quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O RANKING

Mais um ano se passou e o "ranking" das escolas, elaborado em função das classificações dos alunos internos das escolas secundárias, nos exames nacionais do 12º ano, se não me deixa mal visto em relação à escola na qual sou profissional de ensino há duas décadas, também não me dá aso a expectativas de uma medalha no 10 de Junho, nem ao tal prémio de excelência que o colega de matemática do qual infelizmente não consigo recordar o nome ganhou o ano passado, por obra e graça de um concurso a mando da insofismável, incomensurável e inavalializável ministra ex-maoista Lurdes Rodrigues.
Então todos os anos por esta altura somos confrontados com o "ranking", que mistura alhos com bugalhos, baralha copas com paus, inventa classificações e hierarquiza-as, confunde uma classificação colectiva de uma escola com 1288 exames realizados (58º lugar), com um colégio onde se realizaram 72 exames (1º lugar)... quase me levando a imaginar uma vila com 1288 pessoas com um nível muito razoável de conhecimentos comparada com um condomínio fechado de 72 almas génias do conhecimento, rodeado por mais 1200 alminhas analfabetas dos bairros de lata envolvente.
Então os inteligentes do "ranking" não sabem que os meninos e meninas dos 25 colégios que se encontram entre as 30 primeiras escolas da classificação não sabem, dizia, que os pais pagam mensalidades de centenas de euros, sempre superiores a um salário mínimo com que vivem mais de 2 milhões de portugueses? não sabem também que se algum desses jovens se comportar menos bem, ou tiver fraco aproveitamento, os pais são convidados a retirar os filhos desses colégios e a mandá-los para uma das tais escolas públicas mal classificadas?
Parece que estes génios da ministerial pedagogia ainda não se aperceberam que existem milhares de jovens que vão para a escola pública de mãos nos bolsos sem uma esferográfica ou um simples caderno de apontamentos, porque não querem estudar, não querem nada do que a escola oferece e alguns até aproveitam para vender uns charros aos outros miúdos, quando têm bom corpo e idade para começar a aprender uma qualquer profissão?
Na minha infância, a maioria acabou a primária e sem sequer gozar um pouco da sua infância era enviada para onde lhes ensinassem uma profissão, muitas vezes trabalhando sem receber durante um ou dois anos, porque primeiro tinham de aprender e hoje vejo essa gente e não me parece que tenham ficado muito traumatizados, mas agora não se pode dizer ou fazer nada aos jovens porque vai contra o direito da criança, dos animais, da natureza, da quercus, do green peace, do... até que vejo no jornal um jovem de 15 anos que mandou um tiro na mãe, outro no tio e na família ninguém o quer em casa porque é um selvagem, dando-se até o cúmulo da GNR dizer que não pode fazer nada porque é menor...
Claro que não me passa pela cabeça que devessemos regressar e regredir a esses tempos que não ajudaram nada a desenvolver a massa crítica e todos os aspectos culturais da sociedade da época, até porque era a própria sociedade que se organizava em pilares quase fechados e não promovia a mobilidade social, mas a ideia de que o que é gratificante dá trabalho deixou de ser transmitida de pais para filhos e a maioria pensa que tudo é fácil de alcançar, sem esforço, sem dedicação, sem nada.
Valha-me a Academia de Música de Santa Cecília e os colégios todos em que temos de transformar este país da treta!

Um comentário:

Anônimo disse...

Sem comentários. Está o máximo muito bem escrito