segunda-feira, 3 de maio de 2010

A CRISE...

A crise é efectivamente uma fase da vida em sociedade sem a qual não podemos passar e de onde nunca deveríamos ter saído, na medida em que se nunca tivessemos saído dela, lidaríamos hoje muito melhor com o problema, porque tudo na vida é feito de uma certa habituação, ou seja, pensar dormir debaixo da ponte causa-me insónias, mas dormir lá ao fim de seis meses é tão natural como receber milhões numa qualquer administração de empresas públicas em Portugal.
Estava eu num grupo de eternos pensadores, rodeado de um espumante e uns camarões tigres fritos, quando me informam que a crise está para durar, ao contrário dos camarões que estavam para acabar em pouco tempo, não fosse de vez em quando uma chupadela de dedos e umas reflexões em grupo, bem reduzido aliás, que nenhum queria tirar os olhos do petisco e as frases bem convincentes não tinham mais de três palavras e eram aceites com uma simples flexão de cabeça por cada bicharoco comido.
A crise tem sempre várias nuances, como tenho tido oportunidade de ouvir em variadíssimos debates nos vários canais de tv, até porque segundo dizem, é nos momentos de crise que se abrem "janelas de oportunidade", que não entendo muito bem na profundidade da explicação, mas que deve ser assim mesmo, porque de economia e finanças percebo muito pouco, ao ponto de acreditar como Medina Carreira que qualquer dona de casa geria o país bem melhor que todos os engenheiros da universidade independente juntos.
Mas na verdade estou a ficar preocupado com a crise, até porque precisei de uns trabalhos eléctricos lá em casa e tive de esperar quatro meses pelos electricistas, também eles tão preocupados com a crise que não queriam vir... mas agora, dessa já estou descansado, muito embora o tal trabalho que pedi a um amigo serralheiro para me fazer nos portões há seis meses... ainda não foi feito, porque a crise tanto dá para não ter trabalho, como para ter meia dúzia de meses de trabalho atrasado, não tanto pela preguiça, mas na realidade porque não se consegue dar vazão a tanta solicitação.
Antigamente falava-se de crise quando não havia nada nas prateleiras, quando eu quis comprar um carro novo, como diz a canção do "Falâncio", quando não havia batatas para comprar, quando havia filas intermináveis nas bombas de gasolina, quando o subsídio de Natal foi pago em "certificados de aforro", a única poupança que consegui fazer e me rendeu algum juro seis meses depois, quando já professor andei oito anos de motorizada, quando já casado fiz férias onze anos seguidos em casa dos meus pais, mas agora continua a crise sim senhor, mas podemos passear no shopping toda a tarde, num ambiente climatizado, sem nos cobrarem um chavo, podemos inscrever-nos nas férias de praia patrocinadas pela autarquia, sem pagar nada, podemos assistir a muitos espectáculos e festas à borlix, podemos sacar uns subsídios se soubermos como as coisas se fazem, enfim... sim, sim, eu sei que devemos muito dinheiro ao estrangeiro e que não sabemos bem se algum dia vamos pagar tudo, mas já ouvi dizer que todos devem a todos, que não há nenhum país que não deva... e afinal todos tememos apenas que algum dia nos deixem de emprestar, porque já o meu avô dizia que "quem não deve não teme".

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