sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

REFORMAS...

Como tenho o hábito de ler jornais, acontece-me muito frequentemente ficar com alguma má disposição ou até mesmo muito má disposição, porque infelizmente a malta dos jornais tem o hábito de envolver as notícias de um dramatismo que em 99% dos casos não se justifica e até mesmo aqueles que não lêem os jornais, porque não querem ou não sabem ler, ficam com essa sensação ao olhar para o rosto esquisito dos habituais leitores.
Porquê noticiar um acidente na A45 quando dois milhões de automoveis andaram hoje na rua e não bateram em lado nenhum? porquê escrever que um jovem de 48 anos foi preso por assaltar uma agência bancária em Sernancelhe de Baixo, quando as outras 15 mil agências estiveram todo o santo dia a assaltar os clientes? porquê cronicar que as reformas estão numa situação de rotura dentro de algum tempo porque cada vez há mais reformados, quando todos sabemos que poderiam existir muitos mais se não tivessem morrido entretanto?
Bem, foi o tema das reformas que me trouxe aqui hoje, porque o "Correio da Manhã" noticiou de uma forma mais tenebrosa que o tsunami de Pukhet ou o sismo do Haiti, que o Estado paga mil e cem milhões de euros a mais em reformas, devido à corrida às reformas por parte desses malandros que, antes querem receber metade das reformas que trabalhar até aos 65 anos para receber aquilo a que afinal também teriam direito.
Li com uma atenção bem acima da média, para não ficar com a impressão que eles escreviam uma coisa e eu entendia outra, a opinião de uma eminência da democracia, o fervoroso benfiquista Bagão Felix, ex-ministro, ex-dirigente político, ex-ex-ex, que fez o diagnóstico da situação difícil da Segurança Social, porque segundo ele, as pessoas que morreram ganhavam pouco e agora os labregos que se estão a reformar, mesmo a receber pouco mais de metade do que tinham direito há 4 ou 5 anos atrás, ganham demais.
Pois é, há muita gente a reformar-se neste país e o Estado não tem dinheiro para tanta gente, não é oh amigo Felix? E a culpa não será da "pesada herança" de um tal Oliveira, professor de Economia em Coimbra que, depois de ter feito contas de somar e multiplicar provou que um trabalhador com 36 anos de descontos deveria ser reformado em função daquilo que descontou durante uma vida de trabalho, uma vez que os seus descontos deveriam ser aplicados pelo Estado, de uma forma séria em fundos reprodutivos, não esbanjados em subsídios, benefícios e apoios, nem em reformas para quem nunca descontou para elas ou reformas chorudas para quem descontou apenas 10 ou 15 anos e gozou na cara de pessoas que descontaram 40 e mais anos para receber verbas inferiores ao salário mínimo?
E o ex-ministro Bagão quantas reformas recebe? não sei, mas o seu amigo Cavaco Silva sei eu que recebe uma reforma como ex-Primeiro Ministro, outra como ex-professor universitário e uma outra como ex-quadro do Banco de Portugal, temendo eu que não fique por aqui, uma vez que mais uns anitos e lá chegará a casa o postal com a reforma como ex-Presidente da República... e olhe que essa das 3 (três) reformas veio nos jornais e não foi desmentida.
Então não há um "expert" de economia e finanças que proponha "um reformado-uma reforma"?
Não há, um que seja, que proponha um limite de, sei lá, 4.000 euros mensais (são quase 10 salários mínimos, não?). Não há ninguém que proponha a reforma para todos com um número de anos razoável que não envergonha quem paga nem quem recebe (40 anos de descontos para todos, por exemplo)?
Mas há um pormenor que todos os Bagões, Salgueiros, Vieiras da Silva e Teixeiras dos Santos não são capazes de dizer mas que qualquer pessoa esclarecida pode comprovar, como seja o facto de o Estado ter dificuldades em pagar as reformas porque o dinheiro que recebeu dos trabalhadores durante dezenas de anos foi esbanjado, desbaratado, aplicado até em off-shores que agora nem dão conta do dinheiro que receberam.
Tenho 38 anos de descontos, os impostos em dia, nunca recebi um qualquer apoio a fundo perdido, alcavalas ou outros do Estado, nunca fui julgado, nem sequer assisti a um julgamento, fui ao longo deste tempo muito poucas vezes ao médico de família e quanto menos vezes lá for melhor, daí... quero aquilo a que tenho direito!
Por fim, esquecem-se os entendidos que hoje por hoje, um trabalhador que tenha de descontar 40 anos para ter direito à reforma, com um curso superior acabado aos 25 anos, com contratos de 6 meses renováveis, com muito tempo de inactividade pelo meio, terá muita sorte se chegar vivo aos 70 anos e receber uma reforma que não o mate de fome em três meses.
Mas o que está a dar é noticiar nos jornais que há gente a mais a reformar-se... e não seria melhor exterminá-los?

2 comentários:

Anônimo disse...

nunca, em tão pouco espaço, se disse tanta verdade!...
os jornais não falam disso. Porquê?
A auto-censura já vai funcinando...
jls

Anônimo disse...

"" Então não há um "expert" de economia e finanças que proponha "um reformado-uma reforma"?
Não há, um que seja, que proponha um limite de, sei lá, 4.000 euros mensais (são quase 10 salários mínimos, não?). Não há ninguém que proponha a reforma para todos com um número de anos razoável que não envergonha quem paga nem quem recebe (40 anos de descontos para todos, por exemplo)? ""

e isto é o menos... um jogador de futebol marca um golo recebe 200 mil euros ou mais. e de ordenado por ano recebe milhoes de euros..

um médico salva vidas todas as horas e recebe 2 ou 3 mil euros por mês.
um mineiro, que é trabalho durissimo a altas temperaturas a muitos metros debaixo do chao recebe uns mil euros...

e outros vao para o governo, andam lá 10 anos a assinar papeis e a desviar dinheiro e ainda ficam com uma reforma brutal..


é assim o nosso portugal.


Daniel