sexta-feira, 11 de maio de 2007

INCOMPATIBILIDADES...


Ao longo de 35 anos, que são os que levo de trabalho mais ou menos pedagógico com os jovens, tenho tido o cuidado de olhar toda essa dinâmica que envolve o processo ensino-aprendizagem e o desenvolvimento social, desportivo e cultural desta malta, a quem vamos transmitindo conhecimentos e referências que, penso, os ajudarão a construir a sua própria "casa".

Costumo dizer aos meus alunos que não espero deles, como professor de educação física, atletas de alta competição, porque isso é privilégio de uma minoria que na idade deles já tem vários anos de uma prática intensa, numa qualquer modalidade, mas espero sim que saiam da escola com uma gama de atitudes e comportamentos que os distinga dos marginais que encontramos nesses estádios e pavilhões insultando tudo e todos, organizando-se em gangs com objectivos distintos do normal adepto ou praticante desportivo.

Alguns tomam durante as aulas comportamentos nada adequados e, porque sabem que também fui jogador e treinador de futebol, ficam admirados quando lhes digo alto e bom som que "não quero atitudes do coice-bol" nas aulas de educação física.

- atitudes do "coice-bol", professor?

- sim, aquelas atitudes que vocês costumam ver dentro e fora dos estádios, quando ligam a TV para ver um jogo de futebol, com jogadores batoteiros a rebolar no chão sem que ninguém lhes toque e claques de matarruanos a gritar "filho da puta" quando o guarda-redes bate um pontapé de baliza.

O grave da questão é que a generalidade destes meninos das claques andaram na escola e muitos deles frequentam universidades, da mais "católica" à mais "independente". Alguns deles serão deputados, ministros e presidentes.

Afinal, eu hoje só queria tentar perceber a incompatibilidade entre a proximidade do portão de entrada da minha escola e os canteiros de árvores vazios que a ladeiam... é que quanto mais nos afastamos da entrada da escola, maiores e mais bonitos estão os plátanos que dão sombra ao espaço envolvente. Mas nos quatro canteiros da entrada, onde se juntam os futuros membros das claques do "coice-bol", a fumar e a dizer baboseiras, nem uma árvore de betão lá cresce.

Um dia vou fazer um mestrado sobre tudo isso...

3 comentários:

virginia disse...

Sim o eterno problema da relatividade da liberdade.
Fazes bem em insistir... todos o deveriamos fazer. A cidadania é um conceito muito forte que não se compadece com comportamentos fracos.
Rebelde... não esqueças que o desenvolvimento deve ser sustentado.
Com mansidão... continua a labuta.

Anônimo disse...

Assino por baixo. Só me faz alguma comichão aquela coisa do "ensino-aprendizagem". O eduquês, no seu esplendor.

Parabéns pelo blogue e muitos anos de colaboração no JT.

Zé Ricardo

vitorpt disse...

Caro José Ricardo,
essa do ensino-aprendizagem só me faz comichão se tiver sentido único. Mas já entendi, há uns anos atrás, que há sempre dois ou mais sentidos nesta vida educativa.
No JT estarei sempre que acharem interessante.
Vitor Lúcio