domingo, 27 de julho de 2008

ANDA PACHECO!

É Domingo... "o que é que você vai fazer, Domingo à tarde"?, vejam lá o que me deu, veio-me à memória aquela canção do Nelson Ned e que há trinta e tal anos fazia parte daquelas máquinas de discos, as "Jungle Box", onde quem podia metia uma moeda de cinco coroas para o pessoal da esplanada disfrutar, acompanhados de uma CanadaDry ou uma Schweppes, que por não haver Coca-Colas e porque tinham uma denominação internacionalisada eram as bebidas preferidas da malta nova...
Almocei em casa de um amigo, comi um "ensopado de bacalhau" estupendo, misturado numas batatas cortadas em fatias e acompanhado de uns ovos de galinha pequenos, tão pequenos quanto aqueles que faziam parte das canjas de galinha da minha meninice, especialmente em dias de festa, pareceu-me até que comi hoje esses descalibrados e ilegais ovos porque a galinha era de campo e alguém lhe cortou o pescoço antes que viessem os inspectores da ASAE. De seguida atacámos a "galinha de cabidela", que estava deliciosa, bem como o vinho, a sobremesa, o café e o wisky.
O som ambiente ía aumentando a cada etapa da refeição e já foi com dificuldade que escutei os meus amigos e as suas experiências de vida... o António que se emocionou com as vítimas das minas anti-pessoais em Angola e que encontrou em recuperação nos hospitais de Coimbra, vindos da aldeia em que viveu e trabalhou até 74, o seu trabalho voluntário no Banco Alimentar contra a Fome e...
- Então quando é que te reformas?
- Quando é que me reformo? estás a brincar comigo... eu reformei-me aos 50 anos, pá!
- Aos 50 anos?
- Claro, cheguei aos cinquenta, tinha um amigo na Caixa que me disse como é que eu havia de fazer, pedi uma carta de despedimento ao patrão, declarei por minha honra que não conseguia acartar às costas os sacos de ração de 50 kgs, embora a empresa já utilizasse meios mecânicos, e fui dois anos para o desemprego... depois chamaram-me e disseram-me que me podia reformar, que já era velho para voltar a trabalhar, que já ninguém me dava emprego e que se me reformasse ainda ficava a receber mais que no desemprego... e aceitei. Já tinha 14 anos de descontos, mais uns poucos em Angola, mais o tempo militar, disseram logo que já chegava para uma reformazinha razoável. Claro que depois de reformado ainda voltei a trabalhar lá na empresa, mas o cacau era sem descontos, para não haver chatices e já ando nisto há quase vinte anos, mas agora deixei mesmo de bulir... é só uns porcos para criar e o tal trabalho voluntário no "banco alimentar", para além de ir à natação dos idosos, aos passeios dos idosos e às semanas de férias do INATEL, quase tudo de borla ou com subsídios do Estado, como convém... e tu, ainda não estás reformado?
- Eu...
- Ahhhh já deves estar, olha, aproveita enquanto tens possibilidade, porque qualquer dia estamos velhos e não nos apetece ir a lado nenhum...
- Eu ainda não estou reformado... só tenho trinta e seis anos de desconto... se fosse com a lei antiga já estava, mas agora não pode ser... para me reformar sem cortes na reforma tenho de trabalhar quarenta e cinco anos!!!!
- Estás lixado, pá! e qualquer dia ainda dizem que só nos podemos reformar aos 75 anos... estes gajos do governo são uns incompetentes, andaram a dar reformas a toda a gente e agora dizem que não chega, mas para eles chega sempre... malandros...
- Pois...
- É o que eu te digo, ainda hoje li no Diário de Notícias uma entrevista do Pacheco Pereira, que começou no PCP, foi preso pela PIDE diz ele, era clandestino e tinha pseudónimos (ou heterónimos?) como o Fernando Pessoa, depois veio o 25 de Abril e foi para o PCP-ML do camarada Eduíno Vilar com outro pseudónimo, andou por aí de barba e bigode nas "manifs" e caíu no PSD onde veio a encontrar a Zita Seabra, com quem tinha deixado de falar durante 30 anos. O homem até diz que não consegue entender essa coisa de ser de direita ou de esquerda... eles querem todos o mesmo, pouco trabalho e reforma ao fim de uns anos... malandragem...
- Pois...
- Mas não te preocupes, são só mais nove anos de trabalho... e isso passa num instante.
- Pois...

Nenhum comentário: