sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

POSSO DIZER QUE SOU PROFESSOR?



Como todos sabem, uma das principais questões dos tempos actuais é a educação, talvez ao mesmo nível da justiça, da inflação, do desemprego, do governo, dos lucros da banca e de mais uma dezena de casos interessantes, mas por agora só me interessa comentar um dos problemas da educação, no caso o problema da avaliação dos professores, muito embora a gestão escolar, o estatuto de carreira e o estatuto do aluno possam ser abordados num futuro próximo, porque com um blogue activo haverá necessidade de lhe dar vida e os comentários começam a tornar-se um vício, essa "blogodependência" com um tratamento agendado nas consultas externas num qualquer centro de saúde, daqui por meia dúzia de anos.
Então eu, professor, com esta possibilidade blogática de meter a colherada na caldeirada da avaliação dos professores e ainda não tinha tomado a iniciativa? é verdade, afinal eu estava um pouco adormecido, achei que não ía acrescentar nada à dialéctica maníaco-democrática dos socráticos ministros e secretários de estado, donos de um background fabuloso na área das ciências da educação, aquela nova área do conhecimento pedagógico inspirada na perspectiva lúdico-terapêutica de Jean Jacques Rousseau, porque os meninos devem crescer livres, livres, livres... livres até dos educadores, de preferência familiares bem chegados, e dos professores que só criam problemas a uma minoria de jovens que não quer nada com a escola.
Pensa o governo que essa minoria de jovens que não quer nada com os pais, com a escola, nem com uma qualquer formação que lhe perspective um emprego futuro, pensa, dizia, que tem de ser levada ao colo até aos 35 anos com subsídios a jovens e uns anos depois com um previsível subsídio a idosos e para isso nada melhor que condicionar os professores com medidas que permitam um suposto "sucesso escolar" que, porque fictício levará a médio prazo a um previsível "insucesso social".
Bem, eu queria apenas dar uma simples opinião sobre a avaliação de professores, começando por recordar a existência de cerca de 150.000 profissionais de ensino, não estranhando que haja alguns com pouca qualidade, mas ao longo de todos estes anos, e para que se saiba eu comecei a minha actividade docente no longínquo ano de 1972 (36 anos já lá vão...) e sei que se a sociedade evoluiu aceleradamente nas últimas décadas, isso deveu-se em boa parte a uma classe docente competente e profissional, à qual me orgulho de pertencer.
Sim, vou ser avaliado em 2009, assim como fui avaliado em 1990, quando fiz o meu estágio profissional, assim como fui avaliado quando fiz a minha formação em Supervisão Pedagógica, com certificação do Centro de Formação Científica de Braga, para além de muitas outras formações ao longo dos anos, assim como fui avaliado pelos meus pares quando fui orientador de estágio de colegas muito competentes, assim como tenho vindo a ser avaliado pelos meus alunos ao longo destes últimos 36 anos.
Mas provavelmente irei avaliar alguns colegas, várias vezes por ano a cada um, mas terei de arranjar maneira de não faltar às minhas aulas e de os meus tempos supervenientes coincidirem com os seus tempos lectivos, o que não vai ser fácil.
Ah, é preciso observar, discutir planos, objectivos, acções, preencher fichas, tabelas, registar, avaliar? nada que não tenha feito ao longo dos anos...
Agora a assiduidade é diferente? também não deve haver problemas se a minha saúde física e mental não me passar rasteiras... afinal 30 dias de atestado em 36 anos de serviço, com duas operações ao menisco, no Hospital Particular e aos ouvidos, no Hospital de Santa Maria e recuperações supersónicas também não é nada de especial.
Alguém pensa que nesta altura do campeonato é a avaliação que me tira o sono? claro que não, mas devo confessar que o que me tira o sono é a irresponsabilidade de quem governa e a cada ano vai alterando a seu bel prazer as condições profissionais e sociais que acordaram comigo quando em 1972 decidi ser professor.
Hoje, confesso, tenho algum receio que o ano de 2017, em que poderei aposentar-me sem penalizações ao fim de 45 anos de serviço, seja alterado por um qualquer engenheiro para o ano 2027 ou 2037, porque o déficit tem de baixar dos 0,1%.
E porque o meu ramo é desporto e educação física, não me espanta que me obriguem a efectuar um duplo mortal, para me ser concedida a tão ambicionada e justificada aposentação.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O AUMENTO...


É interessante verificar em cada momento a estratégia económica, social, ou até mesmo jornalística, esse tal "quarto poder" que, penso eu, par a par com o "clero pós Woitjla" , a "nobreza política" e o "polvo(!!!)" determinam a forma como nos vamos governando.
Cheguei a casa e acompanhei com muito interesse a "antena aberta", que versava o possível aumento do preço do pão. 50% de aumento (!!!!!) é a inimaginável proposta dos industriais de panificação...
- Cinquenta por cento?
- Ah pois, então não vês que a farinha aumentou 100% nos últimos meses? parece que não lês as notícias...
- Oh pá, eu não tenho ligado muito a essas coisas, lá em casa a esposa é que compra o pão...
- Sim, já estou a ver que não ligas muito, mas se estivesses atento à bolsa...
- Cada vez mais vazia...
- Não é essa, pá... estou a falar do PSI20, do NASDAC, das grandes bolsas de valores, onde o petróleo, os cereais, os minérios são transacionados...
- Olha, se queres saber a minha opinião, o melhor é fechar as bolsas, assim já não se davam esses aumentos escandalosos de 50% e 100%.
- Já estou a ver que tu és daqueles que comem tudo o que lhe põem à frente, sem protestar...
- Ok, vou protestar... mas não estou a entender, os industriais afirmam que a farinha aumentou 100% e só pedem um aumento das carcaças em 50%? acho estranho...
- Sabes, nestas coisas da economia há uma repartiçaõ de custos, uma carcaça tem no seu preço final a farinha, o sal, a água, os fermentos, a electricidade, o gasóleo (queres a carcacinha à porta de casa, não é?), a mão de obra (o trabalho nocturno é mais caro)... e então, não te explico mais, mas a farinha tem 5% de influência no preço final...
- Então uma carcaça de 20 cêntimos tem 1 (um!!!) cêntimo de farinha? ora chegamos à conclusão que um aumento de 100% no preço da farinha, implica um aumento de mais 1(um!!!) cêntimo no preço final da carcaça...
- Pois...
- Estes industriais de panificação sempre me saíram uns malandrecos... quer dizer, se a farinha aumentasse 2,1% e a mão de obra aumentasse 100%, eles iam pedir um aumento de 50% no preço das carcaças? hummm, não me parece...
- Uma vez, no tempo da ditadura, aumentaram as carcaças de 3 para 4 tostões. O governo anti-democrático interveio e baixou de novo as carcaças para 3 tostões, mas este que é democrata, já disse que esse pretenso aumento seria escandaloso, mas assegurou que não vai intervir.
- Ora aguenta-te lá com esse paposseco!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

POBRES...

Fui este fim de semana alertado para um problema tão grave como a história da humanidade, que é o problema da pobreza nos jovens, assunto que a sociedade não tem por hábito abordar, na medida em que os pobres têm tido aos longos dos tempos, a humilde atitude de encobrirem as suas próprias dificuldades, verificando-se muitas vezes casos da tal "pobreza envergonhada". Talvez por isso o problema da pobreza não tenha sido muito discutida, uma vez que as pessoas e jovens vítimas não gostam muito de dar a conhecer essas suas dificuldades, ainda para mais numa sociedade como a nossa, tão pródiga em catalogar as pessoas pelo que têm, desvalorizando o que elas são...
Os jornais tornaram público um trabalho de campo que mandava os nossos jovens para o último dos quatro grupos dos "pobres" europeus, embora não estivessemos com tão más companhias como se possa imaginar, porque a Espanha, o Luxemburgo e a Itália estão connosco no grupo dos últimos, no parâmetro "jovens pobres", ou melhor dizendo em risco de pobreza, uma vez que a notícia afirmava que 25% dos nossos jovens correm risco de pobreza e é bom realçar este risco, porque estar em risco não significa ser pobre, pobre mesmo.
Não confio muito nestes trabalhos de campo sobre um tema tão relativo como a pobreza, uma vez que nem sei como tudo se organiza para chegar a uma conclusão, mas concerteza isso parte de um determinado rendimento económico do agregado, do seu nível cultural, dos meios que estão ao seu dispôr... será que um jovem em risco de pobreza no Luxemburgo estará ao mesmo nível de um jovem da Roménia, que embora pertencendo à União Europeia, não entrou no estudo por falta de dados?
O risco de pobreza é um problema de difícil quantificação, eu acho, mas não me admira nada que os jovens portugueses estejam em risco de pobreza e se encontrem no último grupo dos jovens europeus, até porque basta dar uma volta por essas escolas do ensino básico para confirmar alguns dados. Sabia que há uma elevada percentagem de crianças e jovens que saem de casa pela manhã sem tomar absolutamente nada? e que quando a professora distribui o leite escolar, perguntam se podem beber outro pacote?
Sabia que há uma imensa multidão de adultos que, sem rendimentos que o possibilitem, não se inibem de tomar o pequeno almoço fora de casa, sabendo que estão a prejudicar os seus filhos, não os alimentando suficientemente em casa? e que os serviços sociais, sabendo dessas situações, lavam as mãos como Pilatos?
Sabia que em Portugal a classe média e instruída tem em média um filho por casal, enquanto os menos favorecidos económica e culturalmente têm dois, três e quatro filhos, com o beneplácito de médicos, assistentes sociais e governo, que nada fazem para parar esse ciclo gerador de pobreza?
Talvez uma atitude mais responsável de quem governa nos fizesse sair em meia dúzia de anos da vergonha que é ter cada vez mais jovens em risco de pobreza, mas já alguém dizia que é necessário haver pobres e a economia não se desenvolve sem eles... e depois, para que eram necessárias tantas organizações caritativas, tantos peditórios, tantos bancos alimentares, tantos...
Afinal, poderia dizer-se que todos os jovens em risco de pobreza são tão necessários ao sistema, como o pão para a boca... mas eu continuo a pensar que talvez fosse melhor fazer um esforço para acabar com estes resultados que, na Europa, apenas nos envergonham.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O PAÍS QUE TEMOS...

É interessante tentar perceber como a nossa "maquina" se constrói desde que nascemos, as brincadeiras, as palavras, os gestos, os afectos, o "lego" da personalidade, as tristezas e as alegrias... depois a sensação de que vamos mudar o mundo, o tempo que dá para tudo e mais alguma coisa, em que só pensamos no que nos falta fazer por nós e pelos outros, sempre receptivos a coisas novas e a participar sem condições no que nos dá prazer e gratifica.
Passados uns anos estabilizamos, começamos a ver que as coisas não são tão fáceis como esperávamos, que afinal aquelas mudanças que imaginávamos só se fizeram em áreas tecnológicas e as transformações sociais criaram-nos situações de desconforto que nos vão levando a um progressivo afastamento dos amigos e conhecidos, das associações e das instituições onde deveríamos cumprir o nosso papel, como cidadãos empenhados e participativos que nos prezamos ou deveríamos prezar ser.
E porquê esta azia que prepassa em tudo o que é jornal ou revista, mesa de café, passeio da avenida, repartição, empresa, ou sala de estar de qualquer casa? provavelmente porque as pessoas pensavam ter hoje um melhor nível de vida económica, cultural e social, passadas três décadas de democracia e vêem que não é bem assim, contrariando a minha própria perspectiva de que passados os anos próprios de uma geração, entraríamos no século XXI com boas perspectivas, especialmente no campo das condições sociais. Afinal...
Afinal o que é que falhou? talvez uma classe política decente, com sentido do dever, com atitudes próprias de quem deve dar o exemplo, talvez um sistema de ensino que premeie quem estuda e que dê todas as condições de estudo a quem merece, independentemente das suas condições sociais, talvez uma justiça que puna rigorosamente quem pratica actos ilegais contra pessoas e bens, desencorajando os criminosos através do pagamento em dobro dos prejuízos que causam, talvez uma educação que comece na família, se transmita ao longo da vida aos mais novos e seja um factor de reconhecimento social.
Afinal a liberdade de cada um só pode ser plena quando todos a interiorizarem e valorizarem tendo em conta os direitos e deveres próprios de uma vida em sociedade. Ah, mas então não se pode fumar, beber, namorar, viajar, comprar, vender, manifestar, escrever, jogar ou brincar para não colidir com o direito dos outros? o meu avô já dizia que tudo pode ser feito na vida, com conta peso e medida, porque se todos se portassem na perfeição esta vida era um tédio e não seriam necessários juízes, advogados, polícias, governos, instituições de apoio, sindicatos, fiscais da ASAE, eu sei lá que mais...
Mas a crónica de hoje era só para falar dos meninos da Academia Militar, que, conforme dizia a minha esposa, tinham de se levantar às 6.30 da manhã, coitadinhos e aprender aquelas coisas todas de marchar, correr e saltar, para além de fazerem a cama e ainda terem de estudar, "não achas um exagero, aos 10 anos? coitadinhos...".
Olhei a reportagem e vi os miúdos na parada a fazer continência, numa atitude de respeito, aos seus superiores hierárquicos, satisfeito por saber que os meus impostos ainda servem para que alguns jovens deste país adquiram hábitos que lhes vão ser úteis ao longo da sua vida, como a pontualidade, o esforço, o estudo, a auto-suficiência e o reconhecimento e respeito dos mais velhos
Contrariamente ao que acabei de escrever, observei esta semana, na manifestação dos alunos de música em frente à Assembleia da República, mostrada pela TV, que enquanto esses jovens tocavam e cantavam o Hino Nacional, os polícias nas escadarias estavam de mãos atrás das costas, pernas afastadas e um deles até se deu ao luxo de falar ao telemóvel, o que demonstra bem a falta que fez a esta gente uns meses na Academia Militar. É que quando eu andei na escola, sempre me disseram para respeitar a Bandeira e o Hino Nacional, havendo até um texto no livro de leitura que indicava ser obrigatório as forças de segurança fardadas guardarem respeito na posição de "sentido".
Sei que os tempos são outros, sim, mas quero crer que não são melhores.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O VÍCIO...

Hoje não existem temas tabu, as pessoas dizem o que pensam, ou melhor, fazem por contornar os espinhos da liberdade, dizendo abertamente ou por meias palavras aquilo que pensam, afinal de contas a verdade é muito relativa e temos de prevenir situações delicadas como a de Pedro, que negou Cristo três vezes, ou a do Galileu que desdisse aquilo que sabia ser o pensamento correcto para salvar o esqueleto das brasas da Inquisição (escrevo com maiúsculas, só para que a malta não se esqueça que aconteceu).
Nos tempos actuais pensamos que não haverá o perigo da fogueira, mas a vida de cada um pode ser queimada em lume brando acaso uma opinião desinteressada possa ferir os tímpanos do poder, que a alma de quem manda já está curtida e não se magoa, infelizmente.
Tudo isto porque hoje li uma notícia relacionada com o Sr. Putin, filho de Putin creio, pelo lado do pai talvez, que durante 4 horas e 40 minutos desafiou o camarada Fidel, não lhe chegando aos calcanhares das 7 ou 8 horas dos discursos do 1º de Maio. Disse o chefe de estado da Rússia para quem o quis ouvir, que "O PODER É UM VÍCIO E PROVOCA DEPENDÊNCIA", o que me espantou absolutamente!!!! Eu, um simples cidadão de um país de 900 anos de história, contando a partir do rei Afonso, porque se começarmos a contar desde o tempo do Viriato, passa dos 1500 anos, talvez não tivesse razões para me espantar assim, mas vindo de onde veio a afirmação... fiquei convencido.
Eu tentei dizer baixinho que não, que uma frase daquelas, tão simples, não deveria provocar-me um estado de exaltação e admiração tão grande, mas o ser humano é assim mesmo, grita por um erro do árbitro e chora por um beijo perdido, mas exaltação no sentido figurado em que um indivíduo possa ver numa afirmação de Putin a vontade de ganhar asas e voar, gritando ao mundo a salvação... é obra!
E eu a pensar que vício, vício mesmo, era jogar nas slot machines do Casino Lisboa, ou no pano verde do Casino da Figueira, fumar ou injectar umas drogas, andar atrás dos putos da Casa Pia, consultar páginas de sexo na net... afinal havia outro!!! o vício do poder, qual serpente enrolada no pescoço do cavalo do poder, qual heroína para a qual se vai e de que quase nunca se volta, onde os filhos das melhores famílias se perdem em proveito do bem-estar do povo...
Agora compreendo a desgraça que se apossou dos Isaltinos, dos Loureiros, dos Ruas, dos Gomes, dos Machados que juntos somam centenas de anos de vício, sem que o povo os tenha elevado ao altar dos heróis da Nação, provocando em mim um sentimento de culpa e de vergonha que me obriga a ir para casa e ficar fechado no sotão, como castigo por alguma vez ter desabafado que "estes gajos querem é o poder", mal sabendo eu que afinal aquilo era vício, eles eram viciados e eu nada fiz para os tirar da "merda". Afinal a culpa é nossa, dos cidadãos anónimos de que faço parte.
Nas próximas eleições autarquicas, exijo a mim mesmo tudo fazer para tirar o meu amigo Azevedo, do vício em que está metido desde o início dos anos 90, no município de que faço parte.
Este será o meu contributo social, para libertar um cidadão do "vício do poder". Os meus concidadãos que façam o mesmo!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A CHUVA É PRECISA...


Esta manhã, como habitualmente, cheguei à escola às 8.10 da manhã para mais um dia de trabalho e começaram a aparecer no gabinete os mesmo de há cerca de 15 anos, o Miguel, o Carlos, o Pedro, o João, normalmente bem dispostos e com uma vontade enorme de tomarem o cafézinho expresso para atacarem as aulas das 8.30. E eu a observar como tudo se passa no dia a dia de um grupo de professores da mesma disciplina, com todas as condições de trabalho de um país desenvolvido... sim, porque nos sentimos de algum modo privilegiados pelas excelentes condições de trabalho que utilizamos, começando pelo polidesportivo 1, passando para o polidesportivo 2, depois o ginásio com todos os materiais necessário, de seguida o pavilhão desportivo que é um luxo e onde já se efectuaram competições desportivas internacionais, seguindo-se o estádio com a pista de tartan que utilizamos sem restrições e por último temos as piscinas onde levamos os nossos jovens para o habitual bloco de natação.
Bem, esta introdução que o meu professor Manuel Sérgio tinha o hábito de registar como prolegómeno, só serviu para o tal enquadramento que qualquer crónica necessita, mas já agora convém dizer que para além do café expresso, todos temos o hábito de apetrechar o gabinete com os mais variados apêndices alimentares que nos proporcionam uns batidos gelados no tempo quente, um cházinho, umas torradinhas e uns bolos secos logo pela manhã, bem como uns sumos fresquinhos quando a sede aperta. Tudo no gabinete? claro que sim, com torradeira, micro-ondas, frigorífico, máquina de batidos e o mais que agora não lembro... ahh e esquecia o fundamental, os dois computadores ligados à net, fundamental até para saber porque é que o badminton se chama badminton, não é Miguel?
Mas o tema de hoje não era nada disto, eu tinha pensado numa crónica sugerida pelo Miguel, acerca dos diálogos interessantes de que todos fomos protagonistas num qualquer lugar e a qualquer hora, quando nos cruzamos com amigos e conhecidos na rua... já repararam que é sempre a mesma treta sem um mínimo de substrato? aquelas perguntas das quais já sabemos a resposta que entretanto nem chegamos a ouvir, porque nem sequer paramos? pois esse tema interessante, cheio de interesse, capaz até de suportar uma tese de mestrado... era o meu tema.
Talvez começasse assim...
- bom dia...
- bom dia...
- como é que vai isso?
- vai-se andando...
- tem de ser, não é?
- o que tem de ser tem muita força...
- o tempo tá bom... tá um sol bonito...
- mas a chuva também faz falta... se não chove...
- já estou atrasado...
- ...
E lá nos safámos de mais uma abordagem que podia demorar uma meia hora, se entretanto tivéssemos entrado no tema da saúde... ele já estava pronto para atacar aquela dor nas costas, mas eu percebi e avancei pela avenida sem sequer olhar para trás...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

É MODÉSTIA, CLARO!

Ao ler o "Correio da Manhã" de hoje, não pude ficar insensível à sua primeira página e resolvi escrever mais uma cronicazinha despretenciosa, como todas as outras, sabendo que para além de uns amigos que a lêem, tudo ficará na paz do Senhor, porque já são horas de eu perceber que Marcelo Rebelo de Sousa, ou Pacheco Pereira, ou António Barreto "Rua" são outra coisa e eles sim, são pontos de referência da nossa vida colectiva, um bocejo deles é um despacho ministerial, um arroto deles é um romance...
Mas nao vou perder a vontade de escrever o que me interessa só pelo facto de ser um anónimo, até porque o anonimato pode ser uma boa maneira de ir onde me apetece, fazendo o que me apetece e como e quando... pois, está bem, não tens fotos na Lux, nem na Nova Gente (nesta eu já devia ter foto, só que a nova gente traz todas as semanas a velha gente...), nem na Flagrante (não existe? mas eu já ouvi falar nela em qualquer lado...), mas em contrapartida podes beber uma cerveja na esplanada sem te pedirem autógrafos, ou teres de levar com umas palmadas nos costaços, acompanhadas de um "admiro muito o seu trabalho!".
Tudo isto a propósito do título do "CM", que mais coisa menos coisa dizia "deputados não querem apresentar declaração de rendimentos". E em subtítulo vinha "o tribunal não lhes deu razão". Ora eu estou ao lado dos deputados da nação quando dizem que não querem os seus rendimentos na praça pública, porque isto é um estado (deveria ser em maiúsculas?) de direito e tal e coisa e coisa e tal... e que não foram para o poder para nem conseguirem ganhar para os charutos e que se isto continua assim o melhor é emigrar.
Ah, e se eram caixas de banco e ganhavam pouco e agora são administradores e ganham bem, isso também aconteceu ao Bill Gates e ninguém o chateia. Então agora os homens vão ter de declarar o que ganham aqui, ali e acolá, na assembleia, nas empresas, nas off shores e no totoloto? e se eles se esquecem de algum rendimento vão ter de pagar multas? e quem é que não se pode enganar ou esquecer de alguns trocos que lhe meteram na conta?
E já viram se algum assim mais pelintra, que só tenha o ordenadinho da assembleia da república (era para escrever em maiúsculas...) vê publicitados os seus rendimentos, com que cara é que os outros o vão olhar quando tiver que discursar sobre um assunto? nem olham para ele, é o que é...
Já me custa a mim que a declaração do IRS venha com os meus rendimentos preenchidos, porque sem saber porquê, fico em baixo só de me lembrar que houve alguém que sorriu de desdém quando a preencheu e ficou a saber que não ganho para pagar o mercedes que acabei de comprar (é a primeira vez que falo no assunto, mas parece que há um problemazinho com o importador...), quanto mais essa malta da Assembleia a ter de declarar o pouco que ganha para o muito que gasta. É deprimente, eu acho, sujeitá-los a tanto e isto é tudo obra de invejosos, daqueles que o bastonário começou a denunciar e que agora afirmam "ou há moralidade ou comem todos".
E eu que estou ao lado dos deputados, concordo com eles apenas porque sei que tudo isto não passa de uma afirmação de modéstia da sua parte, porque não fica bem andar aí a dizer a toda a gente o que ganhamos e porque a minha mãezinha já me dizia que "o dinheiro e a santidade é sempre metade de metade".
Mas, podem estar descansados, o admirável Pinheiro de Azevedo já há trinta anos dizia para não terem medo, que "isto é só fumaça".

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O EMPURRÃOZINHO...

Às vezes estamos bloqueados e não conseguimos elaborar uma crónica, não porque não nos apeteça escrever sobre os mais variados temas, mas porque eu não gosto de chover no molhado, quando todos são levados a falar de um só tema, tenho tendência para ir para o outro lado. Esta minha apetência vem desde os meus tempos de juventude, quando ficava em casa no carnaval, ou ía para a praça da fruta quando havia largadas de touros no outro lado da cidade e até mesmo quando perdia o primeiro quarto de hora de jogo em Alvalade ou na Luz só para não ir na maralha que entrava pela geral e pisava tudo e todos, com a ajuda dos cavalos da GNR, os cavalos mesmo, que não estou a falar dos agentes de segurança.
Mas a crónica não tem nada a ver com estes empurrões, que cada um vai tentando fugir deles o melhor que pode, muito embora em algumas ocasiões levemos com toques mais ou menos fortes no cadáver, sem que tenhamos tempo de nos desviarmos.
Também não podemos esquecer aquele outro tipo de empurrão, simpaticamente designado de "empurrãozinho", que de vez em quando topamos nos jornais e revistas, como a filha do ministro da justiça, que foi trabalhar para o gabinete do paizinho com cerca de 3.000 mocas por mês, o filho do ex-presidente (já não sei qual) que também foi empurrado para um lugar porreiro, pá!, a mulher de um deputado europeu nomeada secretária particular, em Bruxelas (para falar verdade, várias mulheres de vários deputados). Bem, para empurrõezinhos, estamos conversados.
E tudo isto a propósito da visita do ministro da Administração Interna, responsável pela PSP e GNR (ainda não percebi muito bem para que existem duas forças de segurança... talvez para haver lugar para dois comandantes, não sei...) a Rio de Mouro, aquela bela localidade dos arredores de Sintra onde pontifica o "homem dos 17 instrumentos" de seu nome Fernando Seara, rival de Marcelo Rebelo de Sousa na área do conhecimento global e planetário. Ele são investidas futebolisticas, aparições nas revistas do "jet-set", entrevistas em jornais e revistas, conselho nacional de desporto, entregas de globos, seminários, administração autárquica e outras que de momento não recordo.
E o que é que eu vi hoje na tv, enquanto o ministro Rui Pereira discursava para as câmaras? vi o multifacetado Seara a encostar-se ao ministro de tal forma que já não se sabia qual dos dois estava em primeiro plano. Estranhei toda aquela movimentação e reparei que o inevitável Seara estava a ser literalmente empurrado pelo secretário de estado José Magalhães, o ex-ortodoxo camarada que mudou de flanco quando viu que o comité central nunca mais ganhava as eleições. Seara sentiu-se empurrado e teve a lucidez suficiente para dar passagem ao camarada Magalhães que assim acabou o tempo de antena, abanando a cabeça para o "yes, minister".
Ao ver aquela dinâmica mudança de Seara por Magalhães, lembrei-me do Trotsky a ser afastado do palanque e eliminado das fotos oficiais e dá-me um certo gozo como ainda hoje chego a casa e o meu lugar está sempre ao meu dispôr, talvez porque não há aqui câmaras de tv.
Emplastros? há-os em todas as classes sociais e o governo deve preservá-los.