segunda-feira, 1 de março de 2010

CIÊNCIA?

Desde que me conheço que gosto do jogo "da bola", como dizia a minha mãe e desde muito pequeno que entrei no jogo a troco de 5 caramelos da bola, aqueles das coleções de cromos que comprava na loja do sr. Zé, lá na rua 31 de Janeiro e que tinha de pagar para poder jogar com a bola de "cauchú" do Chico Frazão, o filho do oleiro do bairro do Viola, onde vi pela primeira vez na vida os famosos "bonecos das Caldas", desde o mais pequeno até ao elucidativo de 5 litros, que dava para encher de vinho por altura da tourada do 15 de Agosto.
Como era um pouco maior que os da minha idade, tive o privilégio de começar a ser escolhido para a equipa do dono da bola por volta dos 10 anos e aí, já como jogador "titular" nem precisava de pagar os tais caramelos da bola, pelo que era jogar até se fazer noite e ouvir gritar que "o jantar está na mesa"...
Os anos passaram e de jogo de "pé descalço" e de "más companhias", o futebol começou a ser tratado como uma coisa mais séria, onde quem tinha algum jeito procurava uma colocação profissional à sombra de um clube, através de umas cunhas na Câmara Municipal, nos escritórios de alguma empresa ou numa actividade mais limpa que o trabalho duro das fábricas ou dos campos.
Entretanto, a crónica desportiva apareceu meio envergonhada e ainda me lembro que o Benfica teve um treinador inglês chamado Jimmy Hagan, o qual foi campeão três vezes seguidas, nos três anos em que treinou o clube e nunca deu uma entrevista aos jornais, rádio ou televisão, apesar de serem outros tempos, revela bem a forma como o futebol, o desporto em geral e os seus agentes desportivos não serviam sequer para tomar o pequeno almoço com os primeiros-ministros cá do burgo.
Hoje a coisa é bem diferente e agora sim, o futebol é uma indústria, os jogadores são estrelas do jogo e da publicidade, e para além do mais tem uma multidão de profissionais, desde o "emplastro" que voltei a ver na SIC, nas costas do jornalista que dizia o óbvio durante vários minutos, até ao comentador encartado que nos dava lições de táctica, estratégia, leitura de jogo e posições daquele que ia ser um verdadeiro jogo de campeonato, onde nada se decidia mas tinha também aspectos diríamos até... decisivos.
E nada como fazer do jogo a verdadeira leitura, onde o visitado estava bastante mal e onde o favoritismo era do visitante, claro, até porque no último jogo tinha dado uma cabazada... e nem temos de ir ver o histórico dos jogos entre eles, bastando apenas e só, comparar o currículum dos treinadores para chegar à conclusão de o estádio não conseguir encher, uma vez que os adeptos da casa estão muito desmotivados...
O quê? os mais fracos ganharam por 3-0? então mas esta "coisa" do futebol não é uma ciência? Pois ainda bem que não é, porque se fosse eu já sabia que o melhor ganhava sempre e já há muitos anos teria deixado de gostar desse jogo previsível sim, mas só o suficiente para que todos os adeptos possam imaginar a sua equipa a ganhar quando todos pensam o contrário, o que me leva a sorrir quando vejo e oiço tantos e tão pitorescos comentadores a fazer deste jogo uma ciência, afinal com os mesmos elementos de análise e resultados tão certos umas vezes e tão ridículos outras...
Afinal Jimmy Hagan tinha razão quando lhe tentavam arrancar uma análise ao jogo... "no coments!". É que assim, nunca se enganava nem caía no ridículo.

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