quarta-feira, 1 de agosto de 2012

FÉRIAS

Neste ano de 2012, já lá vão sete meses e apenas fiz uma crónica, o que demonstra bem a preguiça da escrita, pois falta de motivos foi coisa que nos últimos meses não tem acontecido, basta olhar os jornais que, diariamente nos oferecem histórias bem interessantes, sobre assuntos também interessantes de pessoas que eu acharia, à primeira vista apenas desinteressantes.
O facto mais palpável para esta preguicite aguda poderia resumir-se a tanta coisa, à crise, ao governo, ao trabalho, à certeza de escrever como catarse individual, mas não foi nada disso... apenas a assunpção de um novo estado, o de ter entrado de férias permanentes e ter alterado todos os meus planos de curto e médio prazo, que longo prazo é coisa que já não se usa.
Escrever é doloroso, já dizia Pessoa e ainda há uns dias na RTP Memória, Rómulo de Carvalho, o "pai" de António Gedeão dizia o mesmo, não é fácil jogar com as palavras e nada tem tempo marcado... a poesia começou para ele aos cinquenta anos de idade e mesmo assim ainda foi a tempo de me deixar disfrutar das 725 páginas da sua obra poética. E aí está sim, a razão mais que legítima de justificar este tempo de não fazer nada, de não querer saber de nada, de me deixar anestesiado perante situações que me fariam correr a escrever crónicas há um ou dois anos atrás.
As férias são boas sim, nos deixam num  estado diferente, relaxado, mais descontraído, mas se se prolongam no tempo, retraem, inibem, bloqueiam o suficiente para que tudo vá ficando para amanhã, tudo vá sendo adiado e se caímos nesse circulo fechado é difícil sair para novos e mais aliciantes desafios.
Outro pormenor importante são as "férias"  a que um milhão de pessoas foram forçadas pelas orientações neo-liberais do governo de Portugal, as quais se revelam a cada dia mais desastradas porque nada se alterou de significativo no deve-haver da comunidade, ficando as pessoas sem saber o que lucrou o país do esforço a que foram forçados todos os que ficaram sem dinheiro e os que ficaram sem trabalho, até porque muitos dos que fazem parte das elites nada sofreram com a tal crise e continuam a esbanjar dinheiro que nem é deles.
Mas o mais curioso é que ninguem percebe que a classe média é a unica que, porque é inteligente e pensa, vai-se adaptar muito rapidamente aos cortes a que foi sujeita e vai fazer  contas e tomar decisões, como por exemplo não comprar carro de 5 em 5 anos, mas comprar de 15 em 15, não comprar computadores, telemoveis e tvs enquanto os antigos não se estragarem, viajar mais económico, trocar as scuts e auto-estradas por estradas nacionais, enfim a classe que consome vai deixar de consumir e o Estado vai deixar de ter as receitas que precisa, com a agravante de as pessoas concluirem que muitos dos seus gastos nem se justificavam, como é por exemplo o meu caso, que não recebendo subsídio de férias, fiquei em casa e sinto-me tão bem ou melhor do que se andasse em albufeira a passear pelos mesmos sítios, a empurrar e a ser empurrado nas ruas estreitas durante uma semana a troco de uma pequena fortuna.
Será que quando voltarem os subsídios vou a correr gastá-los ou já me habituei a uma vida económica? acho que nada vai ser como antes.




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