terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A VERGONHA

A vergonha é um sentimento lixado, pá... a malta anda aborrecida com tudo isto porque anda com vergonha de se manifestar, anda por aí com vontade de dizer quais são os seus objectivos de vida, que todos querem, que todos gostam, que todo o mundo sonha, mas... esta maldita inibição, aquela história da "raposa e as uvas" que nos traumatizou na infância, com a tal moral de que "estão verdes, não prestam" quando afinal estão maduras e só não as trincamos porque não lhe conseguimos chegar, nos acompanha pela vida fora, dá cabo da vontade de afirmar o que queremos. Ainda por cima, tudo isso se mistura com um outro sentimento horrível que é a inveja, até porque, reconheçamos com um extremoso senso de auto-crítica que somos efectivamente invejosos e costumamos sentir-nos bem no meio da multidão para que as culpas não nos sejam apontadas.
Tudo isto a propósito de umas crónicas de jornal, entrevistas e programas de tv, que apontam a crise como qualquer coisa de terrível que nos vai cair sobre a cabeça a qualquer momento... há dias até pensei que o Rodrigues dos Santos ia fazer a contagem decrescente para a recessão... dizia o homem que se ainda não tínhamos entrado em recessão, ela estava mesmo a chegar, porque a UE dizia que era este ano ainda e o ministro das finanças dizia que em 2008 não, mas em 2009 talvez, o que a 15 dias do final do ano... mas já agora que venha a recessão no dia 2 de Janeiro, porque senão até o espumante ainda azeda.
Mas o mais interessante é que no dia da tal treta da recessão, as notícias eram a queda do barril de petróleo dos 147 para os 40 euros, a descida da taxa euribor dos 5,25% para os 3% ou menos e a descida para menos de metade dos cereais, o que desafogando as empresas com os custos de transporte, a indústria panificadora com o preço do pão e as prestações de renda de casa, só não nos fazia chorar a rir porque nos lembravamos do tal jornalista e da sua cara preocupadíssima.
Então mas os preços baixam e a recessão vêm aí? na verdade eu de economia não percebo nada, até porque cada vez tenho mais dificuldade para estacionar o carro no shoping por esta altura do Natal, não que eu não saiba que o povo está cada vez com mais dificuldades, mas as famílias não desperdiçam uma tarde com montras, escadas rolantes e ar condicionado grátis...
Agora falando de inveja... eu estava com medo de falar disto, mas já me desinibi o suficiente e não iria acabar com a crónica sem molhar a sopa. Este povo maquiavélico desancou nos deputados da nação porque estes muito inteligentemente acharam por bem não ir ao trabalho na sexta-feira, aproveitando até um deputado oposicionista por propor que não se fizessem votações nesse dia porque já estava enraizado o hábito da "sexta-feira santa" na Assembleia da República.
Perante isto, o que fizeram as más línguas? ofenderam os representantes da nação, chamando-lhes até preguiçosos, desperdiçando a oportunidade histórica de os aplaudir pela ideia e de lhes propor que decretassem a sexta-feira como terceiro dia de descanso semanal, coisa que, estou convencido, só iria dinamizar a economia do país, reduzir alguns custos insuportáveis, como os combustíveis (ainda não repararam que ao fim de semana há menos carros nas estradas?), aumentando de duas para três as entusiásticas e lucrativas actividades de ocupação de tempos livres que os nossos jovens sempre inventam e também o número de autuações por excesso de alcoool e droga, com o subsequente aumento das receitas de Estado.
Mas na verdade ninguém quer resolver a crise, até porque de fartura como esta, a malta habitua-se, porque para passar fome, já basta a normalidade democrática do Zimbabué.

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