segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

P`RA QUE LADO É QUE ME VIRO, P`RA QUE LADO?

Há uma canção muito interessante, que creio ter sido cantada pelo Tim quando formou com outros bons músicos os "Rio Grande", em que perguntava cantando "pra que lado é que me viro, pra que lado?"... dando uma certa evidência ao desnorte de quem já não sabe tanto para que lado se deve virar, quando se deve virar e com quem se deve virar, uma vez que a vida é de facto composta de mudança e já dizia o Woody Allen que nada é eterno na vida e até a mulher loira e bonita a quem tinha prometido amor eterno se tinha transformado numa senhora completamente diferente...
É mesmo, tudo muda na vida, tão devagarinho, tão de leve, que nem o dia e a noite funcionam por interruptor, embora para nos enganarmos tenhamos que ir dizendo a quem não acredita, que faríamos tudo exactamente igual caso pudéssemos voltar atrás.
Tudo isto a propósito de um jornalista de direita, de seu nome Alberto Gonçalves, que costumo ler ao domingo no Diário de Notícias, o qual me faz imenso comichão quando leio "os dias contados", na medida em que um homem como eu, visceralmente de esquerda, socialmente de esquerda e democraticanmente de esquerda, sou levado a concordar com o amigo Alberto, com as suas crónicas, muito mais vezes do que a minha visão de esquerda poderia e deveria suportar... mas que querem, eu acabo de ler o homem e vejo-me a abanar a cabeça num movimento afirmativo que até me incomoda, ou melhor deveria incomodar, mas na verdade não incomoda coisa nenhuma. Incomodar mesmo, incomoda-me que professores de esquerda apoiem na Assembleia da República a avaliação da senhora ministra, apenas porque não querem perder o lugar político e não se importam de abanar a cauda para salvaguardar um tachinho no futuro, que isto de viver mal e de coluna vertical já foi chão que deu uvas.
A propósito, já vou nesta profissão há umas décadas e sempre me apercebi que todos os colegas professores que saíram da escola (onde nada se faz e se ganha demais, como diz o Miguel Sousa Tavares), para "ingressar" na política (Câmara Municipal, Direcções Regionais, Governo Civil, Assembleia da República e outros) nunca mais voltaram às salas de aula, o que se não é masoquismo é "bene trovato".
Mas dizia eu que todos os domingos sou levado a concordar com este jornalista de direita, o perspicaz Alberto Gonçalves, sem colocar em causa minimamente a minha visão de esquerda desalinhada, anti-vira-casacas, anti-pocilga, anti-quercus e pró-liberdade de pensamento, de palavra e de religião, seja esta qual fôr, desde que não me obrigue a deixar de comer e beber quando me apetece, a ajoelhar, deitar, rebolar ou fazer o pino voltado para o Bangladesh.
E dizia o Alberto Gonçalves, acho que o posso tratar assim, dizia ele que o choca um autarca da CDU dizer que vai deixar o PCP, ao fim de 35 anos de vida autárquica, porque é um partido retrógrado, estalinista, esclerosado... claro que a esclerose é evidente quando esta malta se aguenta 35 anos no mesmo sítio, ou será porque já não era mais o candidato em Sines e achou ser a altura ideal de sair? é que assim nem precisa de dar o dízimo da reforma para o partido, tal como aconteceu com tantos outros ao longo dos anos.
Lembra-me Freitas do Amaral que, para completar o tempo necessário para a reforma, foi deputado durante o verão, com o parlamento fechado, porque a necessidade de juntar essa reforma à de professor universitário e talvez à posteriori, à de ex-presidente da ONU, ex-ministro e o mais que alguma vez se saberá.
Ah, já me esquecia, eu sou de esquerda, não se esqueçam, mas admiro os israelitas como povo que planta e colhe laranjas no deserto em contraponto com aqueles que nem as ruas alcatroam, para terem pedras suficientes para a intifada.
Sim, sou de esquerda, mas nunca quis ter o cartão de nenhum partido político, para não fazer as figuras tristes de Vital Moreira, Zita Seabra, Freitas do Amaral, Augusto Santos Silva, Durão Barroso, Maria de Lurdes Rodrigues e alguns mais que agora não recordo, talvez por isso este jornalista, ou cronista, ou sociólogo Alberto Gonçalves homem da tal direita que se confunde com a minha esquerda, tenha mais coisas para me dizer... no jornal do próximo domingo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu também sou um leitor atento do homem, mas ao contrário de ti, de esquerda só a mão com que escrevo, apesar de já não perceber bem onde está a direita,...,deve estar atolada, como a esquerda, num qualquer outro freeport perto de si...

Miguel

vitorpt disse...

Acho que o Miguel apenas quer que eu escreva que também gosto das crónicas dele, apesar de ser de direita... malandro, ao fim de quase vinte anos a trabalhar com este gajo, só agora soube que ele era de direita... e eu a pensar que ele era canhoto...

virginia disse...

Curioso, hoje mesmo li a crónica do Alberto Gonçalves. no DN de domingo e dei por mim a pensar "este não vê nada de positivo!". Agora ao ler te entendi o que li há 34 anos... o esquerdismo e a direita têm demasiados pontos em comum.
Interessante... a reflexão que os dois me proporcionaram. Obrigada!