domingo, 17 de fevereiro de 2008

O PAÍS QUE TEMOS...

É interessante tentar perceber como a nossa "maquina" se constrói desde que nascemos, as brincadeiras, as palavras, os gestos, os afectos, o "lego" da personalidade, as tristezas e as alegrias... depois a sensação de que vamos mudar o mundo, o tempo que dá para tudo e mais alguma coisa, em que só pensamos no que nos falta fazer por nós e pelos outros, sempre receptivos a coisas novas e a participar sem condições no que nos dá prazer e gratifica.
Passados uns anos estabilizamos, começamos a ver que as coisas não são tão fáceis como esperávamos, que afinal aquelas mudanças que imaginávamos só se fizeram em áreas tecnológicas e as transformações sociais criaram-nos situações de desconforto que nos vão levando a um progressivo afastamento dos amigos e conhecidos, das associações e das instituições onde deveríamos cumprir o nosso papel, como cidadãos empenhados e participativos que nos prezamos ou deveríamos prezar ser.
E porquê esta azia que prepassa em tudo o que é jornal ou revista, mesa de café, passeio da avenida, repartição, empresa, ou sala de estar de qualquer casa? provavelmente porque as pessoas pensavam ter hoje um melhor nível de vida económica, cultural e social, passadas três décadas de democracia e vêem que não é bem assim, contrariando a minha própria perspectiva de que passados os anos próprios de uma geração, entraríamos no século XXI com boas perspectivas, especialmente no campo das condições sociais. Afinal...
Afinal o que é que falhou? talvez uma classe política decente, com sentido do dever, com atitudes próprias de quem deve dar o exemplo, talvez um sistema de ensino que premeie quem estuda e que dê todas as condições de estudo a quem merece, independentemente das suas condições sociais, talvez uma justiça que puna rigorosamente quem pratica actos ilegais contra pessoas e bens, desencorajando os criminosos através do pagamento em dobro dos prejuízos que causam, talvez uma educação que comece na família, se transmita ao longo da vida aos mais novos e seja um factor de reconhecimento social.
Afinal a liberdade de cada um só pode ser plena quando todos a interiorizarem e valorizarem tendo em conta os direitos e deveres próprios de uma vida em sociedade. Ah, mas então não se pode fumar, beber, namorar, viajar, comprar, vender, manifestar, escrever, jogar ou brincar para não colidir com o direito dos outros? o meu avô já dizia que tudo pode ser feito na vida, com conta peso e medida, porque se todos se portassem na perfeição esta vida era um tédio e não seriam necessários juízes, advogados, polícias, governos, instituições de apoio, sindicatos, fiscais da ASAE, eu sei lá que mais...
Mas a crónica de hoje era só para falar dos meninos da Academia Militar, que, conforme dizia a minha esposa, tinham de se levantar às 6.30 da manhã, coitadinhos e aprender aquelas coisas todas de marchar, correr e saltar, para além de fazerem a cama e ainda terem de estudar, "não achas um exagero, aos 10 anos? coitadinhos...".
Olhei a reportagem e vi os miúdos na parada a fazer continência, numa atitude de respeito, aos seus superiores hierárquicos, satisfeito por saber que os meus impostos ainda servem para que alguns jovens deste país adquiram hábitos que lhes vão ser úteis ao longo da sua vida, como a pontualidade, o esforço, o estudo, a auto-suficiência e o reconhecimento e respeito dos mais velhos
Contrariamente ao que acabei de escrever, observei esta semana, na manifestação dos alunos de música em frente à Assembleia da República, mostrada pela TV, que enquanto esses jovens tocavam e cantavam o Hino Nacional, os polícias nas escadarias estavam de mãos atrás das costas, pernas afastadas e um deles até se deu ao luxo de falar ao telemóvel, o que demonstra bem a falta que fez a esta gente uns meses na Academia Militar. É que quando eu andei na escola, sempre me disseram para respeitar a Bandeira e o Hino Nacional, havendo até um texto no livro de leitura que indicava ser obrigatório as forças de segurança fardadas guardarem respeito na posição de "sentido".
Sei que os tempos são outros, sim, mas quero crer que não são melhores.

2 comentários:

virginia disse...

Por favor crê que os tempos são melhortes... talvez as pessoas não tenham aprendido a sê-lo! Também lamento... mas como habitualmente leio o que escreves sempre me rio...(do verbo rir,clero!) e faz-me bem à saúde!

Anônimo disse...

talvez os que não estão na academia,lhes fizesse bem esta disciplina e este rigor. Não sou nada crontra , só lá está quem quer.