quarta-feira, 19 de março de 2008

"DIA DO PAI"

Nesta quarta-feira de chuva e frio, 19 de Março de um dos muitos calendários, acharam por bem comemorar o "dia do pai", todos aqueles que, como eu, precisam de inventar em cada dia um elo de ligação aos outros e neste caso aos filhos. É comercial? humano? socialmente aceitável? psicologicamente motivador? acredito que sim...
Acordei manhã cedo e logo o infatigável Macedo, na Antena 1 me lembrava o "dia do pai", a necessidade de recordar, com um abraço, uma prenda, um telefonema, aquela pessoa que nos ensinou a andar, a falar, a saber ouvir sim e não, o homem que foi nosso "herói" e que com o rodar dos anos foi exemplo, companheiro, amigo e no final... sábio.
O meu pai, infelizmente, já não pode (ou será que pode, lá no silêncio das estrelas?) ler estas palavras que evocam um homem bom, distante e próximo o suficiente para sentirmos a sua presença, o seu apoio, músico excelente que não me cansava de ouvir e que em cada dia festivo era admirado e elogiado pelas suas qualidades.
Foram mais as dificuldades, tempos difíceis que passaram e que calejaram essa geração da 2ª Guerra para saber ultrapassá-las, pais de um país pobre, económica, cultural e socialmente, onde os filhos quase sempre ficavam pela instrução primária e eram mão de obra barata quando ainda não tinham deixado de ser crianças.
Não gostava de praia, mas ia levar-nos ao areal da Foz, onde esperava pacientemente o fim de tarde de um qualquer dia de verão para nos trazer de volta a casa.
Mas gostava de "correr" de bicicleta (diziam-me em pequeno que era um bom ciclista e ganhava provas nas aldeias), ir ao café com a família, só ao sábado, como era normal na época , conversar com os amigos, ler a "A Bola", ir comigo ver o Benfica ao Estádio da Luz, naquelas noites de 4ª feira europeia, ver vencer o Dukla de Praga, o Feyoonord, o Vasas de Budapeste, o Real Madrid, sei lá... nesses anos sessenta era ele o meu "herói".
Crescemos ambos, fui à minha vida, como era normal acontecer e a casa cheia dos anos sessenta foi ficando para os pais viverem a sua vida, para aqueles dias de férias ou uma ou outra visita ocasional, em que o encontrava sentado no "seu" sofá, com aquele sentimento de quem estava em paz com todos. Acho que não conversei com ele tanto quanto devia, mas os nossos silêncios foram sempre pontes que nos ligaram durante todo aquele tempo em que nos fomos conhecendo e construindo.
Ele nunca o disse, mas orgulhava-se do caçula, tenho a certeza, da forma como fui crescendo, do trajecto escolar, desportivo e profissional, mas tudo isso só aconteceu porque tive este pai herói, companheiro e sábio, pela forma como soube dizer-me muitas coisas, às vezes só com o olhar, um sorriso ou meias palavras. E eu, que nunca comemorei "dias", estou agora a lembrar-me do "dia do pai", especialmente porque tive um dos melhores e procuro ser hoje tão bom como ele, fazendo por merecer as mensagens que o telemóvel hoje me trouxe e que me souberam melhor que um folar da Páscoa.
Não, não esqueço os pais sem filhos, todos aqueles que gostariam de receber um pequeno gesto, um carinho e que por um ou outro motivo estão impossibilitados de comemorar. Para eles vai esta minha crónica.

3 comentários:

Anônimo disse...

PARA QUEM É TÃO FRIO E DISTANTE NO DIA A DIA,PARA COM AS PESSOAS QUE TE RODEIAM; ESTE COMENTÁRIO AO DIA DO PAI CHEIO DE SENTIMENTALISMO É SINAL DE MUDANÇA. SE CALHAR É SINAL DE ENVELHECIMENTO.

vitorpt disse...

Quem tem blog, tem medo...
mas sou dos que pensam que é melhor dizerem mal, que não dizerem nada. rs

virginia disse...

Obrigada mano... não consegui conter as lágrimas. Foi da emoção partilhada, da alegria que o nosso PAI sente, onde quer que esteja, pelos filhos que criou.