quinta-feira, 17 de junho de 2010

RENDIMENTOS

E o problema do deficit continua a preocupar toda a gente, uns porque têm de descobrir novas formas de arrecadar receitas e outros porque já sabem que têm de pagar até ao tutano os erros próprios e os alheios que ao longo dos anos foram cometidos e que agora se transformaram numa bola de neve cada dia maior, isto segundo os entendidos na matéria, afinal os mesmos que ao longo de quase quarenta anos têm governado a casa.
Como o dinheiro não é de quem manda, parece bem que se distribuam verbas sob a forma de subsídios, complementos, suplementos ou rendimentos, não se entendendo muito bem como a alguém se pode atribuir um rendimento, que pressupõe a prestação de um determinado serviço, a troco de nada e vai daí, aumentam-se as despesas do Estado com o único propósito de sacar as boas graças de uma multidão de parasitas que concerteza irá votar para manter a mama pelo maior prazo de tempo possível.
Agora que parece já não haver dinheiro para pagar a quem descontou uma vida inteira para a reforma, lembraram-se de apertar a malha dos subsídios, acrescentando uma alínea que, se não desse para rir, nos faria chorar a todos... então não é que o governo vai cortar o rendimento social de inserção a quem tenha mais de 100.000 (cem mil) euros em dinheiro ou acções? podemos concluir que havia gente com mais de cem mil euros em dinheiro a receber subsídios do Estado? acho que este governo me quer tirar a pouca sanidade mental que me resta...
Esses senhores sabem o que custa ganhar 100.000 euros? e sabem o que custaria amealhar essa maquia? fiz umas contas com a calculadora e seriam 15 (quinze) anos a ganhar o salário mínimo nacional durante 14 meses por ano, isto sem gastar o que quer que fosse, ou então talvez 30 anos a amealhar metade, porque a outra metade seria para não morrer de fome...
E será que um indigente pode ser subsidiado porque "apenas" tem 90.000 euros no banco? e a classe média que depois de pagar impostos, escola dos filhos, prestação da casa, prestação do carro e olha para a conta do banco permanentemente a zero, não pode pedir um subsidiozinho?
Há dias estava a almoçar em casa de um amigo, juntamente com mais cinco colegas de profissão e reparei que tínhamos deixado de ir ao restaurante e aceitavamos a ideia de comer ali mesmo sem refilanços, o que diz bem da crise em que a classe média se encontra, mas a situação complicou-se quando reparei que o único que morava em casa alugada se ria e gozava de todos os outros "proprietários" de casas e apartamentos. Dizia ele que estava num apartamento novo e pagava menos que os outros, que não pagava IMI, que quando a casa ficasse velha se mudaria para uma nova sem se preocupar com despesas, enquanto os amigos tinham pago o IVA, o condomínio, o IMI, as despesas de manutenção sobre a casa, um presente envenenado que os filhos receberiam no futuro, velho e decrépito e a obrigatoriedade de pagar ao Estado uma herança que na maior parte dos casos só lhes vai trazer chatices. E "assim vai o mundo" como se ouvia nos documentários do cinema, nos anos 70...
Antigamente havia políticos que contavam anedotas, mas hoje há políticos que são eles mesmos uma anedota.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O MUNDIAL!

De quatro em quatro anos temos direito à festa, seja ela das legislativas, das olimpíadas, dos europeus, dos mundiais e de mais uns quantos eventos que, se não satisfazem os gostos e as exigências do consumidor, sempre dão aso a que as atenções se concentrem e a comunicação social não faz outra coisa senão fazer-nos crer que sem mundial tudo se resumiria a uma miserável existência.
Este mundial africano tem a presença de Portugal, facto que não sendo por si só sinónimo de redução do deficit, aumento do PIB ou incremento do PEC, deve realçar-se devido ao facto de terem ficado 180 países de fora e de o nome de Portugal ser referido em todo o mundo, não tanto por ser campeão ou coisa parecida, mas pelo facto de estar presente e todos os jovens em todo o mundo falarem nas selecções e nos jogadores que a pepsi, a coca-cola ou as revistas de moda afirmam serem os melhores do mundo.
Há uns anos tive oportunidade de ver na tv uma sondagem de rua, efectuada na 5ª avenida, em New York, em que da dezena de "executivos" entrevistada apenas um conseguiu situar Portugal no mapa, isto antes de o Figo e o Cristiano Ronaldo serem tão conhecidos como o Bin Laden, acreditando eu que hoje a situação tenha mudado para melhor e o nosso país já seja mais conhecido e por razões positivas.
A "necessidade" de massacrar o povo com jogos, entrevistas, reportagens, debates, mesas-redondas, jornais, revistas e rádios durante este mês de Junho, leva-nos ao exagero de ficarmos desiludidos porque empatamos com uma selecção africana, não porque eles tenham jogadores de clubes ingleses, franceses, espanhóis e italianos, mas porque são africanos e... deviam ter perdido. Os italianos empataram? os espanhóis perderam? está bem, mas nós temos os melhores do mundo e empatar é mau até para o "rating" dos juros a pagar...
- "então manda-me jogar na direita, a mim, que só sei jogar no centro?" ninguém perguntou ao craque porque é que ele não jogou nada nem no centro...
- "jogaram muito devagar, sem garra, sem vontade... mas no próximo vamos ganhar!", dizia uma velhota muito simpática, num lar da 3ª idade... ou foi um jovem no Porto? ou foi um dos comentadores da tv? estou baralhado, porque o cidadão comum fala tão acertadamente como os comentadores de tv... e deviam?
Claro que vamos todos soprar as vuvuzelas se ganharmos e meter as ditas no saco se perdermos, mas isso não aconteceu sempre que tivemos a possibilidade de estar presentes nos diversos campeonatos mundiais? e o país não continuou fraquinho independentemente dos resultados?
Lembrei agora que a minha escola vai ter dois jovens a disputar o "campeonato do mundo de matemática" no distante Kazaquistão... Ronaldo? Deco? Liedson? Pepe? pois...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

REPARTIÇÕES

Comemora-se hoje o "Dia de Portugal", o que, se não houver qualquer problema de maior, irá acontecer no próximo ano, porque temos o hábito enraízado de comemorar tudo e mais alguma coisa, já dizia o Carlos Paião "viva o Sto. António, viva o S. João, viva o 10 de Junho e a Restauração! viva até S. Bento, se nos arranjar muitos feriados para festejar!", tudo isso apesar da crise, dos cortes orçamentais, da redução de postos, sejam eles militares, de trabalho, de gasolina ou até mesmo de postos de polícia, contrariando o aumento de autênticos postes de betão que são todos os membros de governo e afins que, parece que pegam de estaca e nunca mais saem de cena.
Hoje tive o grato prazer de preencher um pouco do excelente dia feriado, com o discurso do dinossauro excelentíssimo desta "selva", o senhor presidente da República, com o qual me deliciei numa boa capacidade de leitura de texto, um rosto fechado como exige o protocolo e um assessor fardado que sempre me faz lembrar o "emplastro" dos jogos do Porto. E a substância? uma delícia, não sei bem, mas acho que já estava na altura do pastel de nata que costumo acompanhar com o café... gostei mesmo, a minha alma portuguesa, a vontade imensa de sofrer, a tristeza que me invadiu, a saudade, tudo isso me fez recordar os últimos 2000 anos, desde que o Viriato andou à porrada com os romanos junto à Covilhã, onde por ironia do destino chegaram os "navegadores" do século XXI, não de naus, mas de carros topo de gama, a mamar qualquer coisa como 800 euros por dia de ajudas de custo, isto para defender as cores de Portugal.
E não é que o senhor presidente falou de repartições? aí é que eu fiquei de ouvido no discurso, porque quando me falam de repartições fico logo com pele de galinha, talvez porque a primeira repartição que me vem à memória é a repartição de finanças, que me olha com desconfiança quando tenho de fazer algum pagamento ou pedir algum documento, mas a tal repartição era outra e o senhor Silva dizia alto e bom som que era preciso uma melhor repartição de sacrifícios, acrescentando eu repartição de responsabilidades ou mesmo repartição de rendimentos. Pois é, temos de começar por algum lado e porque não uma melhor repartição de reformas, pensões e aposentações? é que no "Correio da Manhã" desta semana podia ler-se que o senhor Silva recebia 3 reformas, para além de se abotoar todos os meses com o vencimento de Presidente da República.
Se querem saber, se fosse comigo, depois de ler esta notícia no jornal, quem fazia o discurso do 10 de Junho era a empregada de limpeza do palácio de Belém... essa sabe bem o que é uma repartição de 500 euros mensais.
Se não fosse o medo de ver isto tudo a ir por água abaixo, também gritava "viva Portugal!".