quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

PREOCUPAÇÃO

Lisboa, 24 fev (Lusa) - O secretário de Estado da Administração Pública apelou hoje ao "sentido de responsabilidade" dos sindicatos para evitarem que alguns funcionários públicos se precipitem no pedido de reformas antecipadas com fortes penalizações.

É verdade, o Governo está preocupado com os funcionários do Estado, porque na verdade está a constatar que muitos desses funcionários estão a tentar uma reformazinha que pode ser inferior em 50 ou 60% do seu vencimento actual, o que revela três coisas: ou os funcionários estavam a ganhar demais e mesmo com esse corte nas reformas continuam a ganhar bem, o que pode ser possível, mas não acredito, uma vez que a uma média de vencimentos de mil euros corresponderia uma média de aposentações de 400 ou 500 euros; ou o governo pensava que os seus funcionários não faziam nada e não se importavam de continuar mais uns anos sem fazer nada, o que esta corrida às reformas antecipadas contraria, porque só alguém muito estúpido deixaria de ganhar mil euros para não fazer nada e passaria a ganhar 500 para não fazer nada também; ou o governo está a verter lágrimas de crocodilo ao dizer-se preocupado, depois de ter alterado as condições de reforma várias vezes e agora já começa a ser várias vezes ao ano, o que de certa maneira se compreende, uma vez que de tão baixas que vão ser as reformas, dentro de algum tempo não há outra hipótese que não seja dar mais algum subsídio de manutenção de funções vitais para que os desgraçados que descontaram uma vida inteira se mantenham vivos.

O governo diz-se preocupado com os funcionários públicos que estão a antecipar a reforma, mesmo perdendo boa parte dessa reforma, mas não procura saber porquê, uma vez que é melhor vir com "cantos de sereia" para a comunicação social ou enterrar a cabeça na areia, como a avestruz, mas pelo que me é dado perceber e também por experiência própria, posso adiantar algumas razões, não todas porque não haveria espaço para tanto, mas para esses preocupados governantes as razões fundamentais estão à vista de toda a gente, querem ver?

1 - um funcionário público aceitou subscrever um contrato de trabalho com o Estado, que lhe conferia o direito a uma reforma sem descontos ao cabo de 36 anos de descontos;

2 - quando estava prestes a completar 36 anos de descontos, o governo não cumpre com as obrigações do Estado e diz que não pode ser, introduzindo alterações, obrigando as pessoas a trabalhar mais 5, 6, ou 7 anos para receber uma reforma que nunca pode ir além de 88% do salário, porque entretanto introduziu sabe-se lá onde, o "factor de sustentabilidade" que, qual rato, vai roendo a reforma a cada ano que passa;

3 - introduziu a penalização de 4,5% ao ano por um período de tempo que alterou a seu bel prazer para 6% ao ano de uma forma extemporânea, não dando tempo às pessoas de prever o seu tempo de trabalho e perspectivar a reforma;

4 - começa a "lançar a escada" para a comunicação social ir aventado a hipótese de aumento da idade de reforma dos 65 para os 67 anos, desmentindo logo de seguida, tal qual o presidente de um clube de futebol que vai dando todos os sinais de confiança ao treinador uma semana antes de o despedir;

Com este clima, em que os funcionários já desconfiam que "isto" só tem tendência a piorar e que, caso se mantenham a trabalhar mais uns anos o resultado é virem a receber ainda menos, o que queria este governo? é bem verdade, como dizia um cómico já desaparecido, que os funcionários públicos são doidos, mas não são malucos, como se uma coisa fosse diferente da outra e um governo preocupado consigo fosse um governo preocupado connosco.

Um comentário:

Anônimo disse...

verdades que cada português deveria ler...mas que não chegam aos órgãos de informação chamados de referência.
ASSIM, O MEXILHÃO CONTINUA DE CONCHA FECHADA.
Mas sempre será uma pedra dura em água mole...
jls