões" quando a situação está difícil.
Mas com algumas excepções, não há volta a dar a esta condição humana que defende os passarinhos e os direitos dos animais por um lado e mata o vizinho do lado que quer "roubar" um palmo de terra, por outro.
Na verdade dar uma volta de 360º é voltar ao ponto de partida, é dar uma volta para que tudo continue na mesma, o que acho não ser exactamente o que se quer dizer... talvez "mudar 180º fosse mais adequado às circunstâncias, ou seja, tomar o rumo contrário, deixar um percurso negativo para tomar um percurso positivo.
Ontem à noite fui surpreendido com a libertação de Ingrid Betancourt, a candidata à Presidência da Colômbia, que raptada pelas FARC esteve prisioneira na selva da Colômbia durante seis longos anos e comecei a pensar numa pessoa que iniciou uma luta política no seu país, com um percurso social e económico acima da média, correu atrás de um sonho, foi sequestrada por uma força político-militar revolucionária, com quem ela pretenderia encetar negociações caso fosse eleita presidente da Colômbia, passou imensas dificuldades e saiu do inferno ontem, agradecendo a todos a sua libertação.
Acho que aqui sim, a vida dela deu uma volta enorme e se no futuro encarar a hipótese de uma eventual candidatura em 2010, podemos afirmar com segurança que em cerca de 8 anos a vida de Ingrid Betencourt "levou uma volta de 360º" e voltou ao ponto de partida.
Nos tempos que correm, em países onde a liberdade e as eleições gerais e universais estão consagradas já não haverá motivos para que existam forças político-militares capazes de fazer valer os seus pontos de vista através da força das armas, pelo que estes acontecimentos podem abrir novas perspectivas, especialmente na América Latina e o facto de o Presidente Uribe, da Colômbia, ter tido um papel decisivo na operação militar de libertação da sua ex-adversária à presidência, vem reforçar alguns valores humanos muitas vezes esquecidos.
Ingrid Betencourt estará hoje bem mais preparada para compreender os dois lados do problema e será sempre uma voz autorizada e respeitada em relação às questões relacionadas com os problemas colombianos ou mesmo latino-americanos, por forma a que também na Colombia se dê meia volta ou a volta inteira aos problemas da fome, da pobreza e do subdesenvolvimento.
E se puderem, continuem a mandar umas bananas "chiquititas" que a malta gosta e são mais baratas que o melão de Almeirim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

O MEU MENINO É D`OIRO...

A propósito de um best-seller que saiu à estampa há uns dias, não sei porquê lembrei-me de uma outra notícia, proveniente de Itália, onde um juíz deu provimento a uma nota das finanças que condenava uma senhora a pagar cerca de 40.000,00€ (quarenta mil euros) ao Estado, em virtude de não ter declarado o dinheiro do seu trabalho sexual com os clientes, durante o ano de 2007, ou seja, andou um ano inteiro a deitar-se e a levantar-se com quem lhe apeteceu, se calhar até gozou à brava com alguns, que não devem ser todos maus, recebia e não passava recibo verde e no final não paga o imposto ao Estado.
Quer isto dizer que a madame andava a ser "comida" por toda a gente, recebia e não pagava nada, enquanto nós andamos a ser "comidos" pelo Estado, não recebemos e pagamos?
Depois vêm-me com conversas de que as leis na União Europeia são iguais, e tal e coisa, mas ainda bem que há juízes que não se importam e que procuram dar alguma coerência a isto tudo... acho até que o juíz só se mexeu quando encontrou a senhora à beira da estrada, deu-lhe umas trincadelas, pagou e ficou à espera do recibo.
Não sei e vocês vão ter de desculpar, mas não estou a ver porque é que o tal best-seller, o tal "menino de oiro..." me vem à memória quando me lembro do juíz italiano, das meninas loiras... loiras... doiradas... será disso? Ando um bocado baralhado e muitas vezes nem sei se as coisas são como são, com uma certa lógica... a propósito de lógica, parece que o Dias e Noites Loureiro ex-ministro de Cavaco Silva, "alma mater" ideológico do PSD, o "Schwarzeneger da Ponte", foi o pai da apresentação do livro do secretário geral do PS, engenheiro diplomado numa universidade modernaça e presidente do "conselho" de ministros PS, também ele um "laranjinha" nos seus tempos de juventude, talvez antes de ler Marx, não sei...
"Menino de Oiro" eu só conhecia o do José Afonso... "o meu menino é d`oiro, é d`oiro fino/ não façam caso que é pequenino"... se é pequenino é o mesmo de certeza. Mas já que estamos com o Zeca e títulos de livros, não ficaria melhor aquele refrão do "eles comem tudo" para o tal best-seller do senhor engenheiro?
Mas deve haver aqui qualquer "sinapse ideológico-cerebelo-cortical" que me leva a misturar putas e ministros quando nada o faria supôr, até porque se uns pensam outros ajem, mesmo que a ordem dos factores seja arbitrária, mas talvez se possam retirar daqui alguns ensinamentos que melhorem as relações entre as diversas classes que governam e se governam. O "click" não me vem, até porque os "clicks" não se vêm sempre que a gente quer, não é? mas talvez possamos melhorar o actual estado de coisas, com os juízes a mandarem as putas pagar imposto daquilo que recebem, a terem recibos verdes, descontos para idosos, consultas na Segurança Social e descontos para a reforma que, devido ao desgaste rápido da profissão deveria ser aos 40 anos.
Ahh, agora deu-me o "click", afinal os juízes devem obrigar as putas a pagar imposto e... não se esqueçam de obrigar também os filhos delas.