sábado, 15 de novembro de 2008

MINISTERIAL AVALIAÇÃO

Ao longo dos anos tenho que reconhecer que não tenho muita legitimidade política para em letra de forma criticar os políticos, as políticas e tudo o mais que nos envolve, cultura afinal, porque é a cultura uma miscelânia de parâmetros que definem os povos e as nações, desde os regimes, as religiões, as raças (se é que existem), o género, sendo que até o desporto o é, não sendo... ou então essas frases que eu encontro nas carrinhas e autocarros desportivos ("ao serviço da cultura e desporto") estão erradas...
Dizia eu que ao longo dos anos as pessoas vão modificando a sua visão da vida e das coisas da vida, de tal maneira que umas vezes vêem tudo com enorme claridade e algum tempo depois está tudo turvo e nalguns casos chegam à cegueira total, o que me leva a olhar este e outros governantes como fotocópias cada vez menos legíveis do original que já não era grande coisa... e ao lembrar, por exemplo, a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, chamo a atenção de um tal Sottomayor Cardia, ex-ministro da Educação nos anos 70, que tão mau como esta ministra, batia mal da bola e devia ter as lentes tipo "garrafa" desfocadas ou sujas, de tal maneira que uns anos mais tarde ainda queria ser Presidente da República, coitado.
Pois o tal Sottomayor, com dois tt, lembrou-se que havia mais de 20.000 professores sem habilitação própria e decidiu que não podiam estar no ensino, muito embora alguns deles fossem professores com dez, quinze ou vinte anos de serviço... esquecendo-se que só estavam nas escolas porque não havia pessoal habilitado, o que se comprovou com o concurso imediato que, por não haver professores habilitados em número suficiente, preencheu milhares de vagas com outros docentes sem habilitação. Fantástico este Cardia!
Hoje é a Educação, nas mãos da mesma família política, o principal alvo já não com a proposta de correr com essa maralha docente das escolas por falta de habilitação, mas por falta da avaliação que eles acham a "melhor do mundo"... só ainda não se lembraram de dizer que está conforme as directivas da União Europeia e dos acordos de Bolonha, pelo que o governo nem pode fazer nada, foram ordens de Bruxelas...
Ainda há dois anos criaram um PAM (Plano de Apoio à Matemática) que se iniciou no 7º ano de escolaridade e este ano já vai no 9º ano, mas uma vez que nos exames nacionais do ensino secundário do ano passado as médias subiram, vieram logo uns acólitos do ME dizer que já se notava o êxito da aplicação do PAM...
Claro que, a par da introdução de regras de assiduidade mais restritas aos professores, que condicionam sobremaneira a sua avaliação final e que obriga muitos deles a ir trabalhar doentes, é lógico que no final do ano o aproveitamento pode melhorar, até porque na generalidade das escolas já nem são necessárias aulas de substituição... mas é bom não esquecer que tudo isso acontece porque os professores estão a ser sujeitos a um trabalho que mais cedo ou mais tarde vai trazer problemas à classe e às escolas no seu conjunto.
Estranho até que a classe docente seja tão privilegiada em Portugal ("uns inúteis, bem pagos e que nada fazem", como afirmou Miguel Sousa Tavares) que, milhares de professores, quando saem das escolas para as autarquias, funções dirigentes, governo e apêndices, nunca mais voltam à escola onde se ganha bem e nada se faz... são todos missionários, não é?
Quando há uns anos quiseram dividir a carreira docente, com uma prova pública de avaliação para quem quisesse subir do 7º para o 8º escalão (ECD de 1989), o ministério acabou com essa treta, não porque achasse que os professores tinham razão, mas porque chegaram à conclusão de que não havia avaliadores-inspectores para tanta avaliação. Agora não caíram no mesmo erro da avaliação externa e ainda fizeram o espectáculo da avaliação dos "pares"... e mesmo assim não querem que os colegas façam a vossa avaliação? "malandros, vocês não querem é avaliação nenhuma!" Sócrates dixit.
Por fim, assistimos às tristes declarações de responsáveis políticos tentando "colar" os professores às gemadas dos alunos... perdoai-lhes Senhor que eles não sabem contar até 120.000!

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