quinta-feira, 26 de julho de 2007

MALUQUICES

O sol começava a deitar-se por trás da cidade universitária e aquela atmosfera frenética das sextas-feiras à tarde começava a perder intensidade. Afinal nos últimos anos o movimento tinha aumentado, mas aquilo que o Asdrúbal queria ver, pessoas a passar a pé por ali, era cada vez menos. Dentro dos carros, especialmente jeeps, a maioria deles bonitos e preenchidos com mulheres de olhos vidrados e a falar sozinhas, nada o poderia satisfazer mais que mandar umas bocas que só ele ouvia. Sentia-se livre, havia mais silêncio do seu lado, mais verde, mais árvores, mais batas brancas, perfumadas, comida a horas certas, ao contrário do barulho dos carros, das sirenes da polícia, dos gatunos, dos arrumadores, do cheiro a gasóleo mal queimado. Ultimamente o "seu" médico (qual é o pobre que tem médico do outro lado?) começou a chegar atrasado porque colocaram uns radares que não o deixam andar a mais de 5o à hora (já viu o BMW a andar a 50? este país é de loucos!).
Mas há pouca gente para conversar... as últimas conversas que teve foram pouco interessantes e se não tivesse o último livro do António Lobo Antunes na cabeceira, era o tédio total.
- Boa tarde, o 50 passa aqui?
- Sim, sim...
Ou outras mais profundas:
- O que é que você faz aí dentro?
- Sim, sim...
Quando era mais novo, quase todos os anos em Maio ou Junho tinha festa ali na avenida, com muita gente de bandeirinha verde ou vermelha, conforme o caso, a fazer maluquices e ele a olhar... mas agora é uma desgraça, só aparecem de 5 em 5 anos.
Agora, o Asbrúbal já sabe, sair dali nem pensar e até já é ele quem faz as perguntas, quando encontra alguma alminha a passar junto ao gradeamento:
- O que é que você faz aí fora?

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