quinta-feira, 25 de março de 2010

A LIBERDADE É TRAMADA...

Há momentos em que queremos escrever, queremos começar e não sabemos como, não porque não esteja cá dentro o assunto, a teia de desenvolvimento e uma possível conclusão, a nossa de entre tantas possíveis, mas porque a ideia surge tal qual uma explosão e depois há sempre um tempo maior ou menor para deixar assentar a poeira...
Esse espaço de tempo é fundamental para podermos conduzir cada palavra no sentido que pretendemos, senão a crónica começa a assemelhar-se a um rebanho tresmalhado onde a cada palavra trazida ao contexto revela duas que fogem, nas não há tanto perigo assim, porque aqui no teclado sempre podemos substituir o cão rafeiro pelo rato informático, capaz de formatar e meter na ordem essas frases, impulsivas umas, explosivas outras.
O tema de hoje é exactamente a "liberdade", aquela liberdade que rebanhos, varas (sem segundas intenções), manadas, bandos (só de pardais) e multidões , perseguem e institivamente privilegiam quando de alguma maneira os querem condicionar em casa, na rua, na escola, na sociedade, ou onde quer que seja, o que tem dado aso a constantes mudanças sociais e políticas ao longo dos últimos séculos.
Entretanto apareceram conceitos novos, numa tentativa de puxarem a brasa à sua sardinha, uns mais conhecidos que outros, mas todos eminentemente panfletários, sem qualquer tentação pejorativa, tais como " homem livre", "sociedade livre", "liberdade política", "liberdade sexual", "liberdade condicionada", "liberdade com responsabilidade", de tal maneira que muitas e muitas coisas que os jovens hoje sentem como absolutamente normais e um direito que lhes assiste, já foram há bem pouco tempo uma utopia de liberdade, capaz de levar pessoas a lutar e a dar a vida por elas.
Tudo isto a propósito de dois grupos de jovens estrangeiros, espanhóis uns e norte-americanos outros, que visitaram a "minha" escola e que, ao ser-lhes perguntado o que mais gostaram desta experiência, responderam: - O clima de liberdade!
Jovens de países social e culturalmente diferentes apontaram a mesma resposta e esclareceram:
"- Nas nossas escolas, ninguém pode estar junto ao portão de saída, nem no exterior, nem no jardim durante o período escolar, muito menos sair ao portão da escola para ir até ao café comer um hamburguer, na hora de almoço. Além disso os jovens em Portugal são mais alegres".
Ouvi com atenção e senti que eles no fundo até gostaram desta experiência, mas será que os nossos jovens sabem utilizar a liberdade que têm da maneira mais positiva? e será necessário retirar-lhe essa liberdade só porque alguns não a sabem utilizar?
Entendo a liberdade como uma pedreira, de onde saem pedras que depois de esculpidas são maravilhosas e também muita pedra lascada, pelo que entendo que a liberdade é para ser trabalhada a cada dia, com desperdícios também, mas sempre mais proveitosa que se mandassem encerrar a pedreira.
Passou-me na frente um filme, com um só partido político, analfabetismo, com escolas divididas, rapazes de um lado e raparigas do outro, entradas separadas, profissões de homem e de mulher, votos nas eleições só para alguns... onde a liberdade não passava por aí.
Passa-me agora um outro filme que não tem nada do anterior, com muitos partidos políticos, com instrução mais elevada, com igualdade de direitos entre homens e mulheres, mas com desemprego, injustiça social, criminalidade... e a liberdade a passar por aqui.
Resta esperar que a sociedade ultrapasse todas as dificuldades sem nunca precisar de condicionar a liberdade, ela mesma.

Nenhum comentário: