segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

MORTE NA PASSADEIRA...




A morte é o fim da estrada? afinal eu que sempre ouvi dizer que era o fim da estrada, estou baralhado, porque os factos demonstram todos os dias que não é bem assim, a morte é o princípio, o meio e o fim da estrada, porque quem nos governa não sabe o que é a estrada, quem dirige não entende a estrada, quem nos mata não vê a estrada, quem se mata não acompanha a estrada e tem o infeliz defeito de... atravessar a estrada.
Ainda por cima, há uns tempos atrás, uns peritos da problemática do trânsito inventaram umas riscas pretensamente brancas, bem iluminadas e detectáveis à distância, a que chamaram "zebras" para os "camelos", perdão, para os transeuntes arriscarem passar de um lado para o outro da estrada, o que apenas serve para as ambulâncias do INEM encontrarem no mais curto espaço de tempo, mais uma vítima.
- Alô, daqui Charlie 325, mais uma vítima na passadeira 1.036 da serventia municipal. Escuto.
- Daqui Charlie 325, na viatura do INEM. Dentro de 2 horas estaremos no local. Escuto.
Normalmente o condutor da viatura coloca em dúvida se a vítima estava mesmo a atravessar na passadeira, uma vez que depois de lhe dar com o carro a 130, ela fica sempre a 100 metros da passadeira. Ora, para que não restem dúvidas, o governo já devia ter aconselhado os peões a atravessar a estrada 100 metros antes da passadeira...
Concerteza são estas dúvidas uma das justificações para que os juízes condenem sempre os condutores a penas, que variam entre os 6 e os 8 meses de prisão, com pena suspensa por 2 anos e as vítimas à vida eterna.
Até já pensei que matar uma pessoa a tiro é muito mais perigoso que mandar-lhe o carro para cima, mesmo que seja na passadeira. Então com arma leva com 15 ou 20 anos de prisão e com automóvel são só 6 meses? A sorte do pessoal é que os gangs gostam de matar com pistola e ainda não repararam que com automóvel é muito menos perigoso e só dá 6 meses de choldra. Mas se forem dormir a casa depois do "acidente" e se entregarem no dia seguinte, na esquadra mais próxima, ainda apanham menos tempo, acho eu. E se contratarem um desses advogados que gostam de dar entrevistas na TV, então vão logo para casa e não se fala mais nisso.
Tudo isto a propósito de uma jovem estudante, com 20 anos, que ao atravessar a passadeira numa rua de Rio Maior, foi abalroada por uma carrinha do pão, coisa da qual eu não me tenha já lembrado, na medida em que as carrinhas de transporte de pão, com a necessidade de levar o pão fresco ao seus clientes, pela manhã, andam a uma velocidade que não se justifica dentro das localidades e se aconteceu em Rio Maior, acontecerá noutra localidade se não houver mais cuidado da parte dos condutores em geral e dessas carrinhas em particular.
É dificil para a família desta jovem estudante entender que a morte tenha acontecido onde menos se esperaria, quase diria que a dôr desta perda é mais sentida que, se acaso o fosse, por uma doença grave e progressiva, embora seja em qualquer caso uma perda irreparável, mas para quem tem filhos, os trata bem, acarinha, acompanha, vê crescer, projecta neles um futuro feliz e não consegue entender como uma simples passadeira de peões possa ser uma armadilha.
Sou condutor, ando na estrada e os meus filhos também. Preocupo-me cada momento em que penso que também nos pode acontecer algo e procuro transmitir-lhe esses cuidados, mas não estamos imunes... pelo que todo o cuidado é pouco. Quem pensa, lê, fala e discute o assunto, concerteza estará mais alerta para não cometer erros na estrada.
Talvez não seja como penso, mas um dia que seja atropelada a filha de um juíz de um qualquer tribunal deste país, a lei se transforme e seja menos condescendente com quem utiliza automóveis para matar.

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