domingo, 2 de dezembro de 2007

HÁ COISAS DEPRIMENTES, NÃO HÁ?

Que a coisa está preta, já dizia o Chico Buarque há mais de trinta anos, um período de tempo que se transforma e nos transforma de tal maneira que para quem não quer saber de nada, tanto pode ser 30, como 300 ou 3.000... e há tanta gente que não quer saber de nada que até o nada as atrapalha. Tudo é tão frágil, fugaz e desinteressante para esta geração que até as borbulhas deixaram de aparecer na cara, para os preocupar com alguma coisa.
Se nos voltamos para a história recente, confundem o Eanes com o Gil Eanes, o Spínola com o Tomaz, o Bernardino Machado com o Machado dos Santos, o Sócrates com o José Sócrates, desconhecem o 25 de Abril, o 10 de Junho, o 1º de Dezembro, não conhecem Pessoa, Herculano, Aleixo, Torga, Ary dos Santos, Alegre, nem um versinho que seja, quanto mais uma quadra. Sabem lá quem foram e o que escreveram Fernando Assis Pacheco, Manuel da Fonseca, José Cardoso Pires, Ferreira de Castro, Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, Vitorino Nemésio, Alexandre O`Neil, José Gomes Ferreira, Eugénio de Andrade e tantos outros que nos encheram de palavras, sensações e sentimentos nos últimos trinta anos...
Vão por milhares de ruas, praças e avenidas deste país e lêem a Praça Sá Carneiro, Avenida Óscar Monteiro Torres, Praça Marechal Carmona, Rua Capitão Salgueiro Maia, Aqueduto Engº Duarte Pacheco, Avenida dos Aliados, etc, sem sequer sentirem a curiosidade de ir a uma enciclopédia tentar saber algo destes personagens.
Não se interessam por história, literatura, sociologia, arte, desporto, ficam fechados em casa durante fins de semana olhando a tv ou o computador, não se juntam com os amigos, não passeiam nos jardins, nem namorar sabem, que isso de namorar obriga a conversar, a dar a conhecer os nossos sentimentos, anseios, desejos, objectivos de vida, gostos e na verdade o seu léxico é tão reduzido que cinco minutos de conversa capaz deixa-os esgotados.
Mas há sempre momentos em que nos deslumbramos sem querer, olhamos essa coisa dos blogs e damos com verdadeiras obras, onde jovens escrevem trechos bonitos, seus ou que leram e acharam por bem divulgar, o que de alguma maneira nos conforta e ajuda a entender que para lá de tudo o que possamos pensar e criticar, os jovens estão a percorrer novos caminhos e a transformar esta sociedade onde os adultos também andam um pouco desorientados.
O meu pai levava-me ao futebol, às festas, à praia, sempre que achava que o meu comportamento era positivo ao longo das semanas e meses de escola, o que pressupunha boas notas. Tudo o resto, ir e vir da escola, jogar futebol, brincar com os amigos eram actividades diárias onde os pais não perdiam tempo, pois eram atribuições nossas que nos ajudavam a crescer.
Hoje fui ao futebol, onde esses jovens de 20 anos, lídimos representantes da actual geração "desenrasca", que a rasca já passou, se deitam para o chão e fazem batota, gritam a plenos pulmões palavrões de fazer corar um santo e riem-se dos adversários quando deveriam respeitar e respeitar-se. Talvez por isso a minha geração deixou de "ir à bola", aproveitando o tempo livre de outra maneira, protegendo os filhos e filhas daquelas cenas ordinárias. Entrei no campo ao intervalo, deixei cinco euros na caixa para ajudar o clube e saí a vinte minutos do final, com tempo suficiente para contar 160 almas.
É como os "gatos fedorentos"... "há coisas deprimentes, não há?"

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