quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

UM DIA A CASA VAI ABAIXO...

É verdade, todos temos a ideia de uma vida longa, muito longa, sem problemas físicos, sem grandes acidentes de percurso, onde vão milhares ou milhões de outros cidadãos que não nós... mas um dia a situação altera-se e apercebemo-nos que somos demasiado frágéis, demasiado negligentes e com um físico que não tem conta-corrente. Segundo os livros, um indivíduo que tenha uma prática fisica regular ao longo de muitos anos não acumula benefícios capazes de o manter a salvo de uma qualquer doença, até porque os efeitos do exercício físico se esbatem num período bastante curto de inactividade, talvez dois meses no máximo.
Só assim se compreende que Manoel de Oliveira tenha praticado atletismo até aos 20 anos e depois foi um "maratonista" da cadeira de realizador de cinema nos últimos 80 anos com menos barriga que o verdadeiro maratonista que foi Carlos Lopes.
Bem, o que acontece é que depois de uma passagem de ano ao relento numa praia bonita, de uma negligência em relação a sintomas perturbadores, como tosse, pieira bronquica, febre e muitas dores de cabeça, que me levaram a trabalhar até às cinco da tarde e a ser internado no hospital às seis, cheguei à conclusão que um dia a casa acaba por "vir abaixo" e depois tudo o que se pensava que era impossível acontecer-nos... aparece sem dar cavaco.
E uma semana internado no hospital até nem é tão mau como isso, com dezenas de telefonemas a lembrar-nos que ainda se lembram de nós, mais visitas que nos ajudam a passar aquelas intermináveis tardes, com enfermeiros(as) dedicados e competentes, auxiliares que fazem o que eu nem imaginava, médicos que além da sua tarefa ainda acabam servindo de apoio a todos os que por infortúnio nem sabem para onde se virar, com estagiárias minhas antigas alunas que se lembram logo do professor assim que me vêem... podem acreditar que essa treta das urgências funciona mal porque é gente a mais a querer ser atendida a dores imaginárias ou reais, mas eu tenho uma boa experiência do que é estar internado num hospital de uma média cidade, como é o caso de Torres Novas. Na urgência correu muito mal, estive oito horas à espera de um veredicto, mas assim que me colocaram em medicina interna, associei tudo aquilo a um hotelzinho de três estrelas, com refeições a horas certas (pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar e chá das onze), onde se pergunta ao doente o que deseja comer fora das duas refeições principais, onde é fornecido ao doente, caso não tenha, shampoo, pasta e escova de dentes, pijama lavado todos os dias, banho com apoio aos doentes mais limitados, medicação a horas certas, onde fazem a barba ou fornecem o material necessário, onde se fornecem via telefone todas as informações sobre os doentes, na impossibilidade de deslocação ao hospital, onde a limpeza é quase uma obsseção, onde o ar condicionado nos deixa na temperatura ideal dia e noite... onde pude verificar porque é que uma pneumonia se pode controlar e quase curar numa semana.
Vinte e sete anos depois de ter sido operado aos ouvidos em Santa Maria, onde a minha esposa tinha de levar talheres porque o hospital não os fornecia, o avanço é enorme, dando até para me surpreender que Portugal esteja em 27º lugar na classificação dos países com melhores cuidados de saúde... ou é porque olharam para o caos das urgência ou então nos outros países melhor classificados os doentes têm quarto particular, com um enfermeiro em cada cama a tempo inteiro e um computadorzinho em cada mesa de cabeceira.
Gostei bastante, mas espero voltar para outro internamento daqui a mais vinte sete anos... só porque espero que até lá as urgências funcionem melhor.

2 comentários:

Anônimo disse...

As melhoras.

Anônimo disse...

esquece lá isso!...por muita enfermeira a dar a comidinha na boca,...não há nada como a nossa caminha!