domingo, 26 de dezembro de 2010

A CHULICE

Estava eu sossegado a tentar ultrapassar esta ressaca do Natal, onde a troco da comemoração do nascimento de Jesus, me empanturrei sem querer, até porque eu tenho sempre o cuidado de dizer que não quero ou quero pouco... mas onde me é impossível dizer que não quero.
- Não queres? então estive todo o dia a fazer comida e agora dizes que não queres?
- Não é não querer...
- Ahhh, pensava que não querias... vá lá só mais um bocadinho...
- Desculpa, mas já não quero mais...
- Não digas isso, ainda o jantar vai a meio... ainda só comeste um bacalhauzinho... e este borrego, não gostas?
- Gosto, gosto, mas...
- Vá lá, só mais este bocadinho, que eu sei que gostas... e sobremesa? não me digas que não queres...
Bem, como devem ter calculado, não havia hipóteses de me safar e acabei de cear nesta fria noite de Natal já passava da uma da manhã, preparado para aguentar a azia do dia seguinte, o que felizmente não aconteceu, vá lá saber-se porquê.
Mas o essencial da crónica de hoje, em contraponto com o sentimento de dádiva e partilha que sempre acontece em cada natal e que poderia alargar-se a um novo conceito de "natal" a realizar uma vez por mês, o qual acabaria com tanta necessidade e desencadearia novos sentimentos misericordiosos, veio lembrar-me o Estado "chulo" que se instalou entre nós e que a cada dia nos estrangula com novos e impiedosos mecanismos, tudo isto a propósito de uma reportagem sobre uma bolsa instituída por um, apenas um dos 25 eurodeputados portugueses, que em conjunto com os "gatos fedorentos", atribuem todos os meses 3.000 euros (três mil) a jovens com projectos relevantes. Pois sabem o que acontece à bolsa desinteressadamente atribuída por estes beneméritos? os bolseiros desse dinheiro dado, ofertado, atribuído em função do mérito leva uma roedela do Estado, pois é devido o pagamento do "imposto de selo" a quem recebe a bolsazinha. É que já não basta este Estado miserável não dar nada a quem se esforça, estuda e trabalha, porque há necessidade de conceder subsídios a quem não se esforça, não estuda e não trabalha, mas sente necessidade de cobrar o tal "imposto de selo", nem se importando que mais vale sê-lo que parecê-lo.
Já há uns meses fiquei chocado pelo facto de os telefonemas de apoio à campanha "Ajudar a Madeira", no valor de 0,60€ levar a alcavala de 0,12€ de IVA, mas o Estado chulo não descansa e não nos deixa em descanso, o que me leva a perguntar se quem governa não sente um pouquinho de vergonha quando está a olhar para a televisão e lê no rodapé que todas as ofertas para deficientes, pobrezinhos, sem-abrigo, tuberculosos, cancerosos e demais cidadãos levam em cima a tal alcavala do IVA?
Gostava de saber se os carrinhos novos que são vendidos ao Estado pagam IVA, se o Estado faz seguros obrigatórios desses veículos (ouvi dizer que não fazem), se quando recebe os subsídios de Bruxelas tem de pagar IVA e a quem... e já agora gostava de saber se quem manda nisto sabe qual a diferença entre o governo e o Estado, ou não sabem?
Mas na verdade, eu já devia estar vacinado contra isto tudo e nem devia achar estranho... então não se lembram daquela história dos filhos pagarem imposto sobre os tais 500 eurinhos que os velhotes lhes dessem de vez em quando?

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