domingo, 16 de dezembro de 2007

SEIS MESES SEM GOVERNO!

Não, não estou a exigir o que quer que seja, mas apenas a citar um jornalista que anunciava na televisão o facto extremamente grave, sublinhava o homem, de a Bélgica, um dos países mais desenvolvidos do mundo, não ter governo há seis meses.
Ao contrário do que os iluminados governantes de todos os quadrantes possam pensar, os governos apareceram para regular o funcionamento das sociedades, até pelo facto de a maioria das pessoas não ter capacidade intelectual ou económica que bastasse para se governar a si mesma ou no conjunto, legitimando de alguma maneira o aparecimento de orgãos de regulação e governos. Concerteza a situação levou o seu tempo, com algumas bordoadas no lombo daqueles mais intransigentes, que se achavam livres de não alinhar com os governantes, que se iam organizando por forma a manter ao longo dos tempos os Menezes, os Albuquerques, os Almadas, os Castelo Branco e alguns mais, sempre uns degraus acima dos Silvas, dos Sousas e de muitos outros menos.
E paradoxalmente, com a aquisição de melhores níveis de vida do povinho,os governos conseguem manter-se à tona e cada vez com objectivos mais complexos, de maneira que as pessoas pensem que sem eles seria o caos... e é bom que continuem a pensar assim, porque se começam a pensar que não, temos mais uns tantos desempregados nas estatísticas. Lembrei agora o inefável almirante Pinheiro de Azevedo que um dia à porta da Assembleia da República, anunciou a demissão do governo e mandou os trabalhadores da construção civil "bardamerda".
Casaco desabotoado, mãos enfiadas no cinto das calças, em pose típica de forcado amador, os jornalistas caíram-lhe em cima...
- Então e agora, sr. almirante?
- Agora o quê? agora não quero saber disto para nada, acabou o governo! estou farto de ser sequestrado!
Acho que foi uma altura histórica desperdiçada para inscrevermos Portugal na história mundial, como o 1º país da pós-modernidade a funcionar sem governo, muito embora já tivessem havido umas tentativas no Burkina Faso, na República Centro Africana e no Congo Brazaville, mas sem resultado, porque eram sempre os mesmos a passar fome...
Nessa altura fiquei preocupado e andei umas noites sem dormir, não sei se por medo ou porque os meus amigos continuavam a preencher comigo as noites longas do Café Facho, mas... andámos uns tempos sem governo e os trabalhadores da construção continuaram a acartar baldes de massa e a receber no fim do mês. Aí eu desconfiei que se calhar isto até andava mesmo sem governo...
Passados mais de 30 anos, aparece a Bélgica sem governo há mais de seis meses, o pessoal flamengo e valão continua a trabalhar, tudo continua tão limpo e higiénico como no tempo do governo e se não se despacham a arranjar um primeiro-ministro, os belgas ainda propõem a extinção "ad eternum" de qualquer governo, probindo-o como fizeram ao tabaco e à matança do porco. A propósito, fui no passado fim de semana a uma ilegal matança de porco, ali para os lados da Batalha, regado com uma ilegalizada água-pé e nem queiram saber o prazer que dá uma dentada na ilegal bifana...
Paradoxal será Bruxelas, capital da União Europeia, acordar um dia destes como capital de um Estado sem governo. Aí sim, começo a ter esperança no futuro, porque o meu avô, proprietário rural de uma courela de meio hectare, como o designava o Estado no início do século XX, já me dizia que viveu sempre sem sentir necessidade do governo. O velhote sabia o que dizia e nessa perspectiva eu compreendo a necessidade dos governos em não fazer evoluir muito a maralha. É que a malta, um dia, pode achar que vive bem sem governos.

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