terça-feira, 29 de abril de 2008

A DESGRAÇA ESTÁ A CHEGAR...

Eles dizem que é a crise, mas eu acho que não, eles estão a ser muito bonzinhos connosco, dizem as coisas com o sorriso do Ronaldo quando acaba de marcar um golo, só para que nós não nos assustemos, é verdade, eu vi o Peres Dizêlo, perdão, vi o Peres Metêlo afirmar no jornal da noite da TV que a coisa está preta, tão preta que talvez tenham já morrido de fome uns milhões por falta de massa... mais grave ainda que morrer doente é morrer sem massa, arroz, farinha e trigo para alimentar a malta.
Quando eu era miúdo, o meu pai dizia que lhe estava faltando a maçaroca (ou massaroca?) para sustentar cinco bocas e tudo se foi resolvendo com uns corpinhos esculturais sem açucares, chocolates, gelados, bombons, drops, coca-colas, matutanos, chocapics, bolos com creme (só nas férias de verão, na praia de S. Martinho do Porto, com 2 ou 3 idas e vindas na automotora da CP...). Agora vem o Metêlo dizê-lo, com um sorriso, que essa treta da comida deitada no lixo, do pão estragado deitado nos contentores, adeus oh meus amores que se vão... acabou, não porque somos hoje cidadãos mais instruídos e mais educados, mas apenas porque os cereais estão a aumentar de preço e vem aí o racionamento, talvez pior que aquele da 2ª guerra mundial, pior ainda que a "sardinha para três" que a minha mãe contava... uma desgraça total que só Jesus com a multiplicação de pão e peixe nos poderá salvar.
Tinha um amigo que dizia que essa estória de não haver pão e água não lhe fazia diferença nenhuma desde que continuasse a haver papossecos e vinho tinto, afirmando alto e bom som que quando fôr verdade que o défice de alimentos seja um facto, o som e o cheiro da fome ouvir-se-á para lá do deserto e o silêncio abafará todos os sorrisos dos Metêlos cheiinhos e carnudos.
A verdade é que a crise de que falam e escrevem uns entendidos de esquina de padaria é um embuste para que uma meia dúzia de organizações económicas se apoderem de mais e mais valor à custa de umas mortes sem sentido, que eles mesmos vão promovendo, de preferência no Sudão, Somália e mais uns quantos lugares fora dos circuitos turísticos e que não se vejam desde a estrada que os conduz ano após ano a Davos, na rica Suíça.
Um mais eficaz e desenvolvido circuito de distribuição de alimentos, que a Europa dá para zonas em risco e que são roubados e vendidos nos Roque Santeiros africanos, isto para falar de alimentos, porque se falarmos de carros dados, doados e roubados, esses chegam em perfeitas condições aos mais incríveis lugares da selva africana.
Mas por favor, não me martelem a cabeça todos os dias, os jornais e tvs com essa desgraça da fome em Portugal e até na Europa, dizem alguns analistas, quando se constata que são centenas de milhar os portugueses que tentam diariamente deitar para o lixo, nos "health clubs", as toneladas de gordura que consomem sem proveito e com prejuízo da saúde, já para não falar nos contentores dos supermercados que se livram de produtos em perfeitas condições, porque amanhã é dia de chegar nova carrada.
Tantos estudos, tantos mestrados e doutoramentos e ainda não se lembraram de comparar o peso e altura dos portugueses na década de 50 ou 60 e os tempos actuais? chegaríamos à conclusão que estamos a produzir e a consumir o dobro do que necessitamos, estragamos e deitamos para o lixo demasiada comida, especialmente e infelizmente nos refeitórios escolares onde está a geração da abundância e do consumismo desenfreado.
Fome? com os algarvios a enterrar metade das laranjas que produzem porque ninguém as quer? com os figos a secar nas figueiras sem que ninguém os apanhe? com metade da azeitona a ficar nas oliveiras, mesmo quando os proprietários as oferecem a quem as quiser apanhar? com os hipermercados a facturar cerca de 15 milhões de euros por ano em "comida para cães e gatos"?
Como quem não quer a coisa, já estou a encher a dispensa de tudo o que sejam cereais, que eu não passo sem uma sopinha de letras, mas também já pedi uns bidons para encher de gasolina, que ainda me lembro das filas dos anos 70 para poupar 2 tostões em litro, porque desta vez estes jornalistas podem ter razão com a crise e eu não quero ser apanhado sem nada para comer e sem poder dar uns passeios ao Algarve.

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