sábado, 28 de abril de 2012

BALANÇO...

Ao fim de vários meses de interregno, entendi escrever esta crónica, muito embora o objetivo não seja conseguir chegar a conclusões que meia dúzia de meses não possibilitam, mas terei todo o tempo do mundo para confirmar, reformular ou contrariar os pontos de vista que agora transmito.
Viver no Brasil, em especial no Rio Grande do Norte, aqui bem perto da linha do Equador, onde o calor e o sol permanecem quase inalterados durante todo o ano, é assim tão diferente de viver em Portugal? Os parametros de observação são tão diferenciados, que se os analisasse com alguma profundidade que o tempo aqui vivido não permite, daria uma boa tese de mestrado e não é isso que pretendo, apenas porque sou das ciencias da motricidade e não abarco alguns conhecimentos necessários a uma crónica mais elaborada.
Então, indo pelo caminho mais fácil, vou tentar comparar o incomparável, vou dizer o óbvio quando afirmo que o Brasil é uma sociedade mais aberta tanto quanto o permitem as pessoas, as circunstancias e o contexto, porque a alegria do carnaval não se transmite aos passageiros de onibus encurralados entre o midway e o natal shopping...
O Brasil é um continente e comparar um gigante com um pequeno país como Portugal é um abuso que me permito fazer sem que me leve muito a sério e sem que alguem possa comprovar ou reprovar o que me vem à cabeça, apenas a transmissão de sensações, o calor que eu gosto, o sol, a água do mar, quente para os padrões europeus e atlânticos, a música em quase todos os bares, as letras de centenas de canções que homens e mulheres cantam em conjunto, o forró, as vaquejadas, as festas por qualquer motivo e em qualquer lado, os amigos, os conhecidos, os amigos dos amigos, o churrasco, as espetadas, o camarão, a quentinha, o pirão, o restaurante caro e o barato, o trabalho desqualificado que anda na rua compra, vende, arruma, lava e guarda carros, mete combustivel nas bombas, arruma as compras de hipermercado nos sacos do cliente (dois funcionários em cada caixa, sim), vende tudo na praia e só não vende a praia porque não calha, faz do Brasil um país com 6% de desempregados, o que me leva a pensar que com todos estes postos de trabalho também não havia desemprego na Europa.
Santa Rita onde vivo, é um bairro suburbano, dos muitos de Natal, a capital do Rio Grande do Norte e só tem uma rua asfaltada, a principal, porque tudo o resto é terra batida, os contentores do lixo ainda não existem e cada casa tem uma loja, um bar, um restaurante de onde a ASAE não ia sair viva se lá entrasse, mas o ambiente fervilha mal o sol aparece as 6 da manhã, onde tudo parece faltar e tudo vai acontecer em cada dia porque todos parecem ter um papel importante a desempenhar.
Vive-se bem? e o que é viver bem no Brasil ou em qualquer país do mundo? hoje é sexta feira, a festa já começou em cada esquina, em cada bairro, em cada discoteca, as pessoas estão na rua para festejar mais um fim de semana, a cerveja vai beber-se gelada até o sol nascer, tanto na desvalorizada zona norte como na prestigiada zona sul de ponta negra, porque o brasileiro quer viver a vida, gosta de musica, de dançar, beber, conversar, divertir-se e tem com ele a vantagem das noites quentes durante todo o ano...
O Brasil não quer saber de crise, que as que teve já lhe chegaram e tenta ser um país atrativo, moderno, avançado, também à custa do empenho, mas convém lembrar que ainda falta muito para que todos se possam sentir confortáveis social e economicamente.
Portugal é diferente? claro que sim, é uma sociedade mais fechada, onde em dez meses por ano se fecha em casa, pelo frio e pelas dificuldades para manter a qualidade de vida a que se habituou, a casa, o carro, os filhos na universidade, as férias de verão.
É um país europeu sim, com quase mil anos de história e de construção de património que lhe dá uma imagem de país desenvolvido que não podemos subestimar, onde quase 100% do país tem saneamento básico, onde os contentores de lixo em cada rua de cada aldeia são uma coisa natural, onde se bebe água da torneira sem medo de adoecer, onde os passeios calcetados e as ruas asfaltadas são uma realidade e as de terra batida uma raridade, mas com uma população fechada e quase depressiva que até tem vergonha de cantar os "parabens a vc!".

O Brasil tem moteis aos milhares e Portugal compensa essa falta com repartições de finanças... o objectivo é o mesmo, mas no Brasil dá mais prazer!

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