sexta-feira, 28 de março de 2008

DÁ-ME O TELEMÓVEL!

Ultimamente tenho lido algumas coisas sobre todas aquelas alterações sintáticas, morfológicas e outras que me esqueci, mas que vou tentar saber junto das colegas da área de letras, como se dizia há uns anos atrás, e que saiu a público como "Novo Acordo Ortográfico", necessário segundo os especialistas, para uniformizar a língua portuguesa entre todos os PALOPs, em geral e zonas de Miranda e Minde em particular. Isto no que diz respeito ao texto escrito, porque no falado cada um faz a "piação" conforme lhe der mais jeito.
Se alguma vantagem traz o "novo acordo ortográfico" é não haver necessidade de escolher aqueles downloads marados e executá-los com "português de Portugal" ou "português do Brasil", tal como vem nos programas com que vamos enchendo a "carroçaria" do nosso portátil. Assim, a vidinha fica facilitada e dentro de algum tempo estaremos a executar programas na internet com "português dos PALOPs", o que bem vistas as coisas, nos coloca ao lado da Commonwelth, com a importância geo-estratégica que daí advirá e até o "anti-acordo" Vasco Graça Moura acabará por concordar.
Mas o que me trouxe a esta crónica e ao título (não tem nada a ber com o Porto, carago!) é o facto de não termos capacidade como povo, para aceitar que a sociedade evoluiu e que o que em determinados momentos alguns sectores mais conservadores preconizam é o regresso... esquecendo o progresso.
E o progresso é que está a dar!
Ainda não repararam que tudo se alterou?
Trinta anos antes...
- Pai...
- Que é?
- Eu gostava de ter uma camisola...
- Uma camisola? para quê? não te chega essa que tens vestida? levas mas é uma galheta...
Uns dias depois...
- Mãe...
- Que é?
- Eu gostava de continuar a estudar...
- És parvo ou quê? os teus sete irmãos andam todos a trabalhar e tu ias estudar... vais mas é trabalhar que já tens bom corpo, que eu também não fui à escola e ainda não morri.
Trinta anos depois...
- Oh pai, gostas da minha camisola?
- Onde é que foste arranjar essa camisola do Benfica?
- Oh meu, integrei-me na Juventude XXIII e deram-me 3 petardos e esta camisola do Cardozo... os petardos mandei-os ao árbitro, mas a camisola não...
- Boa, vê lá se gamas uma para mim... pode ser do Leo, que eu sou assim pequenino como o gajo.
Uns dias depois...
- Oh velha, tens de ir à escola, porque a "stôra" de Francês quiz-me tirar o telemóvel na sala de aula quando tu me estavas a ligar, eu dei-lhe um encosto, "amandei-a" contra a parede e disse-lhe que tu ias lá resolver o problema...
- Ah sim, agora implicam com o teu telemóvel? amanhã vou lá dizer-lhe que o telemóvel é teu e está pago, que é para ela saber e se me começa a chatear ainda leva duas galhetas na tromba.
- Assim é que é, oh velha! olha, podes carrregar-me o telemóvel com mais 15 euros? é que ainda me pode calhar um mercedes...
Trinta anos depois...
(ainda não chegámos lá, mas vocês calculam, não?)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom. Até parece um sketch para Herman Jose. Se nós não soubessemos que este é o dia dia normal das escolas publicas portuguesas, poderiamos pensar que de facto se tratava de uma trági-comédia made in Portugal. Infelizmente os pais mais uma vez, culpados e vitimas ao mesmo tempo.
Culpados pela educaçao dos filhos, vitimas de todo o sitema social em que vivem que não permite que tenham mais tempo disponivel para dedicar aos filhos, em vez de necessitarem estar a trabalhar um dia inteiro para poderem ganhar mais dinheiro (e assim poderem oferecer telemoveis aos filhos) e consequentemente, quando ghegam a casa, ou já os filhos estão a dormir, ou estão tão saturados de todo o dia que nem podem ouvir sequer os filhotes a contar como passaram o dia.
O pior é que temos pelo menos duas gerações apanhadas nesta armadilha.