segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O MEU VOTO

Vêm-me à memória coisas interessantes sobre eleições... um dia, ou melhor, um princípio de noite de um dia que não sei precisar do ano de 1969, vinha eu a sair da escola industrial quando vejo uma carrinha de uma empresa onde o meu pai trabalhava e que se situava na estrada de Tornada, em Caldas da Rainha, cheia que nem um ovo, a transportar pessoal para um comício da oposição democrática, o qual se iria realizar no cine-teatro Pinheiro Chagas, na outrora inconfundível "praça do peixe". Ao volante ía o meu pai, que eu nunca tinha associado a qualquer tipo de oposição a não ser ao seu Benfica que... também nesse tempo não tinha oposição e talvez por isso era associado ao regime, uma vez que todos os que ganham são normalmente associados ao regime.
No final das eleições o meu pai teve o cuidado de me chamar para me dizer que eu nunca o tinha visto a conduzir carrinhas do Bento, acho que era assim que se chamava a tal empresa da estrada de Tornada, o que eu entendi perfeitamente.
Entretanto o tempo passou e em 1973, já professor, recebi no café "Facho" o envelope com a lista da Acção Nacional Popular, para ir votar, porque os funcionários públicos tinham o privilégio de receber pessoalmente a lista do regime... perguntei em voz alta o que era e para que servia ir votar se ganhavam sempre os mesmos, o que me valeu uma pública reprimenda de um apaniguado, já falecido e que afinal até era boa pessoa.
Conta-se até que o pai dessa pessoa tinha sido sempre um fervoroso opositor ao regime, dando aos seus filhos nomes de figuras gradas do regime soviético, o que decerto lhe trouxe alguns problemas.
Logo apareceu o "25 de Abril", a tal alvorada de liberdade, desenvolvimento económico, social e cultural, que nos deu excelentes políticos, excelentes banqueiros, excelentes economistas e muitos outros excelentes intérpretes que levaram o país a níveis tais de desenvolvimento que, ouvi há dias, só a Venezuela e a Somália estão piores que nós, aventando-se a hipótese de Timor-Leste nos emprestar dinheiro para pagarmos a quem devemos.
Pois nos últimos 37 anos, depois de tanta cruzinha nos boletins de voto, depois de milhares de toneladas de papelinhos, cartazes, prospetos, confetis, discursos, palestras e jantares de apoio e desagravo, aí temos mais umas eleições presidenciais onde o presidente quer ficar mais uns anos e não fica o resto da vida porque a Constituição não deixa, onde outros candidatos se candidatam para tentar preencher o seu ego e o dos companheiros, camaradas e amigos e onde de vez em quando aparece um candidato tipo "mosca", capaz de chatear o poder instalado.
Agora aparece um candidato como Fernando Nobre, que não recebe do Estado, não faz parte de nenhuma parceria público-privada, não tem amigos na SLN, não faz parte do mundo do futebol, não tem revistas nem jornais e cúmulo dos cúmulos, arranjou uma ONG que trata de vítimas de conflitos, guerras ou acidentes naturais, vive de donativos de pessoas e instituições privadas. Depois, a cada ano tem a coragem de apresentar contas, o que num país como Portugal, se não dá prisão... devia dar.
Mas eu conheço minimamente o povo a que pertenço e sei que Nobre vai ser um fracasso, porque quando escolhe, o povo escolhe e identifica-se com algo ou alguém que lhe diga "eu fiz isto e vc pode ser como eu"... agora digam-me, quem não quer receber três boas reformas, mesmo com a mulher a receber uma quarta reforma de apenas dois salários mínimos? e quem não quer ser deputado e poeta? e deputado nacional? e deputado regional?
Agora fazer cirurgias gratuitas, dar umas refeições a quem tem fome, fazer peditórios, arranjar um abrigo para quem não tem nada, moralizar a sociedade... vc quer?
Votar é, concerteza, um acto nobre! eu também acho.

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