sábado, 5 de janeiro de 2008

25 DE ABRIL PARA COMEÇAR...








É verdade, hoje tive um encontro de 3º grau com o 25 de Abril, um daqueles momentos em que nos esquecemos de tudo, especialmente das coisas mázinhas do dia a dia, para saborearmos pedaços da nossa vida, especialmente porque na época pensávamos ter o mundo a girar à nossa volta, uma espécie de centrifugação planetária, na perspectiva de que até o Mao Tsé Tung olhava para nós, bem, acho que estou a exagerar, mas que olhava para o Durão Barroso, para o Saldanha Sanches e para a Maria José Morgado, isso era mais que certo.


Caramba, acho que às vezes era melhor ver "A Branca de Neve" do César Monteiro e ouvir os comentários do próprio à saída do cinema, do que estar sempre a lembrar esta passarada de bico dourado, que sempre debicou as pevides no pratinho do orçamento...


Estava eu descansadinho a fazer "zapping" nos canais que a tv cabo me vende, quando vejo o José Afonso no Canal Galicia e oiço uns acordes bonitos e conhecidos de longa data ... "somos filhos da madrugada/pelas praias do mar nos vamos/à procura de quem nos traga/ verde oliva de flor nos ramos"...

Porreiro, pá! os galegos a realizar uma "homenaxe ao Zeca Afonso"! e por aí fiquei, quase 2 horas de um belíssimo espectáculo televisivo que me fez sentir orgulhoso de ser um galaico-português do século XXI... então não é que o locutor (galego, claro) falava e não hablava? e todos nos entendíamos sem precisarmos de ler as legendas, como acontece quando o Camacho do Benfica vem debitar a mesma lenga-lenga semanal nas 4TVs4 portuguesas?


E veio um jovem caboverdiano Jon Luz, com cavaquinho e tudo cantar músicas de José Afonso "não tenhas medo da morte/ que daqui ninguém te arreda/ quando isto der para o torto/ lembra-te cá do colega), acompanhadas com filmes do dia 25 de Abril (e o Sousa Tavares de megafone no Largo do Carmo, apelando à calma "nesta hora de liberdade...").


Depois, tinha de ser, o Júlio Pereira, o Janita Salomé, o Vitorino (os barões da vida boa/ vão de manobra em manobra/ visitar as capelinhas/ vender pomada de cobra...), a Dulce Pontes, o João Afonso ("a palavra socialismo/ está muito mudada/ de colarinho à Texas/ sempre muito aperaltada."), o Tito Paris e outros cantores galegos de que infelizmente não anotei o nome... já repararam o gozo de ouvir as intemporais canções de José Afonso através destas vozes? e passou rápido, tão rápido que mais uma vez me lembrei da teoria da relatividade do Einstein. No final, vejo subir ao palco uma jovem, de cravo vermelho na mão... sabem quem? a apresentadora de televisão Sílvia Alberto, essa mesma, esse produto perfeito e acabado da democracia, que eu, simples ignorante, achava incapaz de dizer palavras tão significativas sobre a liberdade, tão própria do Zeca, num palco da "Galícia", onde tenho o privilégio de ter amigos que gostam de Portugal.


Por último ouvi a companheira de José Afonso, de seu nome Zélia Afonso, que eu nunca tinha visto na tv, jornais ou revistas falar de uma maneira simples e discreta do pensamento do poeta, músico e autor, sem uma palavra de crítica, salientando a forma simples, humana e coerente de um homem bom.


Num grande auditório de Pontevedra, sem custos de marketing e publicidade, a TVGaliza fez um excelente trabalho de divulgação da cultura portuguesa. Bem haja!


2 comentários:

tD@m disse...

Eu vi... e fiquei triste. Triste, pelo desaparecimento prematuro do Zeca. Triste por ver uma televisão não portuguesa ter a coragem e bom gosto de divulgar o que de bom ainda temos e que as "nacionais" ignoram por completo. Mas acima de tudo... senti saudade da frontalidade do Zeca, do seu saber dizer NÃO. Podem-me chamar piegas... mas... fiquei comovido.

Anônimo disse...

Eu também vi, longe do meu país mas também vi. E deu para recordar do sonho que todos vivemos.... sonho lindo que rapidamente passou a ser infestado de pesadelos.... Naqueles momentos até parecia que eramos importantes, que decidiamos alguma coisa, que tinhamos voz e opinião, que não eramos só número....não sei se era essa a realmente, mas nós sentiamo-lo assim.
Agora nem o sentimos.........Quanto gosto de ouvir Zeca ou todos aqueles que ajudaram com as suas canções de intervenção, a reflectirmos, a pensarmos no que nos rodeia..
Pen