quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

À (BA) TATA (DA)!




Sempre pensei num século XXI cheio de inovação, coisas agradáveis, trabalho ao serviço da condição humana, sem aquela visão do trabalho como castigo divino, impingido desde sempre com a história do Adão, da Eva e do Paraíso como resultado final de tanto sacrifício terreno. Vivi os anos 90 com sonhos de uma revolução tecnológica, social e cultural na entrada do novo milénio, mas sempre com aquele sorriso algo cínico que caracteriza os neo-cépticos, capazes como eu, de dar uma mãozinha para o bem estar dos povos e da nossa "consciência", com uns donativos através do 707707707, com 21% de IVA a reverter para os coitados que nos governam.
Mas como dizia o meu avô, atrás do tempo tempo vêm, quase sempre um pouquinho mais tecnológico, porque a tecnologia nunca avança do zero absoluto e o Homem começa sempre a sua condição humana do zero cada vez mais absoluto. Daí as histórias que temos que contar aos meninos, dos conselhos que ouvimos e transmitimos de novo aos mais pequenotes e que todos gostam de ouvir e poucos gostam de contar. Mas a "estória" que se segue é entre adultos, para que não haja confusão...
- Oh pá, já ouviste essa história do TATA, o tal carro indiano mais barato do mercado?
- Essa caixa de fósforos, mal-amanhada, que querem trazer para cá? não vale nada!
- Não vale nada? olha que parece ser razoável... 2500 euros, 600 cm3, 100 à hora... para um país pequeno como o nosso, em que um gajo se engana num cruzamento à direita em Portalegre e entra numa calle de Badajoz, eu acho que chegava bem...
- Ahhh, quem é que quer uma chocolateira dessas? nós somos europeus, pá!
- Mas já reparaste? dá 100 à hora e serve na perfeição para as cidades onde só podemos andar a 50, gasta 4 litritos aos 100, não chove lá dentro...
- Isso não presta! já viste isso em algum país desenvolvido?
- Não sei, mas nas grandes cidades o espaço para estacionamento ficava mais fácil de encontrar com carros mais pequenos...
- Cala-te com isso. Além do mais o governo já vai dizendo que não aprova esses carros, que poluem o ambiente...
- Ou será porque são baratos e o governo faz menos receita nos impostos?
- Poluem o ambiente, não têm ar condicionado...
- Mas o ar condicionado não prejudica o buraco do ozono?
- Não têm tanta segurança como os outros carros...
- Será que não os querem porque gastam menos e o governo recebe menos impostos dos combustíveis?
- Lá estás tu... o governo não os quer porque não prestam e na Europa é um descrédito para o país ter carros desses.
- Olha lá, e esses carros com motor a dois tempos, que fazem um cagaçal, andam com gasolina de mistura a poluir isto tudo, custam 4 vezes mais que os indianos, podem ser conduzidos sem licença de condução, de marca AIXAM, mais conhecidos pelos "Papa-reformas"... são melhores?

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse Tata interessa-me! O beberrão do carro da minha esposa gasta tanto ao mês como uma viagem ao Auramar hotel com tudo incluido...onde é que já ouvi isto?...Esse tata, pelo aspecto deve andar com qualquer combustível, desde óleo de fritar batatas como sopa a cheirar a mofo...

Miguel

virginia disse...

Nós somos "piquenos" só na honestidade... em tudo o mais é "á grande".
"Piqueno" é que não! Lembras-te?
Continua a escrever ... adoro ler e quero continuar a saborear essas emoções.