sábado, 13 de março de 2010

OUTRA VISÃO

Em conversa com um amigo não existem temas "tabu" e tudo se aborda, as conversas são como as cerejas, uma segue a outra com ou sem conexão, como agora é usual com as novas tecnologias a trazerem a cada dia que passa novas/velhas palavras e conceitos, mas no fundo a conversa acaba sempre por começar com o tempo, a condição física de cada um, o trabalho ou a inexistência dele e... o governo claro, esse que parece estar sempre contra nós, mas que afinal zela pelo nosso bem-estar e não nos deixa cair no caos, como aconteceu na Islândia, onde a moeda desvalorizou mais de 50%, o desemprego atingiu 10% da população, as prestações das casas dobraram e o pessoal teve de vender o segundo carro e ir viver para casa dos pais, com a agravante de os desempregados ficarem a receber 756,00€ por mês, não esquecendo que as casas estão à venda e ninguém as quer, o que me leva a pensar que depois da crise... voltam todos para casa novamente. Conclusão da reportagem do "Diário de Notícias": os islandeses estão meio tristonhos, mas com as restrições que fizeram nos últimos seis meses, vão voltar a poder fazer férias no estrangeiro no próximo ano!
Aqui não há nada disso, por obra e graça de quem governa este nosso maravilhoso país de sol e praias, que esses islandeses nem sabem onde fica, porque só o problemazinho do desemprego prejudica um pouco o deficit, que não vai acabar dentro de 6 meses como na Islândia, mas vai demorar mais uns anos por cá, até porque se pagássemos tudo, o que íamos fazer a seguir, habituados que estamos a dever desde que D. Afonso Henriques tramou a mãe?
Claro que a conversa mudou de tema, continuando na mesma, como aquela tirada do meu amigo "olha, o governo propôs 150.000 novos empregos para quê?" e é verdade, olhámos lá para fora e vimos 50 automóveis à espera de algum interessado, as prateleiras do supermercado cheias de produtos como nunca houve, casas, andares, bicicletas e todo o tipo de bugigangas à espera de comprador... empregar as pessoas a fazer o quê, para vender a quem?... e olhem que o meu amigo já passou a barreira dos 70...
Afinal estes inocentes governantes propõem trabalho numa sociedade que pretende o descanso e só não avançam no sentido da história e da antropologia por têm vergonha, acabando por cometer erros que nem uma criança de 10 anos, ou seja, o trabalho deixou de ser necessário quando a tecnologia o substitui... e onde está o mal?
A meio do século passado alguém inventou a "segurança social" para prevenir a reforma dos trabalhadores, instituindo o desconto sobre a mão de obra apenas porque numa sociedade de mão de obra intensiva eram os trabalhadores que produziam e daí... descontavam. Depois de várias gerações e de uma transformação social e tecnológia surpreendente, os governantes continuam a insistir na mesma solução, sem sequer pensar que se um trabalhador desconta sobre o seu trabalho, uma máquina que produz por 50 trabalhadores não deveria descontar na proporção, a fim de assegurar o sustento dos trabalhadores que substituiu?
E se em 1900 o trabalhador tinha um horário de 16 horas diárias, em 1940 passou a 12, em 1960 passou a 8 durante 6 dias por semana, em 1970 começou a fazer 8 horas durante 5 dias, hoje o horário das 35 horas semanais é natural, porque é que quem governa acha que se deve aumentar o número de horas de trabalho? será, como diz o meu amigo para "produzir mais, para vender como e a quem?". No dia em que a semana de trabalho se resumir a quatro dias de sete horas, o trabalho será distribuído por todos, o desemprego baixará, os velhos serão substituídos por gente jovem e o país será mais feliz. Só precisamos de ter governantes com visão de futuro e que acreditem que a sociedade já produz hoje o suficiente para ser feliz e se alguns têm dificuldades é porque o que se estraga num lado faz falta no outro, apenas isso.

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