sábado, 27 de agosto de 2011

O QUE É UM RICO?



Nos últimos dias tenho lido alguns artigos de opinião sobre a possibilidade de serem taxados os rendimentos de algumas pessoas, talvez 1% da população portuguesa, ou seja, uns insignificantes, salvo seja, cem mil portugueses que já não conseguem gastar aquilo que amealharam, mesmo que para isso tirassem férias todos os meses, fossem para hotéis de cinco estrelas ou tivessem a mania de ir ao casino de vez em quando.
Na verdade, é gente que através dos mais variados meios, lícitos ou ilícitos, conseguiram acumular riqueza suficiente para si, para os que lhes são mais próximos e para mais duas ou três gerações, cumprindo sempre a lei, ora colocando capital em off-shores, ora pagando um pouco menos que o legítimo aos seus milhares de funcionários, mesmo que para isso se escudem em salários legais e de miséria.
Ferreira Fernandes (FF) é um jornalista que gosto de ler, que diz o que sente, alicerçado num passado que teve muito de vontade própria e que o fez descobrir a realidade, construindo uma argamassa cultural capaz de o fazer ver um pouco mais profundo que a massa ululante, armada ou não, que se vê em Madrid, Lisboa, Tunis, Tripoli ou Londres.
Terminava FF com uma questão tão simples como "o que é ser rico"? e lembrei esses Buffen`s, Gates, Amorins, Azevedos, capazes de fazer parte das listas dos "500 mais ricos" em contraponto com os Silvas, Santos, Sousas, listados nos "500 milhões mais pobres". Ricos e pobres, porquê e como, ainda ninguém me conseguiu esclarecer, porque também eu sou um complicado da silva, um daqueles que gostava que lhe dissessem porque o Gates é mais rico que eu, goza a vida melhor que eu, sorri mais que eu, lê mais que eu, ouve música mais e melhor que eu, conversa com os amigos mais e melhor que eu, recebe telefonemas do pessoal dos "copos" mais e melhor que eu, vê uns filmes mais e melhor que eu, anda na rua sem problemas mais e melhor que eu... humm será que pode andar na rua como eu, deixar o carro em casa e ir ao clube de bicicleta como eu faço? beber café, navegar na net, sentar no banco da praça ao fim da tarde e beber uma cerveja com os amigos, ver um jogo na sporttv, ir à praia tomar um banho de sol incógnito e sem seguranças?
Já vi algumas pessoas com tanto e sem nada, que até me surpreendo quando vejo pessoas sem nada e... com tudo, seja esse nada e esse tudo, tudo aquilo que cada um de nós queira, não esquecendo, por exemplo da minha amiga São a largar umas férias com os filhos, num qualquer resort do Algarve e a partir para Nacuxa, no norte de Moçambique, uma terra sem nada, onde crianças sem nada de nada, lutam pela sobrevivência, dão valor a um sorriso, um afago, e recolhem do chão um bago de arroz que tenha caído do prato. Crianças que não tiveram culpa de ter nascido, que se sentam no chão de terra, em silêncio e com a máxima atenção, para aprender a escrever e falar a língua portuguesa, essa sim, a nossa riqueza.
Miséria? sim, também existe! quando um "corticeiro", que tem rendimentos de cinco mil euros por dia, contando sábados, domingos e feriados, tem a desfaçatez de dizer que é apenas "trabalhador", como qualquer trabalhador das suas empresas, que ganha num ano o que ele ganha num dia.
Ser rico ou pobre é uma questão de atitude, como por exemplo, quando a riqueza do povo timorense se resumiu à afirmação da sua indepedência, quando Luther King lutava contra a discriminação racial, quando Gandhi se afirmava contra o colonialismo e a violência.
Pobreza é pensar que o dinheiro pode resolver tudo na vida, que vale tudo para o ter em abundância, que não ter dinheiro, não ter roupa de marca, que não ter carro de gama alta é perder a dignidade, como a sociedade actual pretende fazer crer.
Ser pobre é ir para a escola e não querer estudar, ir para o emprego e nao querer trabalhar, fazer filhos e não os educar. Ser rico? é querer aprender, é não ter emprego e procurá-lo é sentir que não está sozinho.
Entretanto, espero que os ricos fiquem menos ricos e os pobres menos pobres! parece que há disso no norte da Europa...

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