segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

COMO DEIXEI DE FUMAR




Tinha 13 anos e já fumava, porque era uma forma de afirmação junto dos amigos, uma maneira fácil de sermos aceites e integrados no grupo, fosse ele de futebol, da "carica", da "palmadinha" ou no "sargento", uma variante do bilhar, com duas bolas e um palito, onde se ganhava normalmente para "o tabaco". Então eu ia para a Foz do Arelho, no verão, com a maralha e não levava um maço de tabaco no bolso? era certo e sabido que se não levasse, na disputa da boleia era discriminado e vinha para casa a penates que era para aprender. Pessoalmente, com tabaco ou sem tabaco, é certo que nunca fui discriminado, ora porque tinha um corpo acima da média para a época (hoje comparado com o meu filho seria um minorcas...), ora porque a jogar à bola também tinha um certo jeito e o dono da bola não podia correr o risco de desperdiçar um jogador como eu.
Mas na verdade, fumar era quase um atestado de maioridade para a malta nova, fosse na praia, na ida ao cinema ou nas matinés dançantes, onde se respirava fumo do tabaco durante horas e temos de reconhecer que não era muito agradável, até porque a roupa ficava a cheirar a tabaco e lá em casa havia logo quem falasse um pouco mais alto, não em relação aos efeitos nefastos na saúde, mas em relação à necessidade de lavar a roupa e nesses tempos ela era lavada à mão.
Na escola industrial quem fumava senão aqueles matulões que exibiam uma ou duas reprovações no curriculum? mas tinham a vantagem de dançar com as miúdas mais giras nas matinés ou no baile de finalistas... e quem não queria ser desses? então... fumava-se, pois claro!
E passaram-se alguns anos, demasiados, na companhia da "fiel fumaça", até porque viver sozinho entre os 16 e os 23 anos, com muitas noites bem passadas, estava criado o ambiente para a dependência e para a despesa do tabaco.
No dia 28 de Abril de 1978, em pleno Café Facho, sou confrontado com o aumento do preço do meu "Porto" de vinte cigarros com filtro, aumento de quase 30% como era habitual por essa altura, sob a influência do FMI e... não comprei! não comprei e nunca mais comprei, não que possa dizer sem qualquer sacrifício, mas com uma tal convicção que fui incapaz de voltar atrás com a decisão.

Mas fundamentalista, daqueles que andam a distribuir papelinhos, campanhas, manifestações e se possível mandar para a cadeia quem fuma, isso não, não alinho nessa e sempre digo que ao longo destes trinta anos de abstémia, sempre que houve casamento, almoço de curso ou sessão comemorativa, com uns bons vinhos à mistura, também fumei uma cigarrilha, como o inspector da ASAE, sem necessidade de me esconder de quem quer que fosse. Essa atitude de não fumar, serviu-me de exemplo para tomar posteriores atitudes na minha vida pessoal e profissional, de tal maneira que não encaro muito bem todas essas políticas de prevenção, aconselhamento e acompanhamento que vejo por aí a toda a hora, incapazes de melhorar a situação global no que diz respeito a determinados vícios. A vontade de mudar e melhorar está dentro de cada um e sem isso nada feito. Ah pois, há sempre necessidade de ter alguém que nos dê uma palmada nas costas e nos apoie sempre que estamos a hesitar, mas pouco mais que isso. A solução do problema é essencialmente de quem tem de tomar a decisão de mudar, seja em relação ao tabaco, seja em relação à droga, à bebida ou a qualquer outra coisa.
Sem isso, nada feito!

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