sexta-feira, 27 de julho de 2007

ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA...

Antes de ir devorar uns dias de férias, é sempre bom escrever sobre um assunto que tenho defendido entre profissionais do ensino, grupo de que faço parte desde há 35 anos.
Sempre que olho para trás e às vezes é bom dar uma olhada, sinto que não era bem isto que eu queria, ou seja, a escolaridade obrigatória, pelo facto de o ser, não deveria colocar entraves no percurso dos jovens, até porque vi ao longo de todos estes anos exemplos de que a avaliação feita a cada jovem estudante acabava por não distinguir o nível atingido em qualquer tipo de desempenho profissional, apenas porque a escolaridade obrigatória serve, quanto a mim, para apetrechar os jovens com a instrução mínima adequada a um posterior percurso profissional.
A partir deste pressuposto, o que leva a escola a reter dezenas de milhares de jovens entre o 2º e o 9º ano de escolaridade, sendo ela de carácter obrigatório, tendo em conta que não se vislumbram quaisquer benefícios no desenvolvimento escolar desses jovens, tendo mesmo efeitos negativos na forma como reagem à escola?
Por exemplo, um jovem de reduzida capacidade cognitiva, chega à escola aos 6 anos e integra-se numa turma de jovens da sua idade. Participa nos seus jogos, socializa-se, mas não consegue obter resultados que lhe permitam passar de ano (sim, eu sei, no 1º ano de escolaridade não há retenções, mas estamos perante uma análise puramente académica). Vai ficando retido, retido… até que é já um jovem com 14 ou 15 anos. Aí, continua a não aprender, nem vai aceitar estar misturado com crianças de 7 ou 8 anos, começando a ser parte dos problemas de integração com os colegas de escola. Então o que se propõe?
A proposta mais natural seria que o jovem fosse passando ano após ano, apresentando uma avaliação cognitiva negativa, mas garantindo o sistema que ele acompanharia os seus colegas, da mesma idade e naturalmente do mesmo nível físico, possibilitando-lhe uma integração social, através da participação em actividades lúdico-culturais adequadas à idade. E como se faria a avaliação? Pois poderia fazer-se uma avaliação no 4º, 6º e 9º ano de escolaridade, como actualmente, chegando-se a um resultado final e à atribuição de um certificado de habilitações que, numa escala de 0 a 20, atribuiria ao aluno a classificação do ciclo de escolaridade obrigatória.
Por hipótese o certificado enunciaria que “fulano, concluiu a escolaridade obrigatória com a classificação final de X valores” (entre 0 e 20). Naturalmente, um aluno com a classificação final entre (zero) e 9 (nove) valores seria o tal aluno que ao longo de 9 anos, por algum motivo plausível, uma doença, por exemplo, não conseguiu aprender a escrever e contar (exagero, claro). O aluno entre 10 (dez) e 20 (vinte) valores seria o aluno positivo. Ao primeiro seriam aconselhadas instituições capazes de lhe proporcionar um desenvolvimento profissional adequado. Ao segundo seriam facultados os meios necessários ao prosseguimento de estudos.
Esta perspectiva iria, a breve prazo, acabar com dezenas de milhares de retenções anuais, as quais numa perspectiva económica possibilitariam um ganho de muitos milhões de euros à educação e ao país.
Fácil? talvez... mas há sempre quem goste de complicar as coisas.

Um comentário:

tD@m disse...

Parabéns. Com tantas acções de formação, com tantos bloguistas... com tanta falsa actividade... é com prazer que vejo o teu blogue de saúde e a recomendar-se. Sei que por vezes não é muito motivador para o nosso "trabalho" não haver quem deixe uma palavra, um incentivo, um abraço. Mas... é mesmo assim. Mantém-te activo. O tempo vai separar as águas. Os bons ficam, os curiosos... vão-se diluir no tempo. Já cá ando há algum tempo para poder dizer isto com alguma autoridade. Força companheiro.