sábado, 26 de julho de 2008

O PRÉMIO CAMÕES 2008


Há coisas interessantes na vida de cada um de nós e de alguma forma vamo-nos construindo com detalhes, o que nos dá uma enorme margem de manobra... é que são anos e anos de vida preenchidos de uma forma aleatória, ou nem por isso, que vão servindo para balizar um certo sentido de vida. Porque fazemos isto e não aquilo, porque gostamos destes e não daqueles, porque damos a uns e não damos a outros e porque alinhamos quase sempre com os mesmos e nem por isso com os demais, é naturalmente uma construção de personalidade que dificilmente mudamos... e ainda bem, acho eu.
Na escrita, na profissão, nas amizades, na família e até na política, é do senso comum que as coisas podem mudar, mas não convém que mudem muito e não convém nada que mudem muitas vezes, até pela confusão que isso provoca, o que não quer dizer que não se pode mudar pois até nós vamos mudando ou não seja eu um jovem de cabelo grisalho, quando há uns anos eles eram escuros e em maior número. Há sempre um amigo que me lembra que "só os burros não mudam", mas acredito que o tal substrato psicológico se mantém por quase toda a vida.
Tudo isto a propósito da notícia que ouvi hoje no rádio do carro, anunciando a atribuição do Prémio Camões 2008, o "Nobel da Literatura Portuguesa", ao escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, uma figura que tive o prazer de descobrir através dos seus livros numa livraria de São Paulo em 1999, ou seja, já no século passado. Passei as mãos pela "Casa dos Budas Ditosos" e percebi como um escritor pode descrever uma crónica com o dia e a noite de cada personagem... adorei.
Em Portugal quis repetir o cronista e escritor Ubaldo Ribeiro e nem sombra dele nas muitas livrarias que frequentei... até que fui dar um passeio com a minha filha à "Feira do Livro" de Lisboa, no passado mês de Maio e por lá andámos no meio da multidão olhando, mirando e remirando livros, procurando alguns autores conhecidos, até que na "Dom Quixote" demos com ele, sim, lá estava o nosso Ubaldo Ribeiro na prateleira a olhar para nós através do livro "Já Podeis da Pátria Filhos (e outras histórias)". Só pelo título de capa podem fazer uma pequena ideia do que está lá dentro, mas o nosso Ubaldo Ribeiro é mesmo assim, um escritor sem limites que eu gostaria ver reconhecido pelos leitores portugueses, até porque se conseguem ler o António Lobo Antunes até ao fim, concerteza vão gostar de ler o Ubaldo.
Achei estranho que há uns anos atrás o seu livro "Casa dos budas ditosos" fosse boicotado pelos hipermercados, em Portugal, com o argumento de que seria um livro pornográfico, talvez porque essa gente pensasse que o que faz em casa é erótico e sensual e o que se faz na casa do vizinho é pornográfico e marginal, mas adiante...
Acredito que talvez a vida fosse melhor vivida se João Ubaldo Ribeiro fosse porta-voz do governo socrático entre as publicações dos seus livros, porque tudo seria declarado e justificado com um sorriso irónico... até mesmo o aumento dos combustíveis.

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