sábado, 26 de abril de 2008

ONDE É QUE ESTIVESTE DEPOIS DO 25 DE ABRIL?

Lembrei-me da célebre pergunta do Batista-Bastos "onde é que estavas no 25 de Abril?", tantas vezes referida e parodiada até pelo Herman José, do qual eu guardo bons programas e esqueci outros bem ruinzinhos, valha-lhe Sto. António, questão essa colocada para umas vezes saber onde estavam os inquiridos e outras só para saber onde não estavam...
Acontece que a minha geração, a do 25 de Abril, desculpem a apropriação mas um jovem de 19 anos a viver uma revolução militar e social é uma memória que não se apaga e concerteza um privilégio ter essa idade nessa altura, tal como outros terão tido 19 anos em 1910, aquando da implantação da República.
Foi um turbilhão de coisas novas, o cabelo pelos ombros, as calças à "boca de sino", os filmes para adultos ("garganta funda", "emanuelle", "o último tango em Paris"...), os filmes de excessos, como "Viva la muerte" de Arrabal, os filmes políticos como "Chove em Santiago", de Costa Gravas, um realizador empenhado em causas políticas, a coca-cola, revistas como a "Gaiola Aberta" do proscrito Vilhena, jornalista, escritor e caricaturista, que troçava de tudo e mais alguma coisa, qual Cesar Monteiro das realizações cinematográficas e radiofónicas (estou a lembrar-me de "Branca de Neve"), a música de intervenção (José Mário Branco, José Afonso, Júlio Pereira, o GAC, Fausto, Sérgio Godinho - a paz, o pão, habitação, saúde, educação), o Jazz de Cascais, o subsídio de férias e o pagamento dos meses de verão... é verdade, cerca de 90% dos professores só recebiam 9 (nove) meses por ano, antes do 25 de Abril, os gira-discos a passar música do Patxi Andion (... sera que los frios de invierno estan llegando?...), os livros do Henry Miller e depois a alfabetização de adultos, feita de convicções e vontades, com a Dina, o Luis Varela e a Isabel Costeira, em Vila Moreira e Alcanena, nos tempos do tal empenhamento revolucionário, e sem quaisquer contrapartidas que não fossem o prazer de sermos úteis a umas dezenas de pessoas que aprenderam a ler e escrever, recebendo o diploma da 4ª classe após um exame que os tornou mais e melhores cidadãos.
As viagens à Aula Magna, com o Zé Abreu e a Lisete, para dar corpo ao SGPL (ao fim de 33 anos de sócio continuo com o mesmo nº 9857, num cartão ainda assinado pelo Ludgero Leote, o primeiro presidente do sindicato, alguns poucos comícios e um afastamento progressivo das confusões, com marcação de presença em eleições locais sempre que achei que o devia fazer. O pior é que a minha geração optou por deixar que os seus filhos fossem descobrindo por si mesmos a democracia, a liberdade e os seus próprios compromissos sociais e políticos, porque não se deve interferir, porque cada um deve seguir o seu próprio caminho e porque... porque... não havia pachorra para contar histórias do 25 de Abril e porque todos éramos contra a interferência na formação política dos nossos jovens.
E eles cresceram livres e felizes, fermentando a ignorância política capaz de dar margem de manobra aos maiores disparates:
- Ah sim, o Salazar... pois, matou-se no bunker quando perdeu a guerra...
- General Eanes? hummm não conheço... mas não era um navegador português?
- Spínola? Então não foi o que derrubou o Salazar?
- Marcelo Caetano? ahh esse eu sei, fugiu para o Brasil e quando voltou ganhou as eleições a seguir ao 25 de Abril.
- O "Hotel" Saraiva de Carvalho? nem sei se fica no Algarve...
- Então se eu tenho só 30 anos, como é que quer que eu saiba alguma coisa do 25 de Abril?
Ontem procurei saber junto da minha filha se o 25 de Abril é só um feriado e, de uma jovem licenciada e profissional competente acabei por perceber que ela deveria ter investido um pouco mais na observação/intervenção política... acho até que há uns tempos disse ao rapaz para se inscrever no PS e à menina para se inscrever no PSD, plano estratégico necessário e suficiente para uma adequada carreira política, mas... eles não foram na conversa.
Há uns anos fiquei estarrecido quando um jornalista da SIC entrevistou uns "yupies" na 5ª Avenida, em Nova Yorque, e lhes perguntou se sabiam onde ficava Portugal... um entre vinte acertou que ficava ao lado da Espanha e tinha umas praias muito bonitas no Algarve.
Afinal porque é que os americanos deveriam saber mais de Portugal que os próprios portugueses? ontem o Presidente Silva esclareceu-me e eu agradeço.

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